Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Desta vez há que elogiar o serviço que a SIC N prestou ao transmitir a série 37 Days, da BBC.
Quase todos apontam a Alemanha e o Kaiser Guilherme II como os únicos responsáveis pela eclosão do conflito, mas a verdade foi desde sempre conhecida, embora escassamente aceite pelas multifacetadas opiniões públicas.
O resvalar para a guerra obedeceu aos interesses de cada uma das grandes potências e a uma miríade de enganos, mal-entendidos, expectativas goradas e vaidade de alguns dos intervenientes, um jogo perigoso que conduziu a Europa à destruição. Infelizmente, os autores da série não se interessaram pelo decisivo papel representado pelas autoridades da Sérvia, ansiosas pelo liquidar da Áustria-Hungria. O governo de Belgrado claramente patrocinava os grupos subversivos e a pegada Dimitrievic era muito evidente, sendo difícil separar a condescendência dos governantes de Belgrado, da autoria moral e material do crime de Sarajevo. Outro aspecto que é uma novidade para a maioria dos telespectadores, será a imagem que nos fica dos soberanos das principais monarquias em liça. Os imperadores da Áustria e da Alemanha, o czar e o rei Jorge V, parecem muito cerceados daquele poder omnipotente que lhes era atribuído - especialmente no que se refere aos três imperadores -, evidenciando-se então o papel desempenhado pelos diplomatas onde Paul Cambon surge de forma episódica mas decisiva, as discórdias entre os membros dos governos das potências - sobressaindo o relativamente prudente chanceler Bethmann-Hollweg - e também, a pressão exercida pelos militares. Um mês de decisões erráticas, hesitações e porque não dizê-lo?, de múltiplos e recíprocos wishful thinking que levaram a Alemanha, Áustria-Hungria, Rússia, a França e o Reino Unido à guerra.
Uma série a não perder.
O debate acerca da privatização da RTP, agora convertida em reestruturação conduzida pelo prestimoso Relvas, é uma daquelas chinfrineiras em que todos vociferam e ninguém se entende. É fácil perceber o porquê desta desinteligência. Quando a nebulosa dos interesses é demasiado dilatada, ninguém está disposto a perder o seu quinhão de privilégios. É, porventura, por essa razão que as opiniões são tão desencontradas quando se fala em conteúdos de serviço público. A medida do ridículo foi há muito superada pela ignorância dos ditos analistas que, contrariando as regras do bom senso, dizem tudo e o seu contrário, sobretudo aquele género de pantominas que servem unicamente para encher a pança do populacho: os preços certos que prometem mundos e fundos e espalham minuciosamente a ignorância. Os mandarins autóctones poderiam aprender alguma coisa com os seus homólogos britânicos. Os exemplos abundam e não são nada despiciendos. Um bom exemplo, daqueles que deveriam fazer escola, e, simultaneamente, fazer corar de vergonha os "donos" dos ditos conteúdos, é o recente projecto da BBC, levado a bom termo, de colocar online uma ampla colecção de pinturas das mais variadas épocas, disponibilizando assim, o acesso à arte pictórica a uma larga plateia. Para quem anseia por bons exemplos, ou na novalíngua em voga, pelo "benchmarking" do óptimo lá de fora, o paradigma atrás citado é um bom modelo de captação de públicos. Coisinhas simples que cá, neste burgo infestado pelo curto-termismo e pela política da terra queimada, não interessam a ninguém.