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O mar morto do terrorismo

por John Wolf, em 20.05.16

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O desastre do avião da Egyptair, a confirmar-se como sendo um ataque terrorista, inscreve-se num quadro operacional e estratégico preciso. Se o inimigo pretende infligir o maior desgaste possível ao adversário, fá-lo-á de modo a dificultar a localização dos destroços e eventual recolha de corpos. O mar serve esse conceito de projecção de poder negativo. Na sua imensidão líquida registamos dimensões de natureza geomarítima e outras envolvendo diversos conflitos jurisdicionais. Os passageiros, de nacionalidade diversa, obrigam os respectivos Estados a colaborar na acção logística de busca, salvamento ou recolha de corpos. Este efeito aglutinador propõe a emergência de comunidades de interesses positivos. Serve para aliar governos de países em torno de uma mesma causa anti-terrorista. Ou seja, no longo prazo, erode os fundamentos da dispersão de actores, desejada pelo Estado Islâmico. Não será descabido reflectir sobre a intencionalidade da "escolha da zona de impacto". Estarão as células organizadas em torno de uma lógica de activação de engenhos de acordo com um mapa de desgaste? Os ataques do 11 de Setembro serviram para inaugurar novas abordagens e modelos a este respeito. A equação de origem, destino e posição relativa, deve ser relevada. O facto do voo da Egyptair ter origem em Paris tem uma importância acrescida. Planta na base um efeito psicológico acentuado, como se o Mediterrâneo fosse uma extensão da centralidade europeia, uma filial de Bataclan. São considerações que envolvem uma certo grau de elasticidade conceptual que devem ser tidas em conta. O terrorismo cavalga essa dinâmica pendular. Lockerbie, ataque continental e aparatoso, por ter sido testemunhado, inscreve-se num modelo distinto. No mar Mediterrâneo não houve observadores que pudessem confirmar o desenrolar conducente ao impacto. Confirmamos deste modo que a ausência de espectadores não constitui um detractor das intenções terroristas. Para já, e na ausência de elementos que confirmem que se trata de um ataque terrorista, devemos colocar em cima da mesa todos os vectores de análise de um fenómeno geopolítico residente. Por outras palavras, a determinação do ritmo de eventos terroristas permitirá um certo grau de calendarização. Vivemos, lamentavelmente, sob os auspícios da expectativa negativa. E isso é desejado pelo adversário.

publicado às 18:49





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