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Um presidente em apuros
Mau tempo sobre a América
Tradições peculiares
Um presidente inesquecível
Agora que a nova administração de Americana entrou em funções pode-se já ver as grandes mudanças na politica externa americana.
Existe uma clara inversão de atitudes que tem por fim colmatar os erros do anterior presidente Bush. Os E.U.A. estavam a trilhar um caminho extremamente perigoso que poderia dar origem a uma guerra regional de grandes proporções no Médio Oriente.
A invasão do Iraque e o afrontamento directo da Rússia de Putin foram erros importantes de Bush que estão na origem dos problemas actuais mais imediatos da política externa norte americana.
A dissolução da U.R.S.S foi aproveitada nos últimos 19 anos pelo E.U.A. para tentar quebrar a hegemonia Russa sobre os povos seus vizinhos. Apoio político-económico directo, a integração em alianças militares (N.A.T.O) ou económicas (C.E.E.), a instalação de bases militares ou de misseis foram algumas das medidas mais conhecidas do grande público. Resumindo, trata-se da aplicação da antiga máxima do dividir para reinar que foi responsável pelo fim dos impérios europeus e que pretende enfraquecer a própria Comunidade Económica Europeia. Tal pode provavelmente observar-se no apoio americano declarado à entrada da Turquia.
O governo do Sr.Putin alicerçado nos rendimentos do petróleo tem mantido um processo de renovação das forças armadas e esmagou os desafios Tchecheno e Georgiano de forma a consolidar o seu prestigio e defender os seus interesses económicos. A nível externo contra-atacou os americanos no seu velho “calcanhar de Aquiles”, o Médio Oriente. Novas oportunidades surgiram com a decisão do presidente Bush após o ataque terrorista às torres gémeas de invadir não só o Afeganistão de onde tinha partido o ataque, como o Iraque de Sadam Husseim baseado num conjunto de premissas falsas. Curiosamente, no caso do Iraque invadiu um Estado Soberano sem nenhuma outra razão prática a não ser as injustiças praticadas a nível interno pelo seu regime. Criou-se portanto mais um precedente que justifica a ingerência militar de uma ou mais potencias estrangeiras na politica interna de países independentes.
Os E.U.A. pretendiam apoiados nos Xiitas controlar o país e os seus recursos petrolíferos. Os interesses estratégicos americanos desde o fim da segunda guerra mundial tem passado geralmente por tentar controlar países produtores de matérias primas chave como o petróleo. Actualmente Angola (a título de exemplo) abastece em mais de 20% o gigantesco mercado interno dos E.U.A.
No entanto de uma forma inacreditável (falta-lhes um novo Kissinger) a administração Bush não teve em conta uma poderosa potência regional com mais de 2600 anos de antiguidade, refiro-me ao Irão. O Iraque tem estado sempre sob domínio ou influência Persa. Rapidamente após a vitória militar americana, os iranianos começaram a infiltrar agentes no Iraque para o destabilizar e a apoiar uma importante facção política Xiita. Portanto os americanos começaram a ser fortemente atacados simultaneamente pelos Sunitas apoiados pela Al qaeda e pelos Xiitas apoiados no Irão. Actualmente a situação interna no Iraque está um pouco mais sobre controle porque muitos lideres tribais Sunitas foram comprados e dessa forma reduzida a base de apoio dos terroristas estrangeiros. O grande problema é que o projecto político de um novo grande Irão que com forte apoio Russo e algum Chinês começou a desenvolver a bomba atómica. Portanto existe a hipótese muito possível do dito Irão conseguir destabilizar o Iraque e expulsar do poder a facção Xiita afecta aos E.U.A. Um super Irão controlando a parte Sul do Iraque rica em petróleo e colocando sob sua “protecção” o norte Sunita seria uma catástrofe para os americanos, pondo mesmo em questão a viabilidade do Estado de Israel. Neste imbróglio temos de ter em conta a Síria aliada de Teerão e os grupos terroristas do Líbano e da Palestina. Neste momento os Estados Unidos como potência mundial em retrocesso relativo já não tem capacidade para sozinha enfrentar uma grande guerra regional contra um inimigo islâmico poderoso apoiado militarmente pela Rússia.
Socorrendo-me de um livro que estou a reler na versão original em inglês (a tradução em português brasileiro deixava a desejar), “O choque das Civilizações” do Samuel P. Huntington que recomendo vivamente, os Estados Unidos na primeira invasão do Iraque em 1991, posicionaram no golfo Pérsico 75% dos seus aviões tácticos activos, 42% dos seus carros blindados, 46% dos seus porta-aviões, 37% do pessoal do exército e 46% dos seus fuzileiros. Dificilmente agora os EUA terão força para conduzir praticamente sozinhos grandes intervenções militares contra potências regionais importantes.
Neste contexto a administração Obama vem fazer a única coisa que lhe resta, atingir um entendimento com a Rússia e abandonar o projecto de dominar politicamente e militarizar os países limítrofes da Rússia. Paralelamente encetar negociações diplomáticas directas com Teerão visando encontrar um entendimento em relação ao Iraque. Simultaneamente vem à Europa reafirmar o papel de liderança americano do “bloco Ocidental”. No futuro os EUA cada vez precisam mais do apoio Europeu para fazer valer os interesses que querem fazer crer serem de todos. No que se refere ao Afeganistão é um conflito em que a solução exclusivamente militar é claramente inviável. Faz lembrar um pouco a nossa guerra colonial em África salvaguardando as proporções. A FRELIMO em Moçambique era um movimento terrorista maioritariamente apoiado na etnia Maconde que tinha dois terços da sua população na Tanzânia que era um país independente que os apoiava. Portanto qualquer vitória militar passaria obrigatoriamente pela invasão desse país, o que era impensável. Voltando ao caso do Afeganistão os americanos teriam de invadir o Paquistão de forma a submeter as áreas tribais de onde partem os ataques através da fronteira e como isso é impossível, resta aos americanos tentar negociar com fanáticos religiosos.
