Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Sempre apreciei sátiras, mas sou mais fã de ironias do destino. Para esta rábula sirvo-me do falido Partido Socialista (PS), porque este assume-se como lider da pandilha, mas a ilustração pode servir de template para qualquer partido político. Pensavam eles que enquanto o português enchia o bucho com rabanadas faziam passar a Lei do Financiamento dos Partidos. Nada de mais errado. Venham de lá mais hérnias para endireitar as costas dos políticos. Bravo Marcelo. Mas adiante. Vamos ao Largo do Rato. Face à falência do PS, vejo alguns caminhos de salvação. Começemos pela austeridade doméstica; o corte nas despesas e mordomias dos dirigentes socialistas; o acesso a empréstimos bancários mediante a concessão de garantias imobiliárias; a angariação de receitas próprias, designadamente a transformação da sede do Rato em alojamento local com direito a tour político e a oferta de um brinde de campanha. Enfim, é absolutamente deplorável que os partidos estejam nesta situação. Para todos os efeitos, a Geringonça é como uma Troika, e eu esperava mais solidariedade e racionalidade na gestão de meios. O Partido Comunista Português, o grande capitalista imobiliário do panorama partidário, poderia, se fosse mesmo marxista, ceder um edifício ao PS ou conceder um empréstimo com juros bonificados aos seus camaradas de governação. Pensava eu que o Mário Centeno poderia ser um belo patrão das contas internas do PS, mas arranjaram mesmo um Patrão, um tal de Luís Patrão. Tecnicamente falido - dizem eles - uma expressão simpática. Faz lembrar a técnica da força ou a força da técnica. Não interessa. Estão falidos. Venha de lá uma execução fiscal, o arresto de bens, o congelamento de contas - aquilo a que está sujeito o zé ninguém, o cidadão anónimo, filiado na ilusão do fim da Austeridade, a fraude vendida por essa mesma casa arruinada. Marcelo devia aproveitar a deixa e propor a elaboração de uma Lei da Falência Técnica dos Partidos. Chega de perdões. Para magoar, tem de doer a todos. A ironia do destino é a Austeridade que o PS vai ter de administrar a si mesmo. Talvez seja boa ideia pedirem ajuda ao Passos Coelho, que sabe como se faz.
Passos Coelho será injustamente lembrado por muitos, mas foi o homem certo no momento errado - "it was a dirty job and somebody had to do it". O homem que agora se prepara para sair da cena política, não escolheu o mandato. O mesmo foi imposto duramente e sem tréguas. A geringonça herdou uma casa arrumada e pôde libertar-se da Troika e de todo um léxico associado à Austeridade. Se houve alguém que teve de pagar um elevado preço político, essa pessoa foi Passos Coelho. E ele sabia-o a cada medida imposta, a cada decisão que castigava o contribuinte português, o trabalhador nacional. A personificação de tudo quanto é sinistro na sua pessoa foi habilmente promovida pela oposição, como se todos os males do mundo português e o descalabro económico e financeiro tivessem sido criados por ele. O Partido Social Democrata (PSD) enfrenta agora outros dilemas. Como se diferenciar e apontar as falhas de um governo de Esquerda embalado pela onda favorável do turismo e receitas conjunturais? O PSD, à falta de candidatos-estadistas para relançar a sua estirpe política, tem forçosamente de procurar noutro palheiro a saída desta crise de liderança e défice de carisma. Rui Rio ou Luis Filipe Menezes se fossem um só, uma soma de partes, talvez pudessem representar o partido com argumentos e credibilidade, mas essa construção não é possível. Se o PSD não foi capaz de produzir uma nova geração de lideres com profundidade e campo de visão (perdão, Luís Montenegro não tem o que é preciso), terá de validar outros vectores, outras propostas, correndo o risco de perder terreno para o ex-parceiro de coligação - o CDS. O processo de recalibragem não depende de uma figura de proa. Sustentar-se-á numa leitura ajuizada da realidade ideológica e política que extravasa os parâmetros de Portugal. O PSD não pode ser um mero agente reactivo ao poder instalado, à bitola ideológica, ao PS, o PCP, o BE e agora o CDS. Exige-se uma lavagem de conceitos operativos, um refrescar de propósitos, um realinhamento sem sacrificar os princípios fundadores, os valores de base. Nessa medida, mais do que homens-estandarte, serão as ideias que terão de se autonomizar. Serão axiomas e conceitos plenos que terão de servir de justificação. Por outras palavras, as respostas estarão na métrica da realidade, como por exemplo o nível recorde de dívida pública. Serão os factos inegáveis que emprestarão credibilidade às propostas, e menos o estilo de discurso ou as preferências de liderança. O PSD, à falta de cão, terá de caçar com gastos não previstos pelo seu guião clássico, tradicional. Se souberem aproveitar a crise estarão preparados para a próxima bancarrota.
