Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os ultra-conservadores, e ortodoxos do firmamento literário gedeónico nacional, ficaram com náuseas assim que foi anunciada a atribuição do Nobel da Literatura a Robert Zimmerman (sim, Bob Dylan, devido ao seu encantamento pelo poeta Dylan Thomas). Os mecânicos da letra estão fechados há demasiado tempo nos seus gabinetes de análise e grande teoria. A literatura não se resume ao texto corrido, ao livro. A literatura deve andar à solta como uma doida. Ela é gasosa e misteriosa, reciclável, mas sobretudo indomável. O comité da academia lança uma lufada de ar fresco sobre o enclausuramento amofinado dos macróbios de intelectualismo limitado. Bob Dylan publicou textos e mais versos, elucubrações temperadas pelas raízes onde bebeu e que verteu na sublimação da arte. Até os comentadores de futebol entendem de transmutações - "aquela jogada foi de génio, é pura poesia". No entanto, existem outras considerações que não se medem em notas de lirismo. Se existe um Guevarista de Manhattan suficientemente simbólico e poderoso para derrotar Trump, esse homem é Dylan. Se existe um declamador polivalente dos hinos da liberdade, esse homem é Zimmerman. A escassas semanas de eleições presidenciais, os suecos souberam meter o bedelho com arte e engenho explosivo. De uma assentada rebentam com as pretensões dos fundamentalistas literários e evocam o espírito templado de alguém capaz de derrotar as pretensões políticas daqueles que sofrem de estreitamento de juízo. Aqueles que se sentem ofendidos pela exclusão de outros doutos a concurso, não parecem entender grande coisa de Literatura. E quem sou eu para discordar.