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1. Cinco horas à chuva, ansiosamente esperando as vedetinhas que chegaram do outro lado do Atlântico. Uma eufórica multidão de brasileiros e de luso-descendentes, foi completa e sobranceiramente ignorada por Cronaldos e restantes broncos. Só visto.
Por quem é que esta gente se toma?
2. A bronca BES e respectiva famiglia, promete. A temível queda significa umas tantas desgraças a pagar por quem todos já adivinham, mas decerto também é portadora de algumas boas novas. O BES está na vereação da CML e este facto é por si elucidativo de tudo o que temos visto na capital portuguesa. Cerejinha em cima do bolo seria a saída de Costa da CML, consigo levando o primo do Sr. Salgado. A ver vamos se as ligações do candidato a líder do PS se limitam aos bons ofícios e desinteressadas amizades. A propósito, seria útil sabermos se o BES pende para Costa ou para Seguro.
* Também a propósito, o 1º ministro agiu correctamente em não avalizar as pretensões do competente e benemérito grupo de banqueiros.
Fundamentar a monarquia através da doutrina do poder divino dos Reis é, no mínimo, anacrónico. Tal como recorrer à fundamentação de Bossuet. É que, absoluto é precisamente a mesma coisa que arbitrário. Desconstruindo, absoluto, do latim absolutus, significa à solta (*). Dizer que o Rei ou o Princípe está enquadrado pela Divindade é de uma arrogância suprema (que Saramago, em Caim, demonstra), e é abrir a porta à escravidão - para evitar o que o Manuel considera como democracia, a vontade das massas. A democracia rousseauniana, sim. Mas há uma Teoria e Prática da Democracia muito mais complexa que isso. Dahl, Sartori, Bobbio e Schumpeter são referências clássicas.
Aliás, o Manuel ao reduzir a democracia à tirania da maioria de que falava Tocqueville, cai no mesmo reducionismo dos republicanos portugueses para quem a chefia de Estado republicana é que é verdadeiramente democrática, porque assente no voto. A democracia é muito mais que votar. E por isso mesmo é que historicamente democracia e liberalismo se alinharam. Não sei se isto é um erro ou se é uma concepção que o Manuel tenta fazer passar deliberadamente. Seja como for, quem tem capacidade para mudar de opinião radicalmente - contra o que não tenho nada contra, muito pelo contrário - também presumo que tenha capacidade para aprofundar aquilo que diz, para não cair neste tipo de erros. Eu, como Conservador, continuo a preferir a máxima popperiana de que o que interessa em democracia é saber limitar o poder de quem manda, assumindo ainda a ideia de Churchill de que a democracia é o pior regime, exceptuando todos os outros.
A tentativa de procurar o Bem em Deus é a tentativa de sacralizar e tornar intocáveis valores que são terrenos e não divinos, para deixarmos de nos responsabilizar pelas nossas acções, ao externalizar para o transcendente as referências. Quando levamos isto para o campo das lideranças políticas, torna-se perigoso, dado que fundamenta fenómenos como os assentes no carisma dos líderes ligado ao transcendente, de que falava Max Weber. Fundamentar o Governo nisto é não só anacrónico, como o comunismo, como deixa antever todo um novo leque de idotices. Basta lembrar uma, a de George W. Bush que dizia falar com Deus e que as suas acções eram ordens deste.
Dito isto, e porque por ora não tenho tempo para escrever muito mais, deixo os caríssimos e caríssimas leitores e leitoras com um magnífico sketch de George Carlin. Bom fim-de-semana.
Consta por aí que hoje é Dia dos Namorados. Aos/as que os/as têm, que seja mais um dia feliz. Por mim, que não tenho qualquer apêndice desses e porque gosto mais da minha própria companhia, apraz-me notar que finalmente recuperei a minha capacidade racional e saí definitivamente de um estado quase doentio. E devido a tal, posso apreciar novamente músicas que parecem tristes, mas de uma beleza incomparável, como esta de Caetano Veloso (Solidão) que aqui deixo. Por isso, muito mais do que por ser apenas mais um dia comercialóide (no qual também eu me deixava apanhar até há 3 anos atrás...), aqui ficam os votos de um bom fim-de-semana a todos os leitores, comentadores e amigos:
Solidão - Letra de Tom Jobim
Sofro calado
Na solidão
Guardo comigo
A memória do teu vulto
Em vão
Eu fui tão bom pra você
E o resultado
Desilusão
O dia passa
A noite vem
A solução desse caso
Cansei de buscar
Eu vou rezar
Pra você me querer
Outra vez
Como um dia me quis
Quando a saudade apertar
Não se acanhe comigo
Pode me procurar