foto: Expresso
É impressão minha? Ou já vimos este filme antes? Começam a nascer por todo o lado os mesmos sintomas que conduziram ao dramático descalabro do glorioso mandato socratino. Basta ligar a caixa que mudou o mundo, e mesmo que apenas se colem aos canais do regime, já não passa em branco a azáfama e o caos do Serviço Nacional de Saúde - nada parece funcionar. Depois, um pouco em segundo plano, como se nada fosse, as taxas de juro da dívida que têm regressado ao olimpo da ruptura iminente, têm sido abafadas pela novela quixotesca que opõe Domingues ao governo da Caixa Geral de Depósitos. Mas como cereja em cima do bolo-podre de consternações, desprovido de má-lingua propagandista, lá aparece o raio dos números das pensões mais baixas, das gasolinas mais caras ou do IUC mais a doer. No entanto, estes ingredientes dizem respeito ao quintal cá de casa. Enquanto tiram teimas de geringonça, o Banco Central Europeu (BCE) prepara uma canelada que far-se-á sentir em Abril, mês dos cravas. O BCE iniciará então a redução do seu programa de compra de títulos de dívida de países em apuros da Zona Euro. Passará de 80 mil milhões de euros mensais para 60 mil milhões, pelo que Portugal sentirá efectivamente os efeitos da referida redução. Não sei que bode-expiatório têm programado para chocalhar as hostes, mas prevejo "medidas excepcionais" e "justificações governativas" para o reforço e ampliação do conceito de austeridade, que aliás, em abono da verdade, não se foi com o estalar de dedos demagógicos da geringonça. Entretanto, como as más crónicas superarão as favoráveis, Costa deve seguir o modelo turco com ainda mais afinidade e rigor, e realizar a purga de vozes dissonantes dos meios de comunicação social. Quanto aos bloggers chatos, como eu, mandar-nos calar é mais difícil.
A geringonça está totalmente certa no juízo que faz e na decisão que toma. Para quê investir mais na educação se a moda é falsear currículos? Um corte de 169.5 milhões de euros na Educação é o que está em causa. Não vemos o chefe da FENPROF há séculos, mas agora teria uma boa oportunidade para aparecer de um modo indignado. O que se passa em Portugal? É impressão minha ou a Esquerda já não é o que era? O silêncio do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português merecem preocupações da nossa parte. Afinal não é apenas a Austeridade que está a ser branqueada. Os partidos da libertação do jugo opressor de Bruxelas parecem ter respondido ao chamamento de uma qualquer igreja, de um outro quadrante ideológico. Já viram o que aconteceu no Brasil? O Marcelo Crivella pegou na fivela e deu umas cinturadas na Esquerda brasileira. Devemos temer o efeito de chicote. Quando o povão percebe que não estão a chamar as coisas pelos nomes, rapidamente vira o prego e torce por outra equipa. A Esquerda portuguesa arrisca perder a soma das partes que hoje a define, se continuar a falsear as promessas que faz. E essa noção é básica e transversal a qualquer campo ideológico. É a Democracia, estúpido - aqui, acolá ou nos Estados Unidos. O dito por não dito não resulta. Tem a ver com a licença concedida a um governo para avançar causas que afirmava lhe serem queridas, mas que aparentemente não são. Se eu fosse educador respondia à letra. Contudo, as águas estão paradas. Não sei com que divisa se compra a vacuidade.
