Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Queria começar com a gravata perdida do ministro que passou revista aos militares, mas tropecei nesta outra modalidade de descontração. António Costa contrata amigo a preço simbólico? Se isto não configura tráfico de influências, favorecimento e dumping, Sócrates também não é amigo de Dilma. Portugal continua igual a si: o país das amizades, das borlas, dos favores, do fico a dever-te qualquer coisa, do depois acertamos contas. Enfim, a falência ética em todo o seu esplendor de quem não pode merecer o respeito do povo de Portugal. Quanto à gravata e o nó que deixa na garganta. Estamos a falar da instituição que assegura a defesa de um país. Estamos a falar das forças armadas que alicerçam a sua escola na disciplina, no rigor e nas hierarquias de comando. Estamos a falar num código de conduta que corresponde a uma tradição que não pode ser enxovalhada. O exemplo do chefe deve ser descartado sem demoras. Mina uma gama alargada de princípios que orienta a instituição militar. A gravata, assim como o contrato que Costa firmou com o seu melhor amigo, devem ser do género pro bono. De graça, sem ter piada alguma. Mas por alguma razão estamos a registar cada vez mais deserções. As chefias militares estão abandonar a geringonça. E não tarda muito, quando as ilusões caírem por terra, a Catarina Martins também abandonará o cangalho. O que julgam que significou a viagem de 24 horas de António Costa à Grécia para posar com Alexis Tsipras? Foi precisamente para defender o interesse nacional. O interesse nacional dos acordos com o BE e PCP atados com cordel feito num desenlace que ainda vai engravatar todos os portugueses.
Antes que António Costa, Catarina Martins ou qualquer outro oportunista aproveite o desfecho das eleições na Grécia, e a "re-eleição" de Alexis Tsipras, para tecer considerações de ordem revanchista-revolucionária, convém lembrar o seguinte; qualquer que seja o governo que se venha a formar naquele país, mais de 60 medidas prévias à recepção de dinheiros do terceiro bailout devem ser aprovadas e implementadas, um vasto conjunto de privatizações deve ser realizado e a pressão da Troika manter-se-á para efectivamente controlar os mesmos. Quem ganhou as eleições foram os credores da Grécia e não o cidadão ateniense ou os residentes da ilha de Lesbos. Para complicar ainda mais a equação, a crise de refugiados (ou migrantes, conforme a etiqueta de correcção política) será mais um factor de desequilíbrio. Veremos até que ponto um governo de inspiração maoista (com possíveis laivos de Direita-extrema à mistura) resiste à tentação Orbaniana de instituir um regime de protecção reforçada dos interesses dos seus nacionais, levantando barricadas para deter forasteiros. São externalidades desta natureza que podem alterar o rumo dos acontecimentos. Portugal, que se encontra nos antípodas geográficos da Europa, alegadamente não corre o risco de ser atropelado por um influxo maciço de gentes fugidas de regimes persecutórios. Mas não é bem assim e convém lembrar que todas as hipóteses devem ser consideradas. Por exemplo, um avanço notável do ISIS (Estado Islâmico) no Norte de África, com uma eventual queda de regime em Marrocos que transformaria Algeciras e o Algarve em pontos de desembarque de refugiados. São noções desta amplitude que devem fazer parte da visão de estadistas, mas com tanta conversa sobre reposição de pensões e inviabilizações de Orçamentos de Estado, poderemos ficar à mercê das políticas de taberneiros que apenas cuidam do seu quintal. Os tempos não são para facilidades e demagogia barata, embora a tentação seja grande.
Queiram-me desculpar por bater na mesma tecla, mas é o futuro deste país que está em causa e não nos podemos deixar levar por balelas demagógica-eleitoralistas. Por outras palavras; António Costa sofre de Tsprite - a patologia das promessas que não podem ser cumpridas. O lider do Ministério do Socialismo deveria sintonizar a sua telefonia e escutar o que se passa no tira-teimas que opõe a Grécia à Alemanha. Dia 11 de Maio é quando elas apertam e Tsipras terá de voltar atrás na palavra dada aos gregos de um modo tão leviano. Ou seja, o financiamento da bancarrota da Grécia depende da implementação de reformas naquele país. Mais nada. Acabou a conversa. Ora se o contador de histórias do largo do Rato for eleito CEO de Portugal, será confrontado com o falso dilema que aflige os gregos. Já repeti vezes sem conta que não convém nada mentir aos eleitores - eles ficam raivosos e por diversas legislaturas. A não ser que Costa seja o Che Guevara da Europa. O inspirador de marginais que queimam todas as regras que definem a ordem da União Europeia. Nesse caso falamos de uma revolução, coisa que os socialistas dizem ter inventado e, em consequência de tal estado de arte, são detentores dos inalienáveis direitos de autor. Aquela conversa "de quem é a culpa e das reparações de guerra" serviu apenas para consumo propagandista interno da Grécia - as reformas não tardam nada. Não sei que lenga-lenga podem os socialistas portugueses agarrar para açicatar os desejos revanchistas que roçam os territórios de nacionalismo. E convém não esquecer o seguinte: quando os argumentos económicos da recuperação portuguesa deitarem por terra o "restelismo" socialista, assente na penúria e na exaustão de meios, vislumbro que outras armas de arremesso sejam recrutadas. Por isso é que o socialismo facilmente pode descambar para oportunas teatralizações, encenações com laivos de nacionalismo bacoco. Não sei o que fazer ao Sr. Costa enquanto chega ou não chega o Sr. Euclides.