Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Queria começar com a gravata perdida do ministro que passou revista aos militares, mas tropecei nesta outra modalidade de descontração. António Costa contrata amigo a preço simbólico? Se isto não configura tráfico de influências, favorecimento e dumping, Sócrates também não é amigo de Dilma. Portugal continua igual a si: o país das amizades, das borlas, dos favores, do fico a dever-te qualquer coisa, do depois acertamos contas. Enfim, a falência ética em todo o seu esplendor de quem não pode merecer o respeito do povo de Portugal. Quanto à gravata e o nó que deixa na garganta. Estamos a falar da instituição que assegura a defesa de um país. Estamos a falar das forças armadas que alicerçam a sua escola na disciplina, no rigor e nas hierarquias de comando. Estamos a falar num código de conduta que corresponde a uma tradição que não pode ser enxovalhada. O exemplo do chefe deve ser descartado sem demoras. Mina uma gama alargada de princípios que orienta a instituição militar. A gravata, assim como o contrato que Costa firmou com o seu melhor amigo, devem ser do género pro bono. De graça, sem ter piada alguma. Mas por alguma razão estamos a registar cada vez mais deserções. As chefias militares estão abandonar a geringonça. E não tarda muito, quando as ilusões caírem por terra, a Catarina Martins também abandonará o cangalho. O que julgam que significou a viagem de 24 horas de António Costa à Grécia para posar com Alexis Tsipras? Foi precisamente para defender o interesse nacional. O interesse nacional dos acordos com o BE e PCP atados com cordel feito num desenlace que ainda vai engravatar todos os portugueses.
Ontem, caminhava pelas ruas em Vila Nogueira de Azeitão, ao lado de um dos poucos amigos, daqueles de Sempre, com quem a vida fez questão de me manter emaranhado. Anos separados, volvido um período em que ambas as nossas estradas se deram por satisfeitas com o calcorrear que delas fizemos, calhou que nos reencontrássemos.
Ao pensar na série de eventos, binários ou não, que terão feito com que aos 43 anos qualquer de nós se sentisse perante um espelho, tal a similitude na distribuição das prioridades que nos regem a vida, não posso senão divagar.
Aquando do II Forum da associação Abrigo, em conversa com os demais participantes, chegou-me uma frase reportadamente (e certamente consubstanciada algures) proferida por Laborinho Lúcio, com a seriedade e honradez que lhe são devidas, e que empalidecem quaisquer das personagens caricatas que hoje povoam o éter mediático. Terá dito, a propósito do adágio "o melhor do mundo são as crianças", que não; que o objectivo tem de ser outro, que todos devemos convergir na promoção de outra frase: o que é preciso (e subscrevo estas palavras, de cada vez, do alto da minha secura quarentona, com a voz mental embargada) é que possamos um dia ouvir as crianças dizer que o melhor do mundo são os adultos.
É ou não é verdade? É.
Sucede que este amigo com quem ontem passeei, à semelhança do que eu próprio tenho tentado fazer dos meus anos de Outono, enveredou por um projecto, para empregar terminologia sancionada, que se baseia em nada menos do que esta ideia genial: se os adultos perceberem que a infância é algo que não se marca num calendário e sim na vontade de cada um, estarão resolvidos vários dos problemas que hoje em dia assolam pais, filhos, alunos, professores e cidadãos desenraizados das suas tradições seculares.
Quem não anseia, em boa sinceridade, pelo retorno aos momentos espremidos entre aulas e outros afazeres, quando para brincar, jogar, conviver e crescer nada mais era requerido do que o próprio corpo e vontade para tal? Jogar às escondidas; ao lenço; futebol humano; lá vai alho!; berlindes; a plétora mais imprevisível e irregular de instrumentos que nós mesmos, sem mestre, nos dávamos e através das quais nos fizemos.
Não havia dinheiro da Europa. Não havia três carros por casa, consolas, viagens a Bora Bora com vómito incluído, não havia esta demência instaurada a golpes de suborno que cindiu, quase irreparavelmente, umas gerações das outras. E porém, era-se feliz e foi sobre essa felicidade que se construiu, mal ou bem, a fundação de um futuro ainda em aberto - contrariamente ao que sucederá se não formos capazes de sobrepujar este envelhecimento precoce que "o sistema", ou se quiserem "a vida", nos tenta impor.
O projecto chama-se Espalha Magia, é ainda um zigoto pequenino e incipiente, mas considero-o uma ideia genialmente oportuna, e desejo ao João e à Ana a mais ampla e meteórica expansão abarcando cada vez mais adultos dispostos a rejuvenescer, ou pelo menos a recusar a senescência.
O título deste post é uma frase proferida pelo meu filho, à idade de seis anos, quando lhe perguntei qual considerava a coisa mais bela do Mundo.
Bem hajam.