Os políticos europeus andam equívocados há algum tempo. Desde que meteram na cabeça a ideia de Austeridade, não existe nada que os possa demover das suas convicções. Não é que os Estados Unidos da América (EUA) sejam desprovidos de falhas graves, mas neste capítulo dão cartas. Trabalham mais do que os europeus. Trabalham mais horas do que os italianos e os portugueses, mas assemelham-se aos suiços e alemães. E isso tem uma explicação clara. A carga fiscal muito menos acentuada, do que aquela montada em tantos países europeus, funciona como um incentivo ao trabalho. A ausência de reformas e pensões substanciais nos EUA também obriga a esforço adicional - penso na carga de trabalhos em que Portugal está metido com as centenas de milhares de funcionários públicos a que tem de dar de mamar. Os sindicatos europeus inventados para proteger os trabalhadores também contribuíram para um certo estado de alma perdulário. Sinto muitas vezes em Portugal, nos vários domínios profissionais em que me movimento, que existe uma certa falta de entusiasmo - um "estou a trabalhar para aquecer". E é isso que este Orçamento (e os restantes) ajuda a eternizar. Ao desgastarem os contribuintes corroiem a natureza intrínseca do empreendedorismo, da livre iniciativa, mancham a alma voluntariosa do indivíduo que acredita que pode mudar o mundo. E é curioso que o Web Summit esteja prestes a começar em Portugal. Aqueles visionários atracam em Lisboa porque a recepção será maravilhosa e as condições ideais, mas atentemos ao seguinte. Os criadores que aí vêm foram gerados em países com um software mental e fiscal adequado. Não sei se o impacto da cimeira será notável. Para os que vêm é apenas uma escala de um processo de desenvolvimento maior. Investir em Portugal? Perguntem ao Centeno e ao Costa.
A bíblia do Orçamento de Estado 2017 tem santos de toda a ordem. Os padres da geringonça apresentam-se com sermões de encantar na mesmíssima paróquia. Por um lado, Centeno invoca os caminhos da justiça e das escolhas - a justiça de tirar e a escolha de não admitir -, e Vieira da Silva, que está junto ao altar, vem com o choradinho demagogo do excedente de pobreza. O ministro da solidariedade e afins refere a pobreza infantil numa espécie de chantagem emocional para justificar a carga contrubutiva. Em nome da criança a extensão de Austeridade pode ser justificada. Pobreza infantil é um conceito questionável. Sabemos o que quer dizer Vieira, mas não sabe expressar-se. É a pobreza dos progenitores que conduz à precariedade infantil. As crianças não devem ser ricas nem pobres. Não devem trabalhar. É bom saber que o convento das belas intenções tem o apoio da Fundação Francisco Manuel (dos Santos!). A gerin do PS e a gonça do BE e PCP subscrevem esta fórmula de intensificação da miséria para ver se o povo engole a pílula de mais austeridade. Mas algo não bate certo. Não era suposto o desemprego estar a baixar e a economia a crescer? Se isso fosse verdade, o Vieira da Silva não vinha com esta cantiga de orfanato. O excelso ministro já teve diversas oportunidades para governar e erradicar a pobreza, mas qualquer coisa falhou ou faltou. É de uma baixeza franciscana servirem-se dos pequenotes para galgar as margens contributivas dos portugueses. Parece aquela conversa de ocasião com que nos cruzamos por aí: não é para mim, é para uma criancinha.
