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De cada vez que ouço um partidário do Estatismo invocar o argumento do "quem não deve não teme", só me apetece, de tão pueril que me parece o desplante, indagar acerca da sua coerência: o que fariam, ou aliás fazem, os seráficos colectivistas quando não é o Estado, e sim qualquer entidade privada, a demandar pormenores referentes às suas vidas? Pois é, cai o Carmo e a Trindade, apesar de não haver quaisquer diferenças nos princípios orientadores da questão.
Cá no burgo, coito de tribos tão provincianas que até o próprio provincianismo ignoram, gozou-se com os britânicos quando foi proposto tornar obrigatório o porte de um bilhete de identidade, coisa ainda inexistente no Reino Unido, onde o passaporte serve como principal documento identificativo. Qual é o mal, desenham os néscios nas nuvens idílicas da crendice moderna.
Faz-se chacota de quem anda nisto há séculos, como se os trinta e oito anos de regabofe e devaneios transcorridos até aqui conferissem habilitação suficiente a um bando de nativos que ainda se deixa engodar com missangas.
Há dias recebi mais um email emitido pelo ubíquo director-geral do confisco, trazendo ao meu conhecimento a existência de um inquérito à satisfação do contribuinte, acessível no Portal das Finanças após inevitável registo e identificação; "para melhor combater a fraude", escreveu o ignóbil, ou por ele outra alma de igual calibre. Qual é o mal, não?
Que o arrazoado argumentário desta gente pequenina e transparente não encontre sequer um arremedo de espanto perante os atentados à Lógica e à Razão que cometem, para não falar numa sublevação civil, é coisa que assombra cada vez menos. De facto, os eunucos imperam e para esta forma paulatina de paludismo cerebral não consta haver fim à vista.
E as "conquistas"? As conquistas do Estado Social, as conquistas de Abril, as conquistas da Europa, as conquistas de Obama.
Boletim de preenchimento obrigatório para o acesso ao "Obamacare", sistema que é tudo menos gratuito
Qual é o mal em responder a umas perguntinhas pessoais? Um sistema de saúde gerido pelo Estado, ícone e farol da rectidão, não é aquilo que todos querem? Aquilo que todos deviam querer? Quem não quiser tem de pagar o preço da sua auto-exclusão, ou não fosse a bitola pela qual se regem muitos dos arrebanhados apoiantes do agora defunto Acordo Ortográfico, essa quimera de estar sempre actualizado, ou seja, igual à nova moda como as crianças pré-púberes.
E as armas? Quem é que precisa de armas? Quem não deve não teme. Muita gente não tem armas. Que só os maus e as forças a mando do Estado as tenham, decerto não causará mal algum.
E preferências sobre o automóvel que se conduz, a roupa que se veste, a comida que se come, a escola onde os filhos andam ou as matérias que aprendem? Para quê tudo isto? Porque hão-de ter algumas pessoas privilégios quando ainda não há equidade no Mundo que permita a todos viver com os mínimos de dignidade conformes aos estipêndios legislativos do Comité? Qual é o mal em que todos tenham o mesmo?
Para que é que precisas de dinheiro no bolso quando o Estado pode dar-te uma caderneta de senhas?
Vai para casa, vê a novela, fala da bola, lê a Caras, não difiras no corte de cabelo, adequa-te ao credo urbanista, desliga o LED da televisão antes de ires dormir para não aquecer em demasia os campos de arroz no Suriname, e não te esqueças, quando volta e meia receberes uma coima nova, só tens que perguntar qual é o mal.
Os instalados do sistema agradecem.