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Esta frase merece ser lida, decorada e repetida em voz alta por todos os Portugueses. É um verdadeiro tratado da Língua Portuguesa! É mais do que um poema, é uma obra de arte!
Lembro-me de na faculdade ter lido de Pierre Bourdieu o livro Ce que parler veut dire, onde se faz a dicotomia langue/parole. Só agora consegui entender o fenómeno de, conhecendo uma língua, encontrar-me francamente néscio em relação ao discurso.
Desenganem-se, portanto, aqueles que julgavam ter sido mero acaso a ascensão de Assunção à presidência da Assembleia da República. A segunda figura do Estado Português é afinal um oásis de intelectualidade, e os discursos com que nos brinda de uma profundidade inatingível para o comum dos Portugueses.
Obrigado Presidenta!
(E obrigado ao AFR por ter descoberto e partilhado esta pérola)
Em pouco mais de meia dúzia de parágrafos, Henrique Monteiro diz o essencial. Não sei como é que o sr. Balsemão ainda o aguenta.
O que ontem se passou no Parlamento, obedece a uma conhecida manobra de agit-prop, parida logo após a revolução que em 1917 depôs o Czar Nicolau II. No Palácio Tauride reunia-se a Constituinte e o minoritário partido de Lenine organizava rotineiras algazarras que pretendiam intimidar os "deputados burgueses". Insultos, berreiro sem fim, ameaças de morte eram a rotina nas sessões parlamentares. Mais tarde, o mesmo se passaria nas Cortes de Madrid, chegando-se ao ponto da Pasionaria ameaçar com a morte - e tal aconteceu - o deputado Calvo Sotelo.
Em Portugal seguiu-se o guião à risca e durante os trabalhos da Constituinte, a gente do PC organizou o cerco e sequestro dos outros deputados eleitos. Sem poderem sair de S. Bento, exaustos, fisicamente ameaçados e sem comida, tencionava o PC amedrontá-los e na melhor das hipóteses, conseguir politicamente algo mais que aquela ninharia dos 12% saídos das urnas. Refastelavam-se os deputados organizadores do regabofe trauliteiro, rebolando-se de gozo com os ameaçadores urros que vinham do largo fronteiro ao Parlamento. Aproveitando o dislate, escandalosamente se empanturravam com todo o género de vitualhas diante dos já esfomeados eleitos do PS, PPD, CDS e ADIM. A baixeza chegou a este ponto.
Ontem, a sra. Esteves - pelos vistos, finalmente começou a ganhar alguma prática na condução dos trabalhos - fez precisamente aquilo que dela se espera e que o regimento obriga. Liquidou o dislate da melhor maneira e citou a Beauvoir, precisamente uma "pássara" que durante o PREC aqui desembarcou a pregar algo de bastante sinistro e que nas ruas mais tarde se traduziria, entre outras prepotências, no citado sequestro da Constituinte.
Qual será o motivo do escândalo que agora corre na imprensa? Parece que se deve ao alvo da citação da colega de quarto de Sartre, pois dirigia-se aos nacional-socialistas. Onde está então o problema, se esses mesmos nacional-socialistas foram aliados dos camaradas soviéticos e nos persuasivos métodos de intimidação prodigamente os copiaram? Procurem bem nos números do Avante! de 1939-41, pois lá estão todas as respostas. Isto, se algumas mãos caridosas não tiverem definitivamente incinerado aqueles preciosos papiros de outros tempos.
Foi uma marginal bancada quem moralmente organizou o ultraje de ontem. Querem a prova? Simples: à porta do Parlamento estava a sra. Avoila, acompanhada pelo sempre-em-pé "professor" Nogueira.
Assistirmos ao debate sobre a alteração das leis laborais, foi o mesmo que estarmos num pic-nic cheio de formigas na toalha estendida sobre a relva. Bem sabemos que dada a conveniência do politicamente correcto, assume-se que a Sra. Assunção Esteves ascendeu a um certo firmamento onde tudo lhe será permitido e desculpado. Mas, francamente, como aqui já tínhamos dito, é penosa a sua prestação na condução dos trabalhos parlamentares. Ao fim de um ano, esta santa ainda não percebeu bem como a geringonça funciona, os vices corrigem-na ponto sim ponto não e até deputadas há que se atrevem a interpelá-la, questionando-a acerca do que se está a votar! Um atraso de vida, o que não obsta a que andem por aí uns crânios que a querem no lugar do profano Cavaco Silva.
Ainda há uns dias, a televisão proporcionou-nos um daqueles parlamentos infantis organizados dentro dos muros de S. Bento e por incrível que vos possa parecer, a brincadeira de crianças funciona de forma mais ordeira e organizada.
Se a Maçonaria já não tem um nome mais capaz para dirigir a A.R., talvez fosse melhor recrutar um daqueles miúdos do "outro parlamento".
* Uma nota positiva: o deputado Ribeiro e Castro manteve a sua coluna vertebral e votou em conformidade com a sua rejeição do obliterar do 1º de Dezembro.
Não sou propriamente um defensor habitual do governo, deste ou de qualquer outro, embora me pareça que o Pedro exagera um pouco neste post, especialmente porque aquilo que está a acontecer tem causas diversas e, entre estas, está principalmente o consulado socrático, contra o qual o senhor do lacinho do Expresso nunca se insurgiu (bem pelo contrário), que provocou o pedido de ajuda externa e negociou o memorando de entendimento que este governo está obrigado a cumprir.
Mas se a minha expectativa após a nomeação do governo de Passos Coelho e Paulo Portas era bastante positiva, logo esta se desvaneceu quando pouco tempo depois percebi ao que vem Passos Coelho. E entre ontem e hoje, duas notícias mostram bem como este governo nada tem de liberal e pouco pudor e sensibilidade tem para lidar com a situação social vigente.
A primeira dá-nos conta de que a redução do défice é feita em 75% pelo lado da receita. Talvez assim os eurocratas que se mostram surpreendidos com a taxa de desemprego percebam o que se passa. A continuarmos nesta senda, sem reformas estruturais e reduções significativas da despesa estatal, todo o esforço a que os portugueses estão a ser obrigados será meramente circunstancial e corre o risco de não servir para nada, podendo até agravar as nossas circunstâncias políticas internas e externas. Aliás, o FMI já vai avisando (via Eduardo F.), fazendo notar esta preocupação com a falta de reformas estruturais no relatório da 3.º avaliação: «The reforms to date, however, are at best a down payment towards the comprehensive set of reforms needed to address Portugal’s growth and competitiveness problems»; «The policy framework in particular remains constrained by the absence of supply-side reforms with a near-term payoff.»
A segunda, parece-me uma brincadeira de mau gosto e levou-me a esfregar os olhos várias vezes para acreditar que não se trata de uma mentira de 1 de Abril: "Parlamento vai dar sobras alimentares aos pobres". Isto entra directamente para o primeiro lugar das coisas mais repulsivas que a AR já fez nos últimos tempos. A este respeito, transcrevo na íntegra o que escreve o Joaquim no Portugal Contemporâneo (os negritos são meus):
«Porque é que há tantos carenciados em Portugal? Porque é que temos 15% de desempregados? Porque é que há uma onda de emigração que atinge dezenas de milhares de portugueses?
Nós não somos mais estúpidos nem mais ociosos do que os outros povos. Porquê, então?
Porque o nosso sistema político foi capturado, ao mais alto nível, por interesses particulares que espoliaram o País até à bancarrota e à perda da soberania nacional. E o símbolo desse sistema político, o símbolo deste fenómeno reside aonde? Na Assembleia da República, na casa que devia ser da democracia e que na realidade pertence a uma oligarquia partidária, autoritária e sem pudor.
Ainda na recente legislatura, a criminalização de erros no fornecimento de informações ao fisco e a lei do enriquecimento ilícito testemunham o abuso sobre a população.
Assim, não deixa de ser irónico que a Assembleia da República, a maior fábrica de miséria de Portugal, dê as sobras das refeições dos deputados aos mais carenciados.
De certo modo, é o que a Assembleia da República tem vindo a fazer desde o 25 de Abril, encher a mula aos amigos e distribuir as sobras pela população.»