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Ana Catarina Mendes mostra-se altiva e defende os camaradas socialistas com especial nobreza e carácter - em especial aqueles que fizeram fortuna alegadamente com contactos coleccionados à pala da actividade política. A secretária-geral adjunta não concorda que se controlem os rendimentos dos políticos. O contrário de "quem nada deve nada teme" parece ser o lema orientador das suas consternações. Na entrevista, "para distrair" a malta, refere aquela bandeira de democratização, aquele preservativo para ocasiões especiais - a regionalização ou a descentralização. E acrescenta que já tem saudades de Mário Centeno num futuro governo. Mais bizarro ainda é a definição dos temas-chave para a próxima legislatura: "clima, digitalização, demografia e desigualdades." Faz lembrar tudo e nada, mas sobretudo uma certa incoerência intelectual de natureza orgânica e conceptual. Ora vejamos; o clima já fugiu a sete pés de este governo que, no meio do caos do planeamento florestal preventivo de incêndios, leva tudo pela frente, com a imposição do desbaste da mata. A digitalização parece-me uma jogada para dar razão a Sócrates e revalidar as suas teses Simplex e Magalhães. A demografia é aquela que se conhece - velha, emigrada e pouco dada à reprodução. E a expressão "desigualdades" é apenas um erro de semântica. Queriam dizer igualdade do género, mudança de sexo, cães e cadelas no restaurante, etc, etc. Ana Catarina Mendes faz bem em olhar para o futuro, mas existe um limite no que diz respeito ao que os outros devem ou não devem fazer. Sentimos, por entre estas linhas ténues de afirmações, um certo desleixo em relação aos parceiros do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português. Quem não soubesse melhor diria que o Partido Socialista já governa em maioria absoluta. Não precisa de ninguém e sabe tudo. Vamos lá controlar as contas dos barões socialistas e já falamos, está bem?
Créditos fotográficos: OBSERVADOR
Se há coisa que me irrita é arrogância e falta de inteligência. A número 2 do partido socialista Ana Catarina Mendes padece de ambas as maleitas. Pode repetir as vezes que quiser "o partido socialista", mas deve acrescentar, "perdeu a Câmara Municipal do Porto." Ainda não percebi muito bem por que razão a rapariga foi promovida ao mais alto grau de incompetência política. Por mais que insista na ideia de representatividade dos socialistas e sublinhe a superior vocação moral do seu partido, a verdade é que Rui Moreira não precisa deles para nada. Fez obra - a obra fala por si. Os mexilhões do Largo do Rato podem agitar o Bolhão, mas o caldo já está entornado - podem acenar e dizer adeus ao Porto. Agora apenas resta o Simões prometer umas valentes bofetadas ao Moreira. Primeiro temos a Vasconcelos a dizer que aquela coisa não tem nada a ver com o seu terço, e agora temos a Mendes que diz que tem tudo a ver com o partido socialista. Ora veja este rosário.
O Partido Socialista (PS) está a ter dificuldades em engolir em seco. Não está a conseguir encaixar o que se está a passar e a Ana Catarina Mendes Pedroso é o exemplo vivo de alguém que ainda não entendeu as transformações em curso no nosso mundo. Sempre existiram bons e maus comunistas, péssimos e excelentes social-democratas ou medianos e magníficos socialistas. A Taxa Social Única simplesmente não serve de bitola do que quer que seja. Em causa está a natureza parcelar da Política. São causas avulso que permitem distinguir uns de outros. Ora assumir de antemão a vontade de outrém roça a sobranceria autoritária. Sempre dei o braço a torcer e aplaudi a iniciativa do homem livre, desprovido de ensinamentos de mestres e ideologias caducas. Não se podem erguer muros em torno de reservas oportunistas. Até parece que a concertação social é uma invenção do Largo do Rato e da Esquerda. Errado. Desde sempre, desde Chicago, se quisermos, as negociações entre trabalhadores e patrões, assalariados e pagadores, decorreram, tratando essencialmente de matérias validadas intrinsecamente e não por ditames ideológicos. O Partido Social Democrata ou o Bloco de Esquerda, para todos os efeitos, podem e devem quebrar a "alegada disciplina ideológica" que o PS reclama como regra de ouro. Isso faz vibrar a democracia. Existem social-democratas comunas, como existem socialistas de extrema-direita, mas não significa que sejam nem peixe nem carne. Se não querem ver com olhos de ver, então estão metidos em grandes sarilhos. A NATO já não é a NATO, a União Europeia já não é a União Europeia, a Presidência dos EUA já não é a Presidência dos EUA, mas o PS continua igual a si. Geringonças há muitas. Depende da perspectiva.
Ainda não tinha percebido quais eram os atributos intelectuais ou políticos de Ana Catarina Mendes. Mas agora percebi. Não os tem. Limita-se a seguir o quadro ético do seu partido, que se inspirou no precedente de Sócrates que afirma ter tido a boa fortuna de ter o amigo Carlos Santos Silva para lhe emprestar umas coroas. A fórmula vencedora parece servir na perfeição os intentos do Partido Socialista. O Largo do Rato, falido que está, agora pede aos autarcas para contribuírem com a dízima para as eleições que se avizinham. E quais serão as contrapartidas? Porque almoços grátis não há. Mas a distorção desta prática levanta outras lebres. Discrimina, dentro do próprio partido, os dadores dos forretas. Alimenta a ideia (errada) de que a política apenas se faz com dinheiro quando faltam ideias vencedoras. Se não vai a bem, vai a notas. Quando chegaram as legislativas como vai ser? Também vão ter uma entidade e uma referência de valores morais?
Ana Catarina Pedroso não consegue tirar o governo anterior da cabeça. A secretária-geral-adjunta do Partido Socialista (PS) parece uma contabilista do passado. Mas em vez de apresentar o balancete directamente ao ministro alemão das Finanças Wolfgang Schäuble, julga que Passos Coelho ainda exerce um cargo de governação - que pode dar ou receber recados. E não é o papel da oposição oferecer as soluções a quem manda. Não senhor. Pensava que havia poder de fogo intelectual suficiente no cabaz agregador do PS, Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português para encontrar as soluções económicas e sociais do país. Sentimos no ar um nervoso em crescendo em relação às autárquicas. As câmaras e juntinhas são um bicho que desequilibra os planos à malta. Não é a Maria Luís Albuquerque que é candidata à Câmara Municipal de Almada ou Lisboa. Por isso, o PS deve dirigir os seus agravos a quem realmente tem responsabilidades políticas. A liga dos oprimidos do sul (Grécia, Portugal, Espanha...) deveria reunir e pensar uma "geringonça de periferia" se não se sente confortável com as ajudas da União Europeia e as intervenções do Banco Central Europeu. Sabemos muito bem que é ao nível autárquico que a porca torce o rabo. É nos conselhos do concelho que os favores se ganham e perdem, que as empresas municipais distribuem benesses pelos amigos. Essencialmente é isso que está em causa nesta tirada do "penosamente destrutivo".
O grande amigo de Ana Catarina Mendes, Fernando Rocha Andrade - o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais -, quer levar o escândalo Panama Papers até às últimas consequências. Acho muito bem que haja um socialista disposto a limpar a sua casa (e quem sabe a dos outros). As palavras que lhe saem da boca podem sair caras. Vamos ver qual o enquadramento fiscal a atribuir a José Sócrates. O fiscal (ista) podia, no entanto, ser mais incisivo, mais contundente. Foi muito lacónico. Os portugueses envolvidos não são uns Idalécio quaisquer. É necessário alguma argúcia e sofisticação para entrar nestes esquemas. É preciso algum cinismo de algibeira, e capital amigo. Não interessa a cor política ou a obra literária que possa ter servido de inspiração. A Esquerda, em particular, vai ter algumas dificuldades em descalçar algumas botas. Mas adiante. Rocha Andrade, se fosse idealista e justiceiro como deve ser, teria proposto logo um varrimento à situação patrimonial e fiscal de todos os políticos, passados, presentes e (já agora) do futuro. Quem não deve não teme. Poderia ser a oportunidade perfeita para tirar a limpo aquele mito urbano dos diamantes africanos, da avioneta e uma Jamba qualquer. Acho piada a tese moralista e simultaneamente voluntarista de João Galamba - “Não há maior crime contra a democracia do que a fuga aos impostos”, (...) e o problema deve ser resolvido com base na “cooperação multilateral”. Cooperação multilateral uma gaita. O delfim socialista nem sabe a sorte que tem em viver no paraíso fiscal português. Se conhecesse um regime tributário autoritário não falava em cooperação multilateral. Os EUA, que têm servido de culpados exclusivos pelos defeitos do capitalismo selvagem, têm provavelmente o sistema tributário mais feroz do mundo. Os cidadãos norte-americanos, onde quer que se encontrem à face da Terra, são obrigados a declarar rendimentos (os da Eritreia também) - por isso não apareceram muitos nomes do Texas na lista do Panama Papers. Mas há algo mais que me preocupa. Não é apenas a origem e a ocultação de fortunas. É exactamente o oposto. Dinheiro dos contribuintes que existem de facto (o cidadão comum) e o descaramento do governo de António Costa (e amigos) na atribuição de fundos a projectos que colocarão Portugal novamente no caminho da ruína. Entre os bananas nacionais e os Panama Papers, venha o macaco e escolha.
Os políticos, na sua generalidade, imitam a concorrência. Quando lhes faltam ideias, mas sentem que não podem perder o filão, aventuram-se no jogo da cópia barata. Praticam uma espécie de contrafacção de inutilidades. Ou seja, perdem a noção das prioridades. A Joana Amaral Dias serviu-se da gestação para avançar a barriga da notoriedade. Por outras palavras, à falta de melhores argumentos, deu o corpo ao manifesto - auto-chulou-se, como se estivesse numa qualquer esquina do Cais de Sodré. Mas António Costa quis ir mais longe. Quis ir ao escroto da mesma matéria da angariação de votos. A Procriação Medicamente Assistida parece ser uma ideia peregrina para cativar o eleitorado feminino, mas faz parte de uma agenda batida, antiga, politicamente arremessada quando dá jeito - a igualdade de géneros. Não sei se é boa ideia convocar a ex de Paulo Pedroso para vender esse peixe. Cheira mal misturar estórias mal contadas com a esperança que se oferece a futuras mães. Grassa na política de oposição uma enorme falta de pudor, ética. Tudo isto mete nojo. A procriação política é uma aberração.