Em termos gerais agora no que concerne à Ásia, no futuro o que se verá cada vez mais será os americanos apoiarem a índia para contrabalançar o crescente poder da China. Neste momento estas duas potências emergentes já travam um conflito surdo pelo controle do Oceano Índico que é a porta de acesso para o Médio Oriente, África Oriental, Europa e costa Ocidental da América (através do Suez). A China aliada ao Paquistão, iniciou a construção de uma rede de importantes bases navais na costas do Índico e pretende “cercar” a Índia através de uma rede de alianças militares regionais. Isto significa que a política americana é e será sempre no futuro, a de jogar um papel decisivo na nova correlação de forças resultante da emergência destas novas potências de forma a impedir que alguma atinja a supremacia mundial. Será uma cópia à escala global da política inglesa para a Europa continental desde o reinado de Luís XIV, dividir para reinar e manter as correlações de forças para que não se criem novas hegemonia políticas desfavoráveis aos interesses americanos.
Não ia com grandes expectativas, por isso talvez tenha gostado bastante do filme, dá uma visão equilibrada e mais terra a terra da personagem de George W. Bush, o que é admirável vindo de Oliver Stone, normalmente conotado com a esquerda norte-americana. Desconhecia a faceta da permanente tentativa de Bush de demonstrar o seu valor ao pai, numa relação um pouco conflituosa, tendo ainda uma certa competição, com o próprio irmão, pelo reconhecimento do pai. Pelo meio lá vai mandando umas gaffes, nada de muito exagerado, e fica no ar uma certa ideia suspeita em relação a Karl Rove (personagem bem estranha), Cheney e Rumsfeld, enquanto Powell é retratado como o herói americano e Condi por outro lado aparece como uma personagem secundária, como uma espécie de carpideira, parecendo que está sempre pronta a chorar. Não deixem de ver, se puderem.
A decisão de nacionalizar as duas maiores concessionárias de crédito para a habitação, será de molde a modificar de sobremaneira a opinião que a nossa esquerda festiva tem do governo de Bush? Trilhando o caminho do New Deal de Roosevelt, decidiu salvaguardar as economias dos menos ricos, evitar o colapso de duas colossais instituições e dar uma clara indicação ao mercado: o Estado conhece os limites do jogo da livre iniciativa e reserva-se o direito de intervir quando julgar estar em causa o interesse nacional. E agora, que argumentos inventarão para diabolizar ainda mais o safardana do cowboy? Ficamos à espera.
Obama, o candidato do look à CDS, reagiu com desagrado,dizendo que os contribuintes irão pagar a factura. Até nisto ele tem um discurso típico da direita liberal. Será que os nossos compatriotas revolucionários-populares-marxistas-leninistas-trotsquistas-ex estalinistas não conseguem ver aquilo que é evidente para todos?
O homem parece de direita, fala como a direita fala e é mesmo de direita, quer queiram ou não queiram. Bem, talvez pretendam apenas uma desculpa para justificar as viagens de lazer a NYC, em vez de rumarem a paragens mais consentâneas com aquilo que apregoam: ali para os lados do Tropicana ou do Mallecón. Na propriedade privada socialista dos irmãos Castro.
Em 3 de Julho de 1866, a Prússia saía surpreendentemente vitoriosa da batalha de Koniggraetz (Sadowa) e os seus exércitos deixaram os austro-húngaros à mercê de uma paz draconiana imposta por um triunfante Bismarck. Conhecedor da realidade do equilíbrio de poderes entre as grandes potências, o Chanceler de Ferro contemporizou com os vencidos e conseguiu atrair Viena para um modus vivendi na Europa Central, propiciando aquela que seria anos mais tarde, a Dreikaiserbund. Aprendera a lição de Metternich no Congresso de Viena, quando uma França derrotada e responsável por vinte anos de guerra na Europa, foi tratada com equidade e moderação.
Este curto prólogo explicita de forma sucinta, a abissal diferença entre a qualidade dos homens políticos da velha Europa, com aqueles que hoje regem os destinos de um mundo mais plural e infinitamente mais perigoso. As sucessivas administrações norte-americanas, parecem totalmente obcecadas pelo seu estreito servilismo diante dos grupos de interesses que sustentam o verdadeiro poder da potência global, fazendo tábua rasa das mais elementares regras da diplomacia que antes do mais, deve ter como sólido alicerce, o perfeito conhecimento dos potenciais adversários, das suas forças e fraquezas e dos seus interesses vitais. Nada disto parece interessar de sobremaneira e assim, os erros vão-se fatalmente acumulando, podendo num futuro não muito distante, criar uma situação irresolúvel numa região essencial para a segurança do Ocidente e do qual a Rússia é hoje parte integrante.
Os argumentos hoje esgrimidos pela Secretária de Estado Condoleeza Rice, desmentem escandalosamente todo o articulado ainda há pouco aplicado ao caso do Kosovo, quando a situação apresenta flagrantes similitudes. Isto deixa a descoberto a duplicidade da superpotência nossa aliada, causando embaraços a todos os membros da Aliança Atlântica. O regime de Moscovo vê assim perfeitamente validada toda a sua acção no Cáucaso, podendo até ir mais longe, argumentando com o princípio das nacionalidades, outra panaceia copiosamente aplicada por outro inábil do século passado, o senhor Woodrow Wilson. A história também parece repetir-se, quando um navio americano que se dirigia a um porto georgiano, decide - decerto com instruções superiores -, