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Barbas por fazer, depilações íntimas ou pêlos no peito inscrevem-se todos no mesmo programa de maquilhagem política da Europa. Mas, de um modo conveniente, as ilações surgem sempre depois do caldo ter sido entornado. Não me parece que tenha havido um esquema gizado por "liberalistas" para levar por diante os ideais ecuménicos de uma União Europeia multi-color, tutti-frutti, aberta ao movimento de bens, serviços, capitais e travestis. Seja qual fôr o âmago da questão, a verdade é que um freak-show também serve para atrair públicos, quiçá investidores. E é isso que está em causa. Para o ano que vem mais uns quantos milhões de espectadores irão sintonizar a antena da Eurovisão, na expectativa de serem surpreendidos com uma proposta ainda mais híbrida, ousada. Em época de descrédito da Europa, de crises sucessivas e fracturas que dividem o Norte e o Sul, a barba "Wurst" de pouco servirá para tapar buracos e pontos negros, mas uma lição pode ser extraída. O público aprecia bizarrias e invulgaridades, e a excentricidade rouba as atenções todas, distrai da falta de qualidade de outras promessas, musicais ou não. Cada reino tem os seus bobos da corte e, se não os tem, deveria pensar nos benefícios que estes podem trazer. Sabemos que no dia 24 de Maio a final da Champions League irá gerar dinâmicas e audiências televisivas assinaláveis, e que imagens de Lisboa irão correr por esse mundo fora. E onde e como é que se pode encaixar uma oferta especial para temperar a ocasião? Não se arranja nada à altura de uma Conchita? Uma figura bordalo-pinheiresca que faça a bola descer à terra? Oh Turismo de Portugal e agências de marketing - toca a mexer, mãos ao trabalho. Vejam lá o que arranjam, mas não nos metam em sarilhos. Portugal deve saber aproveitar todas as oportunidades para extrair valor e dar a volta por cima. Sexo vende, mesmo que não se saiba o que o homem traz por debaixo das sete saias.
Vamos ver se a demissão de Paulo Ferreira da direcção de informação da RTP, e a sua substituição por José Manuel Portugal (que tem um apelido que vem mesmo a calhar para o país), servirá para arrastar para o olho da rua o comentador José Sócrates. De um modo geral, este género de dança de cadeiras acontece de acordo com uma certa orientação política - um guião pré-determinado. Habitualmente, os que saem, invocam razões pessoais para explicar a partida, e os que chegam, vêm com o gás todo, felizes e contentes pela promoção - o bónus de fim de ano. Consigo imaginar o recém-nomeado-director José Manuel Portugal (que vem dos serviços internacionais) a contratar Guterres para vir dar à manivela num programa de informação, feito à la carte para o funcionário das Nações Unidas, que ainda há dias foi figura de proa de alguns jornais britânicos, alegadamente por ingerência em assuntos internos daquele país. A máxima - ano novo, grelha nova - não tardará a ser posta ao serviço de um novo alinhamento televisivo - é esperar para ver. Só não entendo a justificação do demissionário; "a defesa dos interesses da RTP". Ora isso não faz sentido algum, porque não sei se a vinda de Sócrates ajudou ou não as audiências da estação de televisão. E é neste tipo de afirmações que reside uma parte da contradição. A compatibilidade entre jornalismo e audiências, o acordo entre servir o país e a agenda de uma empresa pública intensamente deficitária e que ainda não foi sujeita ao escrutínio de uma auditoria como manda a lei. Há demasiado tempo que a RTP tem sido tratada como uma vaca sagrada, a deambular por aí, a entrar porta dentro, pela casa dos portugueses - a qualquer hora e sem a qualidade que se exige de uma estação pública.
Existe uma expressão portuguesa que encaixa que nem uma luva nas garras felinas: fazer render o peixe. Os Gatos Fedorentos, sendo gatos, apreciam o peixe. Contudo, desta vez demonstraram que existem limites ao se associarem a um anti-corpo sério, residente nos antípodas da paródia, mas disposto a prescindir da farda de trabalho em nome de não sei o quê - Rodrigo Guedes de Carvalho marcou o serão pela negativa - não estávamos à espera dessa. O combinado misto, jornalismo alegadamente sério - humor até cair para o lado, não funciona, e demonstra apenas que não existem escrúpulos ou deontologia no jornalismo quando o que está em causa são negócios, ou audiências, conforme lhes quisermos chamar. Os Gatos Fedorentos estão a chupar até ao tutano a sua faceta de cacheteiros, de mercadores dispostos a explorar todos os produtos de merchandising, como se o seu fim estivesse à vista e houvesse urgência em extrair dividendos de tudo e mais alguma coisa. Não sei se este oportunismo agressivo partiu das cúpulas da SIC, do Guedes ou de um dos Gatos, mas, quando associamos a parafernália do MEO e outras marcas, percebemos facilmente que os Gatos Farturentos querem lucrar o máximo possível em tantas e tão dísparas frentes. Rodrigo Guedes de Carvalho, tido como bom rapaz e responsável, que também aprecia a ficção na forma escrita, acaba de rasgar do seu uniforme alguns falos da alta patente de jornal das oito. Sem o desejar, e embora de um modo próprio, apimbalhou-se e aproximou-se do relax que define a Judite de Sousa ao seu melhor estilo domingueiro. Quanto ao piscadelas de olhos José Rodrigues dos Santos, irei poupá-lo porque ainda não li nenhuma das suas bíblias, nem lerei. Contudo, brincadeiras à parte, o lado mais cínico desta novela consubstancia-se na leviandade com que se trata a questão que realmente interessa ao país - a solução para a crise. Mas como demonstram os cinco amigos, qualquer pretexto serve para ganhar quota de mercado em horário prime - a crise pode ser embalada, distribuída e vendida ao desbarato como uma reles série de televisão.