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Cá estou eu a pensar para os meus bretões: que formato teria a versão portuguesa de Make America Great Again? Se os espanhóis fossem os mexicanos e tivesse havido um ataque terrorista de vulto no coração de uma grande metrópole portuguesa, que música política estaria a tocar? Sem rodeios ou sem nuances de brandos costumes da treta, este debate urge; este é o momento para estimar, para prever. Para já Portugal vive na singularidade benigna da sua escala, mas um varrimento pan-europeu de correntes conservadoras obriga os estrategas a pensar qual a configuração que o país assumiria numa intensa escalada ideológica no velho continente. Sem papas na língua, direi o seguinte (inconveniente, dirão alguns): se pisarem nos calos da comadre a padeira de Aljubarrota faz-se a Olivença num piscar de olhos. As fortificações muradas, actualmente arqueológicas, são a prova de que a matriz mural existiu. Aliás, a Europa bate os Estados Unidos 10-0 na edificação de vedações e cercas. Como me disse um velho amigo com quem me cruzei ontem no Chiado. Epá, esta malta é trumpista, mas não o admite: em vez de 73 sírios em Mangualde (?), imagina uma torrente deles a partir a loiça? Achas que os portugueses ficavam quietinhos? Pois - disse eu. Apenas sei o seguinte, que nesta fase do campeonato foi a passividade democrática americana que deixou a clivagem acentuar-se. Foram anos de paz e sopa que ignoraram as profundas fracturas económicas e sociais, e agora é tarde demais. Existe uma revolução em curso e um macróbio do governo de salvação nacional fala no aumento extraordinário de 5 ou 6 euros das pensões. Ainda não perceberam o que está a acontecer. E ainda por cima não acreditam na bruxa. Estamos feitos.
Fico furioso quando me mentem. Não me refiro a esse caso patológico cujo nome recuso escrever. O actual governo da República Socialista de Portugal não fala a verdade. Em vez disso lança uma neblina para confundir os mais incautos. A aprovação do aumento de dois milhões de pensões não passa disso mesmo. Não é preciso ser um astrofísico-financeiro para perceber o truque. O tão aclamado aumento está, efectivamente, indexado à inflação, e acontece que na Zona Euro não se avista uma pontinha da mesma. O Banco Central Europeu confirma esse facto ao manter a sua posição de expansionismo monetário. Nesse medida, o pensionista nacional não deve morder este isco. A linha populista que atiram, tem, além do mais, um peso-morto no seu fim. A ficção monetária e a alegada reposição do poder de compra terá de ser compensada com mais medidas trans-demagógicas. Ou seja, o softcore desta medida fácil e aparatosa terá de ser contrabalançado por medidas XXX. Para cada decisão sexy do governo, terá de haver outra sado-maso. Onde é que o Vieira da Silva pensa que está? Nos EUA? Aí sim, já há sintomas de erecção inflacionista, e a domina Janet Yellen, ciente dos perigos que espreitam, começou ontem a fechar a torneira da liquidez ao subir a taxa de juro de referência. "Indexado à inflação" é como oferecer preservativos a um náufrago que se encontra a solo numa ilha selvagem.
A partir de hoje, quando fizerem menção ao "acordo", queiram especificar a qual deles se referem. Teremos vários, pelos vistos. António Costa inaugura uma nova modalidade de buffet político - pica aqui, come acolá, mas é incapaz de apresentar o menu completo. Mais valia ficarem quietos. A grande conquista de Catarina Martins: aumento de pensões na ordem dos 0,3%! Vou repetir: z-e-r-o-vírgula-t-r-ê-s-porcento! Tanta prosápia para parir uma vantagem desta dimensão. Está mais que visto que não teremos um documento único de entendimento político - quase que se poderia prever. Foi só espectáculo para distrair. Raramente chefes de pequenos quintais conseguem partilhar o mesmo grelhador. As sebes tapam a vista. Ninguém quer abdicar dos seus valores sagrados, do seu património ideológico - muito melhor do que os restantes. Acho muito bem que o governo de coligação não entregue a casa a estes desavindos. Que venha de lá um governo de gestão, a prazo, até as próximas eleições. Depois veremos como elas são. Se o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e a Coligação Democrática Unitária formam um PàE - um Portugal à Esquerda para ir a votos. Veremos o que sai dessa Bimbi. Uma matéria consistente para ser apreciada pelos epicuristas políticos, pelos ferrenhos agarrados ao favor partidário lá na autarquia, pelos directores que colocaram os seus filhos nos quadros de cor favorável. Vamos ter uma palette muito interessante. Bloquistas quase socialistas, mas nem por isso. Socialistas confundidos com comunistas e cunhalistas que mais parecem capitalistas. Portugal está cada vez mais interessante - a cada novo acordo.