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Finalmente, acabou o circo em que qualquer eleição em Portugal se transforma.
Alguns pontos:
António Costa tem maioria em Lisboa. Um dirigente socialista que ganha votos como Isaltino ganha em Oeiras. Com obras. Dinheiro público gasto em rotundas, dinamização de áreas (como o Martim Moniz) e requalificação de estradas (é ir passear pela Av. da Liberdade e pela Baixa). Até aqui tudo bem. E quando digo tudo bem estou a ser irónico. O dinheiro público devia ser aquele mais escrutinado. António Costa revelou-se como um autarca ao nível de Isaltino e este está preso. Ao impedir que o relatório sobre as obras camarárias fosse tornado público só quer dizer uma coisa: há dados a serem escondidos. Outro factor bastante importante para se ler a presidência de Costa é observar com mais detalhes alguns dos negócios que o próprio concluiu. Mudar os serviços principais da CML para o Intendente onde o palacete foi renovado com o dinheiro de todos e ainda paga uma renda de dez mil euros é, no mínimo, má gestão. Quando isto tudo é feito e o senhoria é amigo de Costa, a coisa torna-se criminosa.
Do outro lado, Fernando Seara ganhou um lugar em Bruxelas. Só por essa razão teria motivo para entrar numa eleição, derrotado à partida. Mais um exemplo de politiquice.
No Porto, o país regozija-se por Rui Moreira, um ''independente'' ter ganho. Ora, Rui Moreira vem do PSD. Rui Moreira teve o apoio do CDS nesta campanha e até Diogo Feio discursou. Os dicionários de Língua Portuguesa, talvez graças ao novo acordo ortográfico, deixaram de ter o significado da palavra ''independente''?
Em Sintra ganhou o primo Basílio. Era expectável. Na lista do PSD constava Nicolau Breyner. A política ainda não uma telenovela. Ou talvez seja.
Na RTP, Clara de Sousa diz que as eleições custaram 14 milhões de euros e conclui com ''é este o custo da democracia''. Não é nem devia ser.
Por ora é tudo.
Resta lamentar que José Mourinho voltou a não ganhar.
Podemos adoptar duas atitudes relativamente ao nosso futuro colectivo imediato. Ou acreditamos nele e apostamos nele. Ou dispomo-nos a desistir, sendo que desistir é morrer, mesmo que só seja emigrar. Os desafios colocados pela Troyka, por causa da dívida cavada pela Gestão Política em Portugal até 2011, são, na verdade, os velhos desafios colocados pela Política à Portuguesa a si mesma e a nós: durante anos, mesmo décadas, toda a noção de obra materializava-se em estruturas físicas, basicamente, e na parecerística cara contratada fora do Estado para coisa nenhuma a não ser para bizantinar e tornar inextricáveis contratos como os swap, as ppp e estupros colectivos a prazo similares. Chegou a hora em que as dimensões espirituais, culturais e humanísticas, farão toda a diferença no grande menu dos principais centros urbanos nacionais e, logo, dos Governos com Estratégia Nacional. Em vez de uma rotunda, um ciclo de Música Popular; em vez de um Anfiteatro, de um alargamento de Cemitério, de uma Sala sumptuosa para Reuniões e Espectáculos, uma Semana de Teatro e Poesia e a profusão de grupos, devidamente apoiados e acarinhados pelos poderes públicos e pela comunidade, onde iniciativas de Arte pontifiquem. Aqui se inscreve a minha confiança total nos munícipes que investem parte dos recursos autárquicos em manuais escolares gratuitos, em medicamentos comparticipados, em residências municipais sociais, Infantários, ou mesmo em vacinas fora do plano nacional igualmente gratuitas. As pessoas, primeiro, e não há melhor investimento quanto aquele que dignifica vidas, premeia responsabilidades assumidas e incentiva a excelência. Não alimento qualquer espécie de receio do futuro, no plano local. O futuro já está a ser moldado segundo a pedagogia da escassez do dinheiro e das crassas dificuldades que cada um experimenta só em sobreviver em Portugal. Portanto não concebo as nossas grandes cidades alhearem-se de um apoio muito concreto e inteligente a idosos sós tal como a famílias com baixos rendimentos. Um município rico pode e deve ser um município da gratuitidade em domínios absolutamente incontornáveis no plano