Esta amostra de governo de Portugal quer destruir o país. Se achavam que 28% de imposto sobre mais-valias de títulos financeiros já era a doer, preparem-se para a estocada final. A iniciativa da geringonça, inspirada nos cânticos do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda, visa agravar ainda mais a tributação de bens mobiliários. Estes aprendizes de mercadores não entendem como funciona uma economia, nem para que servem acções transaccionadas em bolsa. Quando compramos títulos financeiros, estamos a conceder um empréstimo a uma ou mais empresas, estamos a tornar-nos co-proprietários de uma operação, estamos a contribuir para a geração de emprego e, naturalmente, em consequência desse estado de arte, os lucros aparecem e são repartidos por aqueles que depositaram meios financeiros, correram riscos, mas também alimentaram expectativas positivas em relação ao desempenho das empresas em causa. Ou seja, esta dinâmica permite suster a economia de um país, tornando-o menos dependente das subvenções do Estado. Ao castrar os agentes económicos activos e passivos, o governo contribui a longo prazo para a insustentabilidade do sector privado. O fundamentalismo económico dos partidos do governo irá tornar Portugal um país cada vez menos atractivo na óptica de investimento. Os aforristas nacionais ou os grupos de investimentos internacionais passarão cada vez mais a percepcionar Portugal como um destino pouco simpático para investir. Por outro lado a evasão financeira será estimulada. Os potenciais investidores de nacionalidade portuguesa procurarão encontrar ambientes tributários mais amenos. A geringonça está a emitir a sua própria modalidade de Austeridade. A marca branca que estão a desenvolver assenta na premissa primária de que a riqueza é um alvo a abater, mas também corta as pernas às aspirações financeiras e económicas dos pequenos cidadãos que sonham com poupanças, um modesto investimento e um pé-de-meia de retorno que uma reforma está longe de poder oferecer. A Catarina Martins e as irmãs Mortágua, co-adjuvadas pelo dependente António Costa e o parceiro Jerónimo de Sousa, afirmam que visam poupar a classe média e atacar a alta. Qualquer dia por este andar não existirá nada para atacar. Nada.
Recado de Mario Draghi do BCE para Mário Centeno da Geringonça: "desenrasca-te, acabou a mama" - por outras palavras - "queres mais dinheiro? Então faz-te à vida com mais Austeridade.
Não existe tal coisa de caça à multa. Foram os próprios condutores portugueses que de mão beijada entregaram 907 milhões de euros à Administração Central em 2015. Este imposto, esta forma de austeridade, é totalmente voluntário. São os condutores que se fazem à estrada que não respeitam o código de estrada, que gastam mais benzina do que deviam, que bebem quando deviam jejuar, que aceleram onde não devem, que estacionam nos locais reservados a deficientes ou que pisam traços contínuos. Aqui não se trata de ideologia, de partidarite, de esquerda ou de direita. Trata-se de indisciplina colectiva, de falta de civismo, de correr riscos com a vida dos outros. É semelhante ao flagelo dos incêndios, com a diferença de servir a colecta - transgredir é uma fonte de receitas para o Estado. No entanto, as polícias de trânsito não fazem mais do que a sua obrigação. Até parece que as brigadas de trânsito têm meios e mais meios para defender a segurança dos portugueses nas estradas de Portugal. Não é verdade. Os agentes de trânsito são quase voluntários, são quase bombeiros. Por esta e outras razões, são os condutores encartados de Portugal (ou nem por isso) que devem decidir se querem continuar a pagar este imposto. O semáforo fechado é sempre culpa do outro. O lugar do deficiente à mão de estacionar é culpa do paralisado. Não há paciência. Não há pachorra. Arranca. Está verde-tinto.
O governo de Portugal está tão desorientado que já se guia pela boa ou má exposição solar. Faz sentido que apresentem esta novidade em plena época balnear. A maior parte dos portugueses está a banhos com o cu virado para a lua. Resta saber qual o factor UV do IMI. Deve haver aqui uma coordenação com o ministério da saúde. Ou seja, um T3 com varanda e sol a irradiar pela sala, é mais propenso a cancros da pele do que uma vivenda insalubre - isso deve ser levado em conta. E as caves húmidas não contam para atenuar a carga do novo IMI? E se a salinha de estar aquecer no Inverno, porque está exposta a Marte, não merece um desagravo? A conta do aquecimento de certeza que será mais baixa. E as roulottes de campismo viradas a sul? E olhar para o sol com um par de binóculos? António Costa e seus muchachos devem ter apanhado uma insolação das boas. Está tudo louco. Estão doidos. A neo-austeridade ainda nos vai surpreender muito mais.
