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Sabendo que a fase de candidaturas a Bolsas por Mérito (que visam premiar anualmente os melhores alunos de licenciatura e mestrado) decorre tradicionalmente em Abril ou Maio, dado que fui informado pelo ISCSP, pela Reitoria da UTL e pela Direcção Geral do Ensino Superior que ainda não têm indicações quanto a estas, e considerando ainda a notícia que dá conta do governo ter adiado despesa para melhorar o défice, estarei errado em pensar que o governo socrático adiou o pagamento desta rubrica, não se sabendo efectivamente se o seu cabimento virá a ter lugar?
É sempre engraçado ter provas empíricas das manipulações socráticas, mas o dinheiro dava-me mais jeito. Até porque ao contrário do PM demissionário não tenho amigos do calibre de um Vara ou de um Jorge Coelho, e também não tenho tendência para o fast food educativo de quem tira licenciaturas domingueiras.
Daquele post, aqui fica a maior parte do discurso que hoje proferi a convite do Senhor Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, na cerimónia de entrega das Bolsas por Mérito:
Mas hoje estamos aqui por um motivo objectivo: o nosso mérito. Estamos aqui porque no ano lectivo de 2007/2008, fomos os melhores estudantes de cada uma das faculdades que compõem a Universidade Técnica de Lisboa. Merecemos esta recompensa pelo esforço que desenvolvemos, porque cumpre um nobre ideal meritocrático, prosseguindo na senda do que deve ser um ensino superior de qualidade e elitista. Elitista não no sentido de ser apenas para os que têm maiores possibilidades financeiras, muito pelo contrário. Deve sim, ser elitista no sentido de criar uma elite culta, informada, estudiosa, que se dedique à academia, pelo menos durante uma pequena parte da sua vida.
A questão é que o ensino superior tem vindo a tornar-se, de certa forma, elitista no mau sentido, tornando-se cada vez mais plutocrático, quando deveria ser aristocrático. Relembro que em grego, aristos significa “os melhores”, e são esses que o ensino superior deve premiar e recompensar, obviamente em equilíbrio com o paradigma da igualdade nas oportunidades de acesso ao ensino superior. Porque todos devem também ter acesso ao ensino superior. Mas não se pode continuar a nivelar por baixo. Os aristos têm de ser melhor aproveitados pelas universidades e pelo país, quando se verifica uma crescente generalização da falta de exigência e quando muitos dos quadros mais qualificados acabam por emigrar. E para tal têm que ser criados mecanismos que permitam esse aproveitamento, por exemplo através de sistemas de tutoria e monitoria, incentivando a investigação e através de recompensas como a que hoje recebemos, levando os melhores a envolver-se ainda mais na vida da academia, cumprindo e contribuindo para os objectivos da Universidade, que em primeira instância devem ser a educação rigorosa, a investigação, a criação de saber novo, e a preparação de indivíduos que a continuem no mesmo nível, como há dias escrevia um professor do ISCSP num conhecido jornal.
A educação é a base do desenvolvimento e progresso de uma sociedade, dum país, duma nação. Já Sir Karl Popper ensinava que um dos objectivos primeiros de uma sociedade aberta, livre e democrática, é melhorar o nível da educação. Foi sempre este o objectivo principal da Universidade, e foi assim que assistimos ao longo dos séculos a magníficas evoluções tecnológicas, a um melhor conhecimento da realidade que nos rodeia, em última análise provendo e aumentando a qualidade de vida das populações.
Arquitectos, Engenheiros, Veterinários, Doutores, Economistas, Gestores, Professores, enfim, todos os que aqui se encontram, têm o dever de restituir à sociedade e ao país aquilo de que beneficiam e que também ajudam a criar e inovar: o conhecimento. Num momento em que muito se fala da crise internacional, convém lembrar a crise que já grassava em Portugal antes desta. Para que possamos sair de ambas as crises com sucesso, é necessário que aqueles que são os melhores nas suas áreas de formação contribuam activamente para a edificação de um país mais próspero. São estes que têm o dever de evitar que Portugal se torne plenamente um “estado exíguo”, na expressão cunhada pelo Professor Adriano Moreira, um dos maiores vultos do país e da nossa Universidade.
Neste sentido, a Universidade Técnica de Lisboa tem prestado um inestimável contributo com o seu saber e sentido de serviço público, tendo ao longo dos anos formado muitos dos que foram o passado, são o presente, e serão o futuro do país. E este é o ensinamento mais precioso que levo destes anos e do espírito de escola que me foi incutido. É isso que, para terminar esta intervenção, gostava de aqui partilhar convosco. Não devemos confundir serviço público com funcionalismo público. Muitas empresas, entidades privadas e ONG’s prestam um inestimável serviço público ao país. E é esse espírito que deve perpassar as nossas acções no futuro. Dar à sociedade o privilégio de que usufruímos ao contactar de perto com o conhecimento. Servir o país, para que possamos criar melhores condições de vida para todos.
Muito Obrigado