social, ensino e saúde, e mesmo no combate ao desemprego pelo desbloquear de um reabilitação urbana acelerada especialmente nos centros históricos, onde a atenção dos turistas se concentra e onde geralmente mais se dispõem a consumir. Não se trata de mais emprego autárquico, de mais empresas municipais. Trata-se de não andar a passo de caracol na revolução da malha urbana dos centros históricos de Porto, Lisboa ou Coimbra, por exemplo. Entretanto, os cortes apresentam-se-nos no horizonte como inescapáveis para fazer face às nossas necessidades de financiamento de curto, médio e longo prazos. Para garantir mais dinheiro, o Estado Português, nós, dependemos ou de mais impostos ou de mais supressões de despesas fixas. Não há volta a dar: qualquer família em que ambos os cônjuges ficaram desempregados sabe como regressar a um módico de equilíbrio financeiro doméstico, com que privações e com que dores, até voltar a levantar a cabeça. Desde logo, mediante um fundo de meneio diligentemente alimentado e irrenunciável. O Estado Português terá de comparecer de testa alta, credível, digno de confiança, junto de quem nos empresta dinheiro, amortizando o máximo de dívida possível, como há dois dias, coisa que se repercutirá na confiabilidade para toda a espécie de novos investimentos provenientes do exterior. Um Estado Dubitativo, Hesitabundo, em crise quanto ao caminho a seguir por um significativo desafogo das nossas contas, não atrai dinheiro, nem inspira confiança. Acabou o investir em estradas? Invista-se nas ideias, nos negócios inovadores com margem de progressão planetária. Não há futuro sem a obtenção do respeito do credor pois as intervenções troykistas só se dão em Países comidos de corrupção, com décadas de descontrolo legífero e hábitos manhosos de indisciplina orçamental a fim de satisfazer os estômagos estabelecidos dos mesmos que, segundo Paulo Morais, fazem do Parlamento a sofisticada plataforma de negócios que em nada interessam aos cidadãos, caos cultivado e acalentado pelos vampiros habituais dos orçamentos, basicamente um conluio entre banqueiros sem escrúpulos, políticos sem escrúpulos e construtoras sem escrúpulos, todos eles bem na vida, todos eles com um tipo de sucesso pessoal que esmaga milhões e os condena, todos eles com bom fato e gravata e o dinheiro como ídolo e finalidade religiosos. Confio inteiramente no futuro em Portugal, mau grado os sinais depressivos e os riscos e terrores de falhar, mas é preciso que o PS deixe de vender ilusões e demagogias, para crescer em credibilidade e merecer o respeito que não merece de todo; é urgente que os partidos de Esquerda, abanando-se com o grande leque do Verbo Rebuscado e a perpétua Indignação profissional por tudo e por nada, abandonem a retórica ultrapessimista, amarga e sem esperança, em completo desuso nos países mais prósperos. Não é com doses cavalares de depressão e de petrificação mental, não é com um estado psíquico raivoso, insultuoso, mais insatisfeito que uma mulher mal-amada, frustrada aquém-orgasmo, que se dá a volta ao Pato Feio de Perversão made by Troyka, Pacto criado e atraído por quem perverteu a Política, por quem sujou as mãos com negócios, negociatas, fretes e fellatios, bons para a Banca, bons para as Construtoras, excelentes para as MegaFirmas de Advogados, e que se revelaram horror para nós, desgraça para nós, condenação e vexação para nós. É preciso rejeitar a Mentira, a Impunidade, e as narrativas mariquescas de auto-absolvição desavergonhada 2005-2011.
Saber que as eleições autárquicas estão quase a ter lugar e, consequentemente, que o término das campanhas eleitorais se aproxima, causa-me sentimentos conflituais. Não sei se me sinta aliviado ou triste por nos tirarem esta fonte de diversão.
O Flávio Nunes, com apenas 18 anos, é candidato pelo MPT à Câmara Municipal de Tomar e fez aquele que é provavelmente o melhor hino de campanha destas autárquicas. Tomara muitos políticos profissionais e marketeiros terem capacidade para fazer algo tão criativo, divertido e apelativo, tecnicamente muitíssimo bem realizado e, não é despiciendo referir, com parcos recursos financeiros.
