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Exemplos de uma classe profissional bem representada. Seguramente há outros. Há mais.
BPN - Oliveira e Costa
BCP - Jardim Gonçalves
BPP - João Rendeiro
BES - Ricardo Salgado
Neste caso concordo com Francisco Louçã:
Isto depois de se ter verificado a incoerência de Teixeira dos Santos que há uns dias parecia que que estava disposto a deixar cair o BPP ao afirmar que a sua falência não colocava risco sistémico ao sector, e agora diz que o Governo decidiu salvar o BPP para defender a imagem de Portugal em termos externos e para evitar uma histeria doméstica.
Portanto o Estado empresta o dinheiro dos contribuintes a bancos com peso considerável na economia portuguesa para depois esses emprestarem dinheiro a um banco que gere fortunas e tem uma reduzidíssima expressão na economia real, o que o impede de receber os tais 700 milhões de dólares que João Rendeira pretendia. É só impressão minha ou a isto chama-se engenharia financeira/contabilística ou lavagem de dinheiro?
Aquando o início da crise financeira internacional, por aqui fomos dos mais acérrimos críticos dos tais fundamentos do neo-liberalismo predador do homem e propenso à corrupção, à ganância e sem verdadeiro impacto no desenvolvimento das sociedades. Mas quanto a Portugal parece-me que os fundamentos do mercado e do liberalismo deveriam ter imperado não só no caso do BPN mas ainda mais no caso do BPP. No primeiro caso, aproveitou-se para nacionalizar um banco que muita gente sabia ser perpassado por uma gestão danosa e actos de corrupção. No segundo, salva-se um banco através de uma complexa engenharia financeira e contabílistica utilizando dinheiro dos contribuintes e um aval do Estado, para eventualmente executar uma hipoteca em caso de incumprimento das obrigações de pagamento destes empréstimos no futuro, ou seja, concretizando-se então a nacionalização do BPP à posteriori. Nenhum deles tem verdadeiramente impacto na economia das famílias e empresas, pelo que as respectivas situações não são sequer comparáveis às falências de instituições financeiras fundamentais para a economia real dos respectivos países.
Como li já não sei onde, parece que andamos a brincar aos países grandes e às nacionalizações. Falando em termos de imagem externa, acham que isto parece melhor do que deixar o mercado funcionar quando realmente deve? E em termos internos, gozar com os contribuintes é engraçado não?
Pouco sei acerca de Joe Berardo. Creio que cumpriu plenamente a promessa da conquista de um futuro de abastança e na África do Sul construiu o seu destino de milionário. Conheço-o através da sua colecção exposta no CCB, daquela outra que reúne preciosidades criadas por Bordalo Pinheiro e pelas periódicas entrevistas na televisão, comentando ou posicionando-se nas lutas inter-banqueiras que todos sabemos.
Esquecida a mefistofélica etapa do "escândalo Millenium" que acabou em quase nada, ontem surgiu Berardo na RTP, dando a sua opinião quanto ao processo de falência - é disso que se trata - de um até então quase anónimo Banco Privado Português. Após uma breve reportagem na qual foram ouvidos dois dos principais participantes e interessados - Balsemão e Saviotti -, Berardo deu a sua opinião que grosso modo, corresponde à da esmagadora maioria do comum cidadão.
Os bancos não são propriamente jardins de recreio, campos de golfe, bordéis, clubes de canasta e bridge, ou salões com escadarias para passagens de modelos. São instituições destinadas ao financiamento de projectos, ao investimento em benefício dos accionistas e do país em geral e principalmente, de guarda dos depósitos que aí são colocados, finda a época da caixinha escondida atrás da lareira, do porquinho de barro ou do colchão de palha. Por uma mera e ao que parece hoje dispensável questão de ética, os bens depositados devem ser garantidos, consistindo num verdadeiro ponto de honra e na base do funcionamento de qualquer uma destas instituições. Se os gestores e principais accionistas decidiram e executaram projectos de investimento ruinosos, talvez até com contornos poucos claros e que em consequência conduziram determinada instituição ao colapso, as responsabilidades e o ónus devem ser da responsabilidade daqueles. Foi isso mesmo que Berardo ontem disse e com toda a razão. O Estado faz o que lhe compete, se garantir que os depósitos efectuados por clientes de boa fé forem cobertos, evitando novas misérias e a perturbação da ordem pública. Mas quem efectuou maus negócios de livre vontade, manipulou números e fez desaparecer património de outrém, deve resposabilizar-se pelos seus actos. Se os senhores Balsemão, Saviotti e companheiros se sentem auto-lesados, o problema não deve ser assacado ao Tesouro Público e aos contribuintes sobrecarregados de impostos. Outro aspecto não descartável, consiste no facto da referida entidade, apenas aceitar depositantes com maquias superiores a 1 milhão de Euros (será verdade?) e se assim era, os senhores milionários especuladores que paguem a própria pequena crise. Jogaram? Brincaram? Especularam? Então responsabilizem-se e cubram eles próprios o prejuízo. Assim deve ser um capitalismo saudável, como se quer. Berardo tem razão e coloriu as suas palavras com a fábula da cigarra e da formiga. A alternativa a esta cristalina evidência, é o completo descrédito do regime no seu todo e quanto a isto, o senhor primeiro-ministro está decerto ciente, pelas lições que a história já nos deu, até porque sonantes nomes da superestrutura do poder parecem - com ou sem razão - envolvidos neste caso.
A crise financeira internacional tem obrigado a bailout plans e nacionalizações para permitir injectar liquidez nos mercados, incentivar o consumo e evitar falências de instituições bancárias e financeiras com muito peso nas respectivas sociedades, primordiais para a sustentabilidade económico-financeira das famílias, empresas e respectivo Estado. Em Portugal a crise veio mesmo a jeito para nacionalizar um banco que as elites políticas sabiam ser perpassado por trocas de favores, corrupção e gestão danosa há já vários anos, até porque grande parte dos indivíduos envolvidos nessas "brincadeiras" faz parte dessas elites, e agora está-se a desencantar um plano para salvar o Banco Privado Português, que gere apenas fortunas milionárias. Mas o dislate e o descaramento destes politiqueiros da terceira república não tem limite?