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Sabemos desde sempre que a política e a encenação teatral andam de mãos dadas. Francamente esperava mais criatividade do grupo incompleto de artistas que se apresentou sob a batuta do falso maestro Daniel Oliveira nas escadarias da Assembleia da República. A papoila a sugerir o cravo e a certeza dos artistas que dizem ter as ferramentas para desencravar a besta do poder. Quantos mais melhor? - é o que diz Daniel Oliveira. Duvido. Bem pelo contrário. Poucos mas bons. Raros mas selectos. Salientar a “diversidade profissional, regional, etária e a paridade de género” (?). Porquê? Isso seria expectável e normal numa democracia representativa. Ao ver e escutar os depoimentos de "figuras de destaque" (palavras do jornalista da SIC) fico com a impressão de que estes artistas não têm onde cair mortos. Género: "bué da fixe, até gostava de ser deputado", "não sei se sou competente, mas logo se vê". O problema desta malta é sinceramente pensar que é melhor que a populaça que não bebeu, por exemplo, nas doutrinas de intervenção, à Otto Muehl, o enfant-terrible da cena vienense, caído em desgraça por práticas menos consensuais. Ao escutar e ver o coro que ontem se apresentou aos portugueses em espectáculo-inédito-graçola-de-10-de-Junho-dia-de-Portugal, senti a presença de Brecht ou Grotowski, e pensei que talvez não estivesse a ser justo. Aquele aglomerado de gente poderia muito bem servir para fundar uma nova companhia teatral. O tempo das representações e religiões políticas já não serve as nossas causas (aconselho a leitura de Voegelin). Generalizações sobre paz e justiça são fáceis de deitar boca fora. Difícil mesmo é apresentar soluções concretas. Não gostei da peça. Foi francamente de baixo nível. O guião inexistente e os actores com sintomas de grande desmotivação. Não, não estamos livres. Nem é tempo para dançar com coisas sérias.
Quem vai receber Yanis Varoufakis à Portela? O ministro das finanças grego está em tournée europeia, e embora ainda não tenha sido noticiado, Portugal deve constar do seu rol de visitas. Apenas sabemos que existem uns quantos em território nacional que já se estão a acotovelar, a dar uns empurrões para ficar bem na fotografia. É assim que funciona em política, seja qual for a causa, a missão a cumprir. A Catarina Martins, a Ana Drago, o Jerónimo de Sousa, ou mesmo o Daniel Oliveira, devem ser os candidatos com ganas de mostrar os cantos à casa - a desgraça que nada tem a ver com a tragédia grega. Nesse dia de recepção, António Costa encontrará uma desculpa para se esquivar - quiçá, a inauguração de mais uma ciclovia. Mas o amigo Yanis não vai ficar muito contente. Então malta? O que se passa? Na Grécia, Syriza! Em Espanha, Podemos! E em Portugal, nicles batatóide? Pois, sabe Dr. Varoufakis, aqui a malta tem dificuldade em instigar a mudança. Pode dar-nos uma ajudinha? Umas dicas. Mas a verdade é que nem Tsipras nem Varoufakis têm algo para oferecer. Aliás, a cada hora que passa as probabilidades de reestruturação da dívida são cada vez mais ténues. Vejam-se os números das casas de apostas. Estudem o comportamento das taxas de juro, das condições de mercado cada vez que sopram ventos de utopia financeira. Se Varoufakis pretende chegar a um acordo com credores deve meter-se no expresso e zarpar rumo aos Goldman Sachs e Rothschilds deste mundo. Se realmente quer marcar a diferença e cortar relações com a Troika e os interlocutores formais da União Europeia, deve demonstrar que consegue ser criativo e original. Para já o duo Tsipras-Varoufakis conseguiu conquistar o poder, muito à custa do rasgo visceral de uma população derreada pela Austeridade, ávida de pão e vingança. Pensando bem, vir a Portugal é uma perda de tempo. Nenhum dos esquerdistas radicais de ocasião que acima referi percebe patavina de como funciona o mundo. Não pretendo ser cínico com este desabafo. Mas, meus senhores, as grandes decisões já foram tomadas. O resto são flores de estufa. Decoração.
O porta-voz Ferro Rodrigues oferece a conversa de um vendedor que não sabe para que lado vai cair a sorte política. O Partido Socialista vem com o discurso de campeão da Esquerda, mas sabemos muito bem que já não são dignos representantes desse título, se é que alguma vez foram. Os seus sucessivos governos foram tão neo-liberais quanto os dos outros. Nessa medida, embora afirmem que não vão em compadrios com o Partido Social-Democrata (PSD) porque são distintos e estão abertos a entendimentos mais à Esquerda, a coisa não é assim tão linear. Ora, se precisam do encosto dos que estão mais à Esquerda, então significa que eles não são Esquerda. Ponto final. Talvez sejam outra coisa. Talvez sejam herdeiros de um mito ideológico antigo, intensamente corroído pela sua acção governativa, pela sua vida política. Mas existe uma ameaça muito mais apreciável do que a fragmentação partidária do espectro político nacional. Se Rui Rio for o homem do PSD, António Costa ainda vai ter de esgravatar muito e ceder muito mais para chegar ao poder. Quem coloca a hipótese de oferecer ministérios e secretarias a praticantes como Ana Drago ou Rui Tavares, tem de ter a noção que coloca em risco o destino final da viagem. Os socialistas, que agora disparam a torto e a direito, se não tiverem juízo ainda acertam em ambos os pés. A pergunta que deve ser colocada diz respeito ao modo de interpretar o desagrado nacional, o sentimento de esperança que os socialistas espalham como perfume fácil, quando sabemos, e bem, que nada de substantivo se altera quando os actores políticos forem outros. Portugal, na sua presente e futura situação, estará condicionado pelo ditado da Troika. Ferro Rodrigues elogia Marinho e Pinto porque necessita de guardar uma carta para uma jogada final. Nunca se sabe até onde terão de ir para ganhar votos à Esquerda e à Direita. Em nome do seu putativo governo, os socialistas ainda vão cometer muitas tropelias. O actual governo necessita apenas de continuar a fazer o seu trabalho - seguir em frente sem prestar atenção a ruído demagógico. Enquanto isso decorre, no caminho que nos conduz até às legislativas, veremos como a Câmara Municipal de Lisboa será convertida em plataforma de campanha. Aposto que vamos assistir a inúmeras iniciativas de integração e pluralidade, amostras de ecumenismo político, miscigenações convenientes para dar ar de partido total, absoluto e inquestionável. O problema que se lhes coloca é que o cidadão português já não passa cheques em branco. Porque tem sido o principal visado da incompetência dos grandes lideres nacionais - uns mais endeusados do que outros.
