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Uma visão exclusivamente eurocêntrica do mundo implica imensos perigos. O drama que assola a Grécia e que implica substantivamente o resto da Europa, deve ser interpretado à luz de um quadro maior de consternações. Vou pedir emprestada a expressão em língua inglesa para retratar a crise grega no âmbito de uma visão panorâmica, global - a Grécia é um canary in the coal mine. Enquanto Tsipras e Juncker, entre outros protagonistas, roubam as atenções, uma crise de proporções avassaladoras está a atingir velocidade de cruzeiro. Os mercados bolsistas chineses encontram-se em processo de melt-down e os títulos accionistas têm registado invulgares níveis de volatilidade. Enquanto o Banco Central Europeu tenta estabilizar as economias em apuros da Zona Euro, procedendo à compra de títulos de tesouro, o Banco Central da China vai mais longe na expressão da mesma ficção monetária e estabelece arbitrariamente o preço das acções das empresas cotadas em bolsa. Por outras palavras, as autoridades chinesas tudo fazem para salvar os mercados, mas não a economia. As reformas estruturais que são requeridas estão a ser obviadas através de um mecanismo de manipulação da bolsa. Meus senhores, corremos perigos reais. As poupanças dos cidadãos daquele país estão a ser destruídas e quando o pânico se instalar não vai haver Praça Syntagma que nos valha. Enquanto os gregos se queixam do défice de Democracia na Europa e apelidam de terroristas os credores, os chineses nem sequer têm direito de resposta. O governo da República Popular da China quando quiser esmagar, não tem de pedir autorização a quem quer que seja. A Grécia nem sequer entra nas considerações orientais, mas o oposto não podemos afirmar.
Que se lixe a queda na bolsa das acções do Banco Espírito Santo (BES). O mais grave de tudo isto tem a ver com um valor intangível: a confiança. Por causa de salafrários como Ricardo Salgado, Jardim Gonçalves, José Sócrates ou Vale e Azevedo, para nomear apenas alguns de um imenso caldeirão de bandidos, o país inteiro passou a estar sob suspeita. A cada 24 horas que passa nasce mais uma extensão de uma longa novela de prevaricação. Acordamos, e mais três são implicados. Um deles, o delfim-genro de Ernâni Lopes, de seu nome Joaquim Goes (melhor aluno da Universidade Católica, segundo consta). Por causa destes sujeitos, já nem confiamos na Dona Ercília da Mercearia do bairro - "O pão é de hoje? É sim senhor. Acabadinho de chegar na Sexta-feira passada". Para além de todos os processos judiciais que possam decorrer da investigação às actividades financeiras destes indivíduos e dos grémios que os viram nascer, o povo português deveria levá-los à barra dos tribunais por danos morais e psicológicos causados. Deixamos de confiar. Qualquer coisa que mexa ficamos logo em sobressalto - de pé atrás. Começamos (ou continuamos) a ter dúvidas sobre as grandes instituições financeiras e os seus timoneiros, mas também a vacilar em relação à oficina de reparação da viatura e a conta apresentada, ou por causa da extensa lista de medicamentos inscritos na receita do dermatologista lá da seguradora. O português tem motivos para desconfiar. O cidadão nacional tem razões para olhar sobre os seus ombros. O povo, por estas razões todas, tem a obrigação de escrutinar os políticos, de espremê-los até ao tutano. Se não o fizer, a porta ficará aberta para ainda maiores desgraças. Entretanto, esta estória, para além de mal contada, está longe do seu desfecho.
Em dia de lançamento em bolsa do Twitter, que segue as pisadas da rede social mais famosa - Facebook -, é caso para pensarmos sobre mercados e economias. Nunca antes (com a excepção da bolha dos dot.com de finais do século passado) dimensões tão virtuais de geração de riqueza tiveram uma expressão financeira tão intensa. Podemos desde já retirar algumas ilações em relação a este fenómeno; em primeiro lugar, as economias também são imateriais e dependem da percepção que os mercados e consumidores fazem delas, e em segundo lugar, estes eventos que geram dinâmicas de milhares de milhões de dólares (ou Euros, se quiserem) devem servir de farol para as orientações de estrategas de mercado, economistas, políticos e governantes. O Twitter é um bom exemplo de que uma economia pode apresentar soluções a nível global sem obedecer a uma lógica de investimento industrial e infraestruturas maciças. A economia portuguesa, embora obedeça a outra matriz, também é reconhecida pelas suas empresas de vanguarda em tecnologia ou desenvolvimento de software. Falta ainda um elo à excepcionalidade portuguesa para que ela se defina numa frase curta, à moda de um tweet e com proveitos expressivos. Os ingredientes estão cá todos; a capacidade, a inteligência e as competências. Falta apenas dar corda global e mediática às aspirações lusas que nascem localmente mas que têm vocação global. Se Portugal conseguir essa projecção que merece, será muito mais que uma via verde. Envolverá qualquer coisa no fim do arco-íris da economia que procura a luz - as andorinhas de Portugal merecem voar mais alto e para bem mais longe.