O PSD e o CDS votaram contra o Orçamento de Estado (OE) de 2016, mas nem precisavam de o ter feito. Ao longo dos últimos anos da minha vida tenho vindo a aprender que por vezes nada fazer é o melhor que se pode fazer. O governo de António Costa não precisa de terceiros para cair pelas escadas abaixo. O conteúdo do OE falará por si, e revelará a seu tempo a sua inviabilidade, a sua fragilidade. A Catarina Martins irá aproveitar para extrair mais dividendos de um governo de que não quis fazer parte. Agora percebemos com ainda maior clareza que não deposita muita fé nas promessas eleitorais dos socialistas. António Costa, em vez de se concentrar nos desafios que o país enfrenta, está obcecado com o fantasma do governo anterior. O Partidos dos Animais e Natureza (PAN) bem que quis tratar da questão das touradas, mas Costa esboçou uma chicuelina, atirando para os curros a investida do seu parceiro a solo. Mas o mais grave disto tudo é que fica demonstrado o modo como o governo não consegue caminhar sozinho sem demonstrar tiques de paranóia. Afinal o PSD e o CDS têm muito mais poder na oposição do que tinham no governo. O PSD e o CDS vão chumbar o OE em Bruxelas, vão afogar as agências de rating com menções desonrosas. Vão conspirar no grupo de Bilderberg. Vão fazer macumba junto de prospectivos investidores internacionais. Vão rogar pragas aos agricultores da Beira-Baixa. Vão formar um cartel em Sines para inflacionar o preço do crude em Portugal. Vão fazer falir empresas públicas e privadas para que um terceiro resgate chegue ainda mais rapidamente. A oposição vai governar, deste modo, na sombra escura, e derrubar Portugal. O guião rectificativo da desgraça pode já ser lido na íntegra. Está escrito naquele tomo socialista sobejamente conhecido, dedicado à responsabilidade política, ao sentido de Estado e ao interesse nacional. O que está acontecer era de prever. Mas também de evitar.
Mário Centeno pode ter andado em Harvard, mas parece confundir análise fundamental (que uma economia exige), com análise técnica (de que os especuladores se servem). Ou seja, produz estimativas respeitantes ao Produto Interno Bruto (PIB), mas utiliza factores de cálculo que se alimentam da volatilidade na sua forma mais crua. Quando um trader aposta na continuidade do trend de um título, geralmente o mercado passa uma rasteira e inverte. Nem é preciso ser um técnico de primeira para saber ler indicadores básicos. O Relative Strength Index (RSI) é um indicador mais que suficiente para determinar o nível de overbought ou oversold de qualquer posição ou título. O actual governo de Portugal assume, de um modo descarado, um cenário continuado de preços baixos do crude, quando sabemos, olhando para os gráficos, que a inversão estará para breve. E não será suave. Os últimos anos de recessão a nível mundial determinaram um abrandamento acentuado dos níveis de investimento em infraestruturas de prospecção e extracção petrolíferas. Quando houver um movimento correctivo do preço do barril de crude, a violência do mesmo fará cair por terra a ingenuidade (ou cinismo) de António Costa. O efeito de chicote será muito mais amplo do que a irresponsabilidade socialista. O Orçamento de Estado de 2016 baseia-se em pressupostos de extrema volatilidade e depende de factores instáveis, quando deveria espelhar uma visão prospectiva que conseguisse mitigar os elementos conjunturais ou de circunstância ideológica. Mas existe uma certa coerência nesta abordagem. As vistas curtas condizem com o espaço temporal de um governo cada vez mais a prazo. Não é preciso ser a Comissão Europeia, nem o Eurogrupo, nem Wolfgang Schäuble para entender este dilema. A Grécia nunca esteve assim tão longe.
Aqui está (em actualização).
O impacto negativo decorrente da entrada em funções do governo de António Costa e do processo inacabado do Orçamento de Estado já é quantificável. Os títulos de dívida a 10 anos foram enjeitados pelo mercado, arrastando os juros para valores apenas registados em Março de 2014. António Costa, apontado como salvador da honra nacional, afinal não passa de um operário que trabalha à peça. Primeiro soldou as peças parlamentares para forjar um governo frágil, assente em arranjos e negociações secretas. Depois, apresentou um desenho de Orçamento de Estado que aparentemente foi um notável sucesso junto da Comissão Europeia. E agora, à luz das considerações do Eurogrupo, devemos esperar mais um passe de mágica. Uma carta sacada do baralho ideológico para servir os interesses dos camaradas filiados. A fotografia tirada pelos sindicatos e funcionários públicos parece ter muito mais valor do que o resto. Mas a prepotência de António Costa far-se-á pagar caro. Pode ser que consiga vender as suas promessas a metade do país, mas será a outra metade a pagar a conta. Mário Centeno irá ter oportunidades de sobra para atacar o ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble quando este subir de tom nas próximas semanas. Portugal não vai estar preparado para medidas adicionais de Austeridade. É feio mentir ao eleitorado nacional.