O Bloco de notas de Esquerda parece estar a preparar-se para mudar de nome, adesivando-se ao pelotão do Senhor Doutor Ruizinho. Pois é disso mesmo que se trata, sendo evidentes as perfeitas coincidências entre heróis de sempre nos posters colados na sede e mais concretamente, nos nomes de seguidores. É o fenómeno amiba com a mesma gente, as mesmas ... "brilhantes ideias que merecem mais uma chance", a mesma conversa tão do agrado do eleitorado da freguesia da Lapa.
Pelo que se sabe, a gira menina Ana vai dragar fora das águas do Trancão em que se tornou a agremiação do Dr. Louçã. Querem tentar uma aposta acerca do futuro paradeiro?
Ou vai ruizar-se ou em caso de consumação das facas longas no Rato, aqui teremos mais uma "social-democrata de gauche" dragada pelo Costa das demolições.
Era previsível desde o momento em que pela primeira vez se apresentou em público. O estilhaçar dos grupúsculos de esquerda é coisa tão natural como a chuva no inverno. Quem tenha vivido os anos do PREC - o mental, aquele que se estendeu muito para além da mítica data do 25 de Novembro -, decerto terá assistido ao nascimento e morte natural, porque prematura, de uma infinidade de agremiações de amigos e camaradas, fossem estes burgueses dados a auto-convenciomento de requintes de estilo que ninguém mais via, ou de umas tantas línguas de trapos unidas pela rebeldia à sujeição ao centralismo da seita preponderante na área.
O weekly leak do BE. Começou por ser um verter a conta-gotas, saindo Louçã à socapa, embora deixando como prenda, gente da sua confiança. Já vimos disto, desde o sr. Manuel Serra e a sua FSP, até à UEDS de Lopes Cardoso ou o MES de Sampaio. Acabaram todos por ter algo a ver com o PS, acontecendo isto antes de uma ruptura ou após uma adesão ou re-adesão em proveito próprio. Quanto ao BE - exquisit coligação burguesa estalino-trotsquista -, talvez venha a trocar o seu mini bus eleitoral, por uma mais prática e económica moto side car. Para as lides governamentais, não fará qualquer diferença parlamentar, há que dizê-lo.
No Rato bem podem ir convencendo as secções locais para a necessidade da elaboração de futuras listas de candidatura ao Parlamento, pois lá não poderão faltar as sumidades do momento, já aggiornadas às necessidades do new deal da social-democracia do século XXI, atenta ao empreendedorismo, inovação e mercados.
Olveira, Amaral Dias e Drago. Como poderá o agora moderado Louçã ficar de fora?
Pois é, parece que à esquerda não há, efectivamente, nada de novo debaixo do sol.O Bloco, fazendo jus à sua tradição de parlapatice enfatuada, vai-se esfumando progressivamente, levando, nessa espiral destrutiva, os pouquíssimos rostos mediaticamente apelativos que ainda restavam nas caves bolorentas da Almirante Reis. A coisa tem uma história e genealogia próprias, que, para abreviar o possível cansaço dos leitores com as tranquibérnias do esquerdismo caviar, se resume no facto de a tradição política da extrema-esquerda ter no seu âmago constitutivo o dissídio e o confronto intestinos. Nada que, em boa verdade, surpreenda os espectadores mais cautos das guerras civis da esquerda portuguesa. Aliás, se há ilação que se pode retirar da imensa confusão em que caiu o Bloco de Esquerda é que o aggiornamento das esquerdas portuguesas, sob este regime, e com estes protagonistas políticos, é, ao cabo, uma autêntica miragem. Passada uma década e meia, o Bloco implode sem que, ao menos, tenha logrado europeizar, política e intelectualmente, um sistema político configurado às arrecuas. Mas, no fundo, o que tem de ser tem sempre muita força, e, neste caso, a força reside inapelavelmente do lado dos que desejam, sem desprimor para Schumpeter, a destruição pouco criativa da civilidade inerente ao bom trato da coisa pública. O problema é que, com esta implosão, a governabilidade futura do país ficará, em grande medida, superiormente limitada. Mais: pensar numa esquerda que governe unida, carregando solidariamente as dores da governação, é, para todos os efeitos, uma ilusão que doravante, atenta a crise presente, importa não alimentar. Tudo leva a crer, portanto, que serão os portugueses a pagar, mais uma vez, a factura desta romaria festiva, pela singela razão de que não será de todo possível regenerar a República sem uma extrema-esquerda que entre no arco da governabilidade, desobstruindo, com essa abertura, o imobilismo político crismado pelo PREC. Foi isto que, com muita bufonaria política à mistura, o séquito de Louçã diligentemente legou aos seus compatriotas.