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As campanhas autárquicas aí estão em toda a sua força e esplendor. O surrealismo dada, dado, oferecido nos outdoors, de norte a sul do país reflecte uma constatação mais profunda - o modo artesanal como a política é exercida em Portugal. As agências de comunicação especialmente concebidas para criar as mensagens políticas acertadas são inexistentes, ou existem apenas para as cúpulas. Por outras palavras, significa que os partidos políticos não estão interessados em disponibilizar os seus meios numa base equitativa e coerente, de Coina a Manguito de Baixo. Mesmo as campanhas dos grandes como Costa, Seara ou Menezes estão pejadas de absurdidades e frases feitas a martelo - "Estacionamento gratuíto para residentes em toda a cidade" (atenção, será que a frase é mentirosa ou é apenas um encadeamento de palavras com sentido variado, caro Seara?). Significa que um residente de Benfica pode estacionar em Campo de Ourique à borliu? Não me parece, mas é o que diz o slogan de ocasião. O tutti-frutti de cores e gostos políticos duvidosos revela o falhanço cultural do país - a incapacidade de se rever de um modo crítico, com sobriedade e inteligência. A soma de todos os disparates que avistamos em cartaz, nas rotundas ou à entrada dos pueblos, nada trará a um país carente de uma solução integrada. A explosão de democracia, cujos estilhaços são agarrados por uma corja de desesperados políticos, apenas serve para diluir uma grande estratégia nacional. A Esquerda ou a Direita há muito que deixaram de existir, mas continuam a servir de poleiro para extravagâncias e reinvindicações furadas. O folclore das autárquicas não é apenas visual. Os chefes estão a perder as suas vozes e não apenas no sentido literal. Os argumentos são gastos, reciclados e pouco credíveis. Seguro e Semedo (a que se seguirão outros mais resguardados das correntes de ar) não aprenderam a colocar a voz. São cantores espontâneos, amadores que descuram detalhes e ignoram a técnica. É tudo feito às três pancadas e por isso não têm pernas para andar. Andam por aí, a fazer quilómetros em vão, porque os dados já foram lançados. Há eleições no domingo e essas não levam em consideração os arraiais de feira e os jantares-convívio. Seja qual for a expressão da vitória da Merkel, a Alemanha poderá retomar a política virada para o exterior. Durante os últimos meses, a chanceler alemã teve de demonstrar perante os seus eleitores que o seu "core-business" é germânico, mas com a sua reeleição, a política das periferias voltará a fazer parte da sua agenda de um modo intenso, com a Grécia à cabeça da lista das suas preocupações. A austeridade dos outros será um dos lemas despejados com a mesma intensidade de outros ciclos. Tempos difíceis avizinham-se para a Europa, porque o preço a pagar não será realizado integralmente pela centralidade, pelo norte. As agências de comunicação política na Alemanha sabem o que estão a fazer, mas isso é um factor que em nada ajuda Portugal. Pode parecer que a festa autárquica se encontra nos antípodas do que se passa na Alemanha, como se a dança de cadeiras acontecesse num mundo à parte e não tivesse importância. Mas não é bem assim, está tudo encadeado e interdependente. E nada disso está presente na consciência política de candidatos à freguesia ou repetentes de câmara. Os seus slogans políticos ficam-se pelos limites de um conselho pouco sábio. Tudo isto é fado, tudo isto é tão triste.