Os governos de Portugal inauguram uma exposição colectiva chamada: "Austeridade de Esquerda - também somos capazes". O governo de António Costa, o governo de Catarina Martins e o governo de Jerónimo de Sousa são os três finalistas do programa - "toma lá disto" -, organizado pela Comissão Europeia. Os três premiados levam para casa mais medidas de austeridade que terão de partilhar com os espectadores. A saber; uma nova contribuição sobre a banca para afastar ainda mais o papão capitalista investidor; um novo imposto sobre produtos petrolíferos que estavam na montra disponíveis para levar com um enfeite de encarecimento; e ainda, o agravamento do imposto automóvel, porque passear ao Domingo já não é a mesma coisa. No entanto, no cabaz falta uma prenda importante: o enxoval presidencial de Maria de Belém que, pelos vistos, será oferecido pelas testemunhas do costume - o povo de Portugal. Nada disto tem piada, mas está pejado de ironia - a Austeridade de inspiração sócio-marxista é de uma estirpe levada da breca, muito pior do que a modalidade normal. Fatal. Afinal os socialistas também são mortais.
Enquanto a caranguejola (upgrade de geringonça) se manteve dentro de portas, lá conseguiram ir disfarçando a coisa. Mais acordo menos acordo, mais entendimento menos entendimento, o PS lá foi aguentando a bronca com o BE e o PCP - para inglês ver governo, entenda-se. Entramos agora noutra fase. Na fase de areia atirada aos olhos de Bruxelas, o período para inventar desculpas esfarrapadas - mentiras que não vão longe. Como se na Comissão Europeia fossem todos burros e não tivessem exigido, preto no branco, a discriminação de medidas temporárias ou definitivas. A seguir, depois deste problema de défice cognitivo em Bruxelas, será uma questão de faxes enviados e não recebidos, um problema criado por tradutores e intérpretes, a impressora que ficou encravada, enfim, um conjunto de miudezas lançado por um governo que nem é temporário nem permanente. A Comissão Europeia já está em Lisboa para que não haja mais artimanhas de conversa fiada de António Costa. Tudo isto é desprestigiante para Portugal, mas não apenas. A palavra dada e não honrada tem valor de mercado. As agências de rating têm razão, quer se goste ou não. E cumprem outro papel. Funcionam como tribunal arbitral das falácias governativas. Os mercados são um tribunal implacável. Não prendem preventivamente quem quer que seja. Condenam na hora o desempenho de políticos e estabelecem logo o valor da coima que um país deve pagar. E é esse o grande problema de um governo de ocasião parlamentar - as decisões que tomam não preenchem os requisitos da sua própria definição. A haver um "nem peixe nem carne" de um guisado a três que envolve o PS, o BE e o PCP, Portugal será percepcionado quase sempre com suspeição, como destino de risco para qualquer entidade com juízo. Os investidores olharão de lado cada vez mais, preocupados com os malefícios de um agente executivo duvidoso. António Costa, ao lançar dúvidas sobre a capacidade de entendimento documental da Comissão Europeia, põe em causa o rigor dos outros, a competência de instituições fundadas sobre premissas de verificação e controlo apertados. Em poucas palavras - António Costa lesa a pátria e tarda em reconhecer o seguinte. Não irá revolucionar coisa alguma. As medidas de Austeridade não serão desagravadas e o povo de Portugal exigirá a este governo um preço alto pelo embuste populista que assalta eleições, mas que não rende um país inteiro. Geringonça, uma fava.
