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Nunca é demais repetir que se tudo pode ser arte, nada é arte, e que boa parte da arte contemporânea é simultaneamente causa e sintoma do declínio intelectual e moral do Ocidente, onde vai imperando um relativismo que permite a qualquer idiota cometer um qualquer acto repulsivo e nojento e clamar que isso é arte - sem esquecer que nunca faltam idiotas para o seguir nesta prostituição pelo abuso do que deveria significar a palavra arte. Posto isto, algo está muito errado na cabeça deste rapaz. No mínimo, é doentio.
P.S.: Veja-se esta amostra http://mademoisellecaetanodiaz.blogspot.pt/2012/10/a-procura-de-juliao-sarmento-em.html
Mario Vargas Llosa, A Civilização do Espectáculo:
«A mais inesperada e truculenta consequência da evolução da arte moderna e da miríade de experiências que a nutrem é que já não existe qualquer critério objectivo que permita qualificar ou desqualificar uma obra de arte, nem situá-la dentro de uma hierarquia, possibilidade que se foi eclipsando a partir da revolução cubista e desapareceu totalmente com a não figuração. Actualmente tudo pode ser arte e nada o é, segundo o soberano capricho dos espectadores, elevados, devido ao naufrágio de todos os padrões estéticos, ao nível de árbitros e juízes que outrora só certos críticos detinham. O único critério mais ou menos generalizado para as obras de arte na actualidade não tem nada de artístico; é o imposto por um mercado intervencionado e manipulado por máfias de galeristas e marchands que não revelam de maneira alguma gostos e sensibilidades estéticas, só operações publicitárias, de relações públicas e em muitos casos simples apropriações.»
Por uma vez estou de acordo com o que se escreve no Arrastão, no caso, pelo Sérgio Lavos. Já de há alguns anos a esta parte que se tornou evidente o apoio regimental a Joana Vasconcelos, que recentemente se reflectiu nas palavras manifestamente exageradas de Paulo Portas. Deixando de lado este descaramento, mais uma vez pago pelos contribuintes, o que realmente me provoca espanto é a classificação do trabalho de Joana Vasconcelos como arte. Arte contemporânea, claro está, o que faz com que este espanto não seja, obviamente, exclusivo a Joana Vasconcelos. Doem-me os olhos ao ver as fotografias da exibição em Versailles. Esteticamente, é piroso e pavoroso. Simbolicamente, parece-me cair na classificação de Heidegger de "má arte", ou seja, é superficial, não indo além de uma mera relação linear com o que pretende representar, tendo uma mensagem meramente efémera, fácil e rapidamente captável, mas que fica por aí. Como salienta Mark Vernon, "não consegue ver para além da pequenez dos seus próprios horizontes auto-confiantes." Um lixo, portanto.
Um grande post que me deixou à beira de um ataque de riso, de José Mendonça da Cruz, de que destaco os seguintes parágrafos:
«A segunda notícia vem-nos aqui da nossa terrinha, mais propriamente de Aveiro. Em Aveiro, depois de acolhida pela vereadora da cultura local, uma senhora das Caldas, Umbelina de sua graça, expôs no mercado um caralho. O caralho da Umbelina não é como o da foto. É verde liso e esmaltado, em grés, e tem a altura de uma pessoa, descontando o sopé que são os colhões. Vem em peças e depois monta-se.
As vendedeiras do mercado e os clientes não gostaram. E mesmo quando a putativa artista explicou que o seu caralho se inspirava na loiça das Caldas, responderam galhardamente que a artista putativa levasse, então, o caralho para donde o trouxe. Foi tal a pressão, que a vereadora da cultura desistiu, mandando desmontar o caralho, depois de explicar - assim situando o nível da coisa - que tinha valido a pena porque causou grande «debate psicológico» e despertou «as consciências». E o caralho lá foi para a casa do caralho, que é o estúdio da Umbelina nas Caldas.
Ora eu, que, repito, sou um ignorante e , como tal, incapaz de avaliar estas intervenções, registo todos esses clamores sobre a coragem dos artistas, os abalos de consciências e as obras de ruptura com as quais o mundo pula e avança. E gostava mesmo que putativos artistas perseverassem no risco, fossem mais longe na coragem, abalassem mais certezas e desencadeassem sobre si debates muito mais que «psicológicos». Gostava que a Umbelina retratasse, sei lá, Maomé com um cordel no rabo que, puxado, o faria exibir o que a louça das Caldas tradicionalmente exibe. Gostava que o americano, seguindo a sua especial inclinação, retratasse o profeta, sei lá, de colete de couro sobre o tronco nu e entoando YMCA reboladamente. »