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As privatizações comandadas pelo maior corifeu da trampolinice política portuguesa, Miguel Relvas, são uma demonstração incontestável do indiferentismo a que chegámos enquanto colectividade política. A política de privatizações deste Governo é um exemplo pobre e tacanho da confusão que, por vezes, emerge em algumas cabecinhas entre o poder de fazer e a licitude inerente a esse mesmo poder. Privatizar não significa, de modo algum, entregar o ouro ao bandido, mais, privatizar não pressupõe a entrega de negócios certos e garantidos a companheiros de salão. Numa sociedade civilizada, em que o bem comum é a matriz fundacional do arranjo social, o ministro Relvas já teria sido há muito demitido, porque, como dizia o emérito jurista, Manuel Rodrigues Leitão, "quem faz tudo o que pode, está muito perto de fazer o que não pode". E, Relvas faz sempre o que pode, fazendo, assim, o que não pode, com o indiferentismo garrettiano como pano de fundo. Um poder regido desta forma, é um poder iníquo e injusto.
O título deste post é uma expressão que tomo emprestada do Pedro Lomba, embora tivesse sido empregue pelo mesmo em relação a outro assunto. Mas é também a mais apropriada a este que vou tratar. Por que é que digo que Portugal não desilude? Porque no que diz respeito ao comentarismo político, à opinião publicada, Portugal, ou melhor, os media portugueses, não desiludem na promoção endogâmica do mais do mesmo e de acéfalos, desde que devidamente referenciados pela Dona Maria da Cunha. Refiro-me em concreto ao Expresso, que alberga, entre outros, dois génios do comentário político: João Lemos Esteves e Luís Rebelo de Sousa.
O primeiro é ou era aluno do tudólogo-mor do reino dos nadólogos, Marcelo Rebelo de Sousa, que há pouco tempo até esteve presente na rubrica que aquele tem no Curto Circuito da SIC Radical. Mais do que ler (se conseguir) a prosa inenarrável deste jovem, que, no seu mais recente post, informa-nos, logo na primeira frase, que Olli Rehn é o Comissário Europeu da Energia - e eu que julgava que era dos Assuntos Económicos e Financeiros -, o melhor é mesmo assistir aos vídeos que coloca no Youtube. Cada um é melhor que o outro, originando facepalms vários (simple, double, triple, holy).
O segundo, como o próprio nome indica, é familiar de Marcelo Rebelo de Sousa, mais concretamente sobrinho. Em 2010, enquanto assistia às aulas de mestrado de um amigo, também frequentado por este prodígio intelectual, tive o desprazer de ouvir umas alarvidades que não se coibia de verbalizar (para gáudio dos colegas, sempre à espera da próxima patacoada para se rirem). Não parece ter melhorado, ora atentem apenas nestas duas pérolas de mais um portentoso social-democrata que ainda não percebeu o que aconteceu a Portugal: "Este Governo liberal não dá espaço nem legitimidade ao ministro da Economia para cozinhar medidas" e "Para os que compreendem o efeito multiplicador do investimento, incentivos e estímulos à iniciativa privada nestes sectores resultariam ainda, como spill over benefits, em, por exemplo, novos postos de trabalho e aumento do consumo de produtos e serviços nacionais por estrangeiros."
Os media portugueses, como Portugal em geral, não desiludem no nepotismo e amiguismo, e é assim que volta e meia surgem génios deste calibre na opinião publicada, sem percebermos bem porquê (ou percebendo bem demais...), que nos presenteiam com prosas e opiniões confrangedoras. Não admira que haja cada vez mais pessoas a ler blogs. Se há sítio onde, pela liberdade de que qualquer um usufrui, podemos comprovar verdadeiramente se as nossas opiniões interessam a alguém, sem depender de intermediários e amiguismos, é na blogosfera (da qual excluo os blogues dos jornais).