Não escutei a mensagem de Natal de António Costa. Nem precisava de o fazer, mas li as notas de rodapé coladas aqui e acolá. Já sei que o primeiro-ministro sublinha as virtudes da sua plataforma à Esquerda, mas não agradeceu a Direita "instransigente" que o PSD corporiza, pela ajuda dada na aprovação do orçamento rectificativo e da contribuição extraordinária de solidariedade. É apenas um pormenor, contudo revela que afinal António Costa não é o democrata de consensos alargados e entendimentos que tão vocalmente apregoa (para além de ser politicamente malcriado). António Costa repete vezes sem conta que vivemos um "novo tempo" em Portugal, ao que acrescenta que grandes dificuldades são de esperar no futuro que se avizinha. Então? No que ficamos? Vira a página ou reconhece que os portugueses ainda vão ter de suportar muitos (e mais) sacrifícios. Em vez de viver o presente, celebra antecipadamente os 30 anos de adesão à Comunidade Económica Europeia, os 40 anos da Constituição da República Portuguesa e os 20 anos dessa organização lírica conhecida por Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). E ainda tem tempo para enviar um abraço às comunidades portuguesas no estrangeiro e aos militares em comissões além-mar. O que discorre em ambiente festivo soa a paleio de velho jarreta, quando o que se lhe exige é uma visão pragmática e assertiva respeitante ao novo ciclo que se lhe escapa ao controlo, e em relação ao qual Portugal vai beneficiar sem que este governo faça a ponta de corno. Será o Banco Central Europeu (BCE) a evitar o descalabro deste governo-soma de ocasião. A continuação do programa de aquisição de títulos de dívida da parte do BCE está prevista até Março de 2017. Ou seja, até lá, eventuais e mais que certas anomalias de tesouraria serão camufladas por este mecanismo monetário da Zona Euro. Na mensagem de Natal António Costa referiu isto e agradeceu os senhores da gleba monetária? Se alguém souber, e puder confirmar, por favor envie-me um telegrama. E ainda, na mesma senda de omissões e irregularidades, o que está a suceder em Espanha foi referido na mesma missiva natalícia como factor de volatilidade na cena política-económica nacional pelo primeiro-ministro? Se alguém ouviu alguma coisa a esse propósito, queira fazer o favor de me enviar um postal, para que eu fique descansado que este governo tem mais do que mãos a medir para a TAP, e tudo o que permeia os céus e a terra. Afinal o Pai Natal é socialista de gema - tem tudo e dá a todos.
Sem demoras e sem rodeios: quem controla a estrutura accionista do Santander? Quais as ligações dessa instituição financeira ao PSOE (Partido Socialista Obrero Español) e ao Partido Socialista cá do burgo? Por que razão António Costa decreta tão celeremente o apoio a esta causa com o dinheiro dos contribuintes? Por que razão, em nome da ideologia anti-especulativa, a Catarina Martins ou o Jerónimo de Sousa não nomeiam directores-executivos para o conselho de administração do Santander Totta? Como é possível António Costa ser igual aos ex-governantes que ele tanto criticou? E por último; quais as novas medidas de Austeridade para fazer face às novas despesas de tesouraria? Talvez os socialistas do Rato possam pedir um empréstimo aos de Moncloa, se estes chegarem a mandar naquela casa. Como vêem, nem sequer foi necessário usar a palavra Banif uma vez sequer. As eleições em Espanha já sopraram os seus ventos para o largo do Rato.
Não existe dilema algum que possa afligir o governo de António Costa. Para poder ser um mãos largas, o homem de carteira farta, terá, inevitavelmente, de encontrar um modo de angariar fundos. A não ser que readmita a impressão de divisa própria, o cunhar de moeda, os socialistas vão ser obrigados a seguir o guião grego. A Austeridade não foi nem será exterminada pela máquina ideológica de Esquerda. De nada serve vir com essa conversa da almofada financeira. Para cumprir com as promessas de aumento de salário mínimo, reposição de pensões, fim da sobretaxa ou cancelamento de programas de privatizações, a balança terá de pender negativamente para o lado do défice e da dívida pública. Durante meses a fio, ao longo da campanha do PS, não se eximiram de apontar defeitos e acusar o governo anterior de falsear dados. Se essa era a situação "a lamentar", então o exercício da governação de António Costa deveria ser business as usual. Não se deveriam apresentar como damas ofendidas pela palavra dada e não honrada. Os testas socialistas, coadjuvados pelos bloquistas e comunistas, têm a faca e queijo na mão. Não precisam de governar em virtude de consensos parlamentares. São a tal maioria de que tanto se orgulham. O PSD e o CDS até nem precisariam de pôr os pés na freguesia da república.
