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O PC e o BE não viram as obras e reagiram antes do tempo. O artista pregou uma partida ao departamento cultural de S. Bento e em vez de Carmona, apresentou um busto do seu contemporâneo José Estaline. Fica então reposto o equilíbrio.
...há uns 102 anos. Uma ínfima e violenta minoria eleitoral conseguiu derrubar um regime legítimo e infinitamente mais tolerante que aqueloutro desastrosamente parido em 1910. O notoriamente minguante Bloco, vendo as principais ratazanas abandonarem a chalupa furada - agora até já fazem olhinhos para umas cadeiritas "independentes de esquerda" em S. Bento -, opta então pelo golpe, militar de preferência e com craveirada reeditada. Foi o Senhor Rosas quem alegadamente o garantiu.
Num Bloco em claro declínio, olhou para o relógio no momento exacto. O meu vizinho Francisco Louçã saiu do Parlamento, regressando aos seus afazeres profissionais. Fica então o BE reduzido a uns tantos desconhecidos e pouco cativantes patuscos. Muito aqui se criticou o ainda chefe oculto do BE e tal se deve à persistência com que defende um modelo caduco e claramente opressivo que flagelou povos mundo fora. Esteve sempre do lado errado, procurando dourar a prepotência com palavras de uma pretensa igualdade que sem qualquer dúvida, sempre significou um tabelar por muito baixo, obrigando milhões ao livre arbítrio de uns tantos lunáticos.
Teve e ainda tem uma agenda oculta que todos conheciam? Decerto e sabendo bem os portugueses o que significaria uma sociedade organizada segundo os moldes exigidos pelo BE, a resposta chegou sempre através daquele exercício que assusta aqueles que muito falam de democracia, mas que odeiam a sua forma basilar de exercício: o voto.
Ao contrário dos ditirambos que hoje podemos ler online, Louçã nem sequer foi um Acácio Barreiros ou um grande orador comparável àqueles que durante o século XIX povoaram S. Bento, limitando-se O Coordenador a fazer a gestão ou contabilidade dos dizeres da mais clara propaganda, a panóplia facilitista do bota-abaixo populista. Nunca apresentou uma proposta credível para a resolução dos principais do país e consequentemente, daqueles que vegetam sem emprego e sem futuro. As frases há muito feitas e noutras gerações escutadas como promessa de apetitosos manás, a crítica pelo eterno convencimento da baixeza de outrem, o infalível apontar do dedo aos outros que arcam com as responsabilidades do exercício do poder - o famigerado arco governamental -, a farsa do amor à liberdade - enquanto na sede partidária se dependuram cartazes de facínoras internacionais -, a fria e ostensiva recusa do cumprimento das mais corriqueiras normas da cortesia institucional - até para com Chefes de Estado estrangeiros, tal como sucedeu com um grande amigo de Portugal, o rei de Espanha -, eis a verdadeira soma, o saldo da sua actividade parlamentar. Homem conhecedor das matérias em que profissionalmente se especializou, poderia ter oferecido um contributo positivo, definitivamente alijando a quimera de um sonho totalitário sem nexo e que roça a psicopatia. Em suma, o Louçã do cilício vermelho sempre pareceu garantir de existência de um inesgotável pote de ouro, deliberadamente escondido no outro lado do arco-íris pelo péfido "sistema liberal" que rouba por mero exercício da maldade, da avidez. Nada mais simples, nada mais fácil para convencer uns tantos.
No entanto..., habituados como estamos à miséria franciscana dos nossos debates parlamentares desta 3ª república praticamente morta, o retintamente burguês Louçã prendia-nos a atenção, obrigava-nos ao por vezes irritado comentário e à adivinha daquilo que pretendia. Não era difícil imaginarmos o que verdadeiramente queria impingir, há muito todos o sabemos, mas insistíamos em lobrigar algo de diferente na sua ora sempre recheada de ditos espirituosos e fatalmente achincalhantes do adversário do momento, semeando a suspeita pessoal que mina as instituições. A "desonestidade dos outros" era a sua probidade quase ascética do "homem do autocarro" e essa mensagem foi incansavelmente difundida com o sucesso que se conhece. Um típico modelo decalcado da conhecida caixinha de exemplos dos anos vinte e trinta.
Num universo político de pataratas eleitos por lista, os círculos uninominais poderiam trazer-nos uma dúzia de Louçãs de vários cambiantes de esquerda e de direita. Um risco? Sim, mas demasiadamente valioso para ser desperdiçado.
O senhor doutor Miguel Portas decidiu-se por mais uma originalidade, no melhor populismo de que o seu partido faz gala. Desta vez propõe a maioridade eleitoral para os dezasseis anos, exactamente no país onde um aluno do liceu ainda mal consegue interpretar um texto, desconhece os rudimentos da História do seu país e encara as aulas como mero frete que serve de antecâmara ao fim de semana de borga. Uma campanha eleitoral é isto mesmo e a democracia é maravilhosa, pois permite que tudo seja dito, mesmo tratando-se de qualquer asneirola arrotada após o bebericar de uns copos no Bairro Alto. Ao que chegámos... e ainda falam eles de Le Pen!
* Nota: provavelmente o BE pretende desprestigiar o próprio sistema democrático-eleitoral. Aqui está uma boa forma de incentivar a abstenção, encorajando os fanáticos do costume.