Para todos aqueles que estão impressionados com o grau de boçalidade e amadorismo dos cartazes da miríade de candidatos às autarquias eu digo: bem-vindos ao Portugal real!
Esta é a gente que faz a base que sustenta este país. Quantas vezes após ouvir os sketches do Gato Fedorento, eu abanava a cabeça num gesto lento e comprometido, apertando nos lábios um sorriso matreiro a querer escapar, dizendo: “A forma de falar do matarruano é igualzinha à de um tio meu…” Bem, na verdade, igualzinha à forma de falar de vários tios, padrinhos, pais e avós de muita gente que eu conheço. E até vos digo que houve muitos momentos em que nem achei tanta graça assim aos saloios que eram caricaturados pelo grupo de humoristas: é que a realidade rural, para quem cresceu com ela, é bem mais divertida, caricata e surreal: é inimitável! Mas tudo bem, para os tipos da cidade, muito urbanos e cosmopolitas, pouco acostumados a lidar com fauna autóctone, acredito que tenha funcionado como uma revelação hilariante.
No entanto, creio que os consumidores de humor, citadinos, snob, yuppies e muito kosher, mantiveram na cabeça a ideia que aqueles personagens não passavam de uma ficção; que aqueles *bonecos* não passavam de uma caricatura exagerada de uma minoria diminuta e em vias de extinção. E eis senão quando chegamos à campanha para as autárquicas de 2013. De repente toda essa gente que alguns julgavam recôndita sem visibilidade surge estampada em cartazes, sem maquilhagem nem Photoshop, com olheiras, manchas, rosácea e cabelo desgrenhado, a escrever como falam, vestidos com a roupa de domingo. Um espectáculo de descontracção tão cândido como absurdo. Desconcertante.
Poderão alguns perguntar o que é feito das agências de comunicação e que isto tudo é um espectáculo péssimo, meu deus, de onde saíram estas aves raras e todas estas mulheres? Agora as mulheres estão também na política local?! Deve ser aquela coisa da igualdade… agora tem que ser tudo igual, mesmo que seja intrinsecamente desigual. Fica sempre bem ter mulheres num cartaz, é como uma moda. Pelo menos uma! Cai bem… E muito independentes! O que está a dar é ser independente! (mesmo tendo-se um passado político, mesmo sabendo-se que as ideias são todas iguais às de outrora e que os métodos para aplicar essas ideias serão sempre os mesmos, mesmo que o dinheiro que paga os cartazes seja do mesmo sítio de onde sai todo o dinheiro para estas coisas…)
Sejamos francos: quem é realmente independente e assim se quer manter, não ambiciona exercer cargos políticos de qualquer espécie. Estar na política é estar comprometido.
Pessoalmente acho tudo isto delicioso e estou maravilhada. Gosto da naturalidade, da verdade, sem maquilhagem, sem spin doctors. A realidade é o que é: para quê dourar a pílula? No final, quando cai a máscara, quando se descasca o verniz, constatamos sempre a mesma mediocridade. Nestas eleições não há expectativas e não há surpresas. Ao menos sabemos ao que vamos. Digamos que será um voto por amor e não por interesse - os candidatos não têm interesse nenhum!
Finalmente, os proponentes da democracia têm o prazer de ver o sistema funcionar em todo o seu esplendor. Depois dos 15 minutos de fama para o povão, temos os quatro anos de mandato. Andou-se a fazer por isso… Teremos as câmaras e juntas ocupadas e “governadas” pelos espectadores do Big Brother e do Você na TV, os ávidos leitores da “Maria”, groupies de Tony Carreira. Gente para quem um filme Clássico é o Amo-te Teresa ou aquele do… como é que é? - aquele de porrada - o do Stálóne!
Meus caros amigos leitores, eventuais compatriotas: alegrai-vos! Para quem não sabe para onde vai qualquer destino serve e o fundo serve-nos na perfeição. Gosto quando se bate no fundo pois significa que em seguida só poderemos subir. Ou não. Tanto faz.
Enquanto houver dinheiro vamos ter de assistir a este triste espectáculo decadente e a muitos outros que ainda hão-de vir. É o que temos.