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A III República portuguesa faz recordar, nos pecadilhos e desacertos, a III República francesa. Corrupção, nepotismo, cleptocracia, e fisiologismo desenfreado são algumas das similitudes existentes entre estes dois regimes, ressalvadas, claro está, as devidas diferenças. A III República francesa, não obstante ter tido uma longa duração (1871-1939), foi um regime caracterizado pelo escândalo permanente. O affaire Dreyfus, a venda de condecorações e cargos, as inumeráveis falências bancárias, e as negociatas em torno do Canal do Panamá são alguns dos exemplos mais salientes da pusilanimidade de um regime que nasceu torto, e torto morreu. A III República portuguesa, por seu turno, tem sido, em parte, um sucedâneo pouco recomendável do amoralismo gizado por personagens como Thiers ou Gambetta. A economia do argentarismo, a demagogia partidocrática, e a instabilidade crónica são, e continuarão a ser, os sinais distintivos de um regime progressivamente falho de legitimidade. Para o paralelismo ser completo apenas falta saber se, neste Portugal à deriva, surgirá um Boulanger capaz de burlar o povoléu. Em tempos de crise, os populismos tendem inevitavelmente a florescer, pelo que a emergência de caudilhismos aventureiristas não seria de todo surpreendente.