Não domino a língua arménia, mas farei o meu melhor para traduzir a mensagem; " a CGTP sai à rua para exigir a derrota da política da Direita". O que Arménio Carlos quer dizer, como se não tivesse sido empossado um governo de Esquerda, é para os ouvidos do camarada António Costa. Por outras palavras: não é líquido que a coligação PS-PCP-BE defenda os interesses dos portugueses nos moldes desejados pela inter-sindical. E Arménio Carlos tem razões para estar desconfiado. O governo, de alegada inspiração socialista, está obrigado a continuar as medidas de Austeridade herdadas do governo anterior, ou, na melhor das hipóteses, afastar as contribuições fiscais mais visíveis e substituí-las por outras mais "silenciosas", mas igualmente penosas. Se Arménio Carlos nem sequer deu 48 horas ao governo de António Costa para que as suas reivindicações fossem acolhidas, significa que o representante de grande parte dos trabalhadores portugueses pensa que pode ter sido enganado. Em suma, o facto de haver um governo socialista ao leme dos destinos de Portugal, não implica necessariamente que haja um corte com as fórmulas do executivo anterior. Eu já sabia isto, mas não sou o único. Pelos vistos aqueles que mais sofrem na pele também o sabem. António Costa fica avisado. A oposição que vai conhecer, não reside apenas no Parlamento. É cá fora, na rua, que elas contam.
Hoje não é o primeiro dia do que resta da vida política do Partido Socialista. António Costa é o primeiro-ministro de Portugal. Fica demonstrado que ser perseverante e ardiloso produz resultados neste país. No entanto, resta saber qual será o preço a pagar no curto prazo. O cepticismo em relação à solidez dos acordos à Esquerda não é um exclusivo dos adversários da Direita. Esse facto transcende noções ideológicas ou partidárias. Tem a ver com dimensões formais e também com a substância que aproxima ou afasta as diferentes forças da Esquerda portuguesa. Mas é também aqui que reside uma boa parte da falha tectónica. O Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português enfrentam alguns dilemas existenciais, de identidade. Se o que esteve em causa neste processo foi derrubar o governo de coligação a todo o custo, e tendo sido alcançado esse objectivo, não vejo como possam manter a disciplina colectiva necessária à estabilidade governativa quando outras matérias de gestão política corrente venham a lume. Por essa razão estamos perante um governo a prazo. Mas existem outras razões. A não ser que um novo partido nasça a partir deste arranjo conveniente - o Partido Socialista Bloquista Comunista de Portugal (PSBCP). Contudo, para que tal aconteça, cada uma das partes da trapologia política teria de abandonar a sua missão individual e migrar para uma entidade ideologicamente amorfa. A "nova" oposição PSD-CDS tem capacidade para ler o mapa de fissuras do novo governo de António Costa, e certamente que saberá causar algum desconforto ao lançar propostas e temas geradores de hipersensibilidade ideológica. É natural que o faça e é expectável que o faça na qualidade de proponentes da oposição. António Costa, mestre na arte da decepção e aproveitamento políticos, deve iniciar a sua senda de iniciativas legislativas e de governação com matérias de fácil consenso com os seus colegas de extrema-esquerda. Um pouco mais tarde, quando os fundos de gestão corrente começarem a faltar, e a austeridade for apresentada como último recurso, teremos os primeiros indícios de desacatos sem que o PSD ou CDS tenham de mexer uma palha. Existe uma frase em inglês que serve na perfeição para relatar o que está para acontecer. No entanto, acrescento uma nuance à mesma: "it will be a self-fulfilling socialista prophecy". João Soares, que percebe que se farta de cultura, nem precisa de traduzir.