por Pedro Fontela, em 21.07.08
Caro Provedor,
Escrevo este email para comentar apenas um assunto do vosso jornal que já há vários anos me chama a atenção e me deixa desconcertado. Refiro-me ao espaço da coluna semanal de João César das Neves (JCN). Claro está que o jornal tem direito a publicar as opiniões que bem entender e que achar serem relevantes mas este vosso leitor sente a sua inteligência profundamente ofendida pela boçalidade dos textos em questão – pelo menos daqueles em que fala de assuntos sociais já que nos que aborda temas económicos comporta-se simplesmente como um amador que só ouviu falar numa teoria única que explica magicamente todos os factos económicos do mundo.
Todos nós temos os nossos “ódios de estimação”, faz parte de ser humano e ser activo na vida civil mas o senhor em questão passa em muito das marcas. Uma coisa é eu ter uma interpretação peculiar sobre determinados factos históricos outra coisa muito diferente é ser profundamente ignorante sobre o que estou a falar e mandar bocas absurdas – como calculo que o nível intelectual que o DN se quer colocar não está no da conversa de café de esquina em que cada conviva atira a sua alarvidade penso que deveriam considerar o que tenho a dizer.
Só para dar alguns exemplos do
último texto publicado hoje. JCN fala dos males do mundo dando uma visão ao leitor desatento completamente desfasada da realidade. A maior parte dos ditos “malefícios” do mundo moderno que o sr. Professor (da UCP como não podia deixar de ser) correspondem a um processo de luta social extremamente activo que veio significativamente melhorar vida de quase todos nós – aliás a sua visão castradora da sociedade corresponde em tudo ao conservadorismo de sofá que dita que o passado é necessariamente melhor que o presente sem se preocupar com as vidas de todos os outros que seriam negativamente afectados; e a não ser que eu esteja completamente enganado e acções como abolir o processo democrático, instituir a teocracia, reprimir as minorias raciais, sociais e sexuais como no passado sejam tudo grandes projectos de futuro viáveis e o DN se posicione nessa linha ideológica (que sinceramente nem sei se ainda estará dentro da legalidade) não deveriam ter lugar num debate civilizado.
Duvido muito que seja o único leitor do vosso jornal que pense da mesma forma sobre JCN e as suas diatribes apesar de possivelmente ser dos poucos que se dá ao trabalho de vos escrever sobre o assunto. Mas sinceramente o hábito português de assistir passivamente a estes discursos de ódio do género dos que JCN dá semanalmente do seu púlpito é um mau serviço cívico e para contrariar essa tendência deixo aqui o meu descontentamento e o meu pedido a que o DN crie algum tipo de critério de credibilidade para os seus comentadores para que não possam cair nestas posições absurdas em que fazem afirmações ofensivas e ignorantes num vazio de informação.
Melhores cumprimentos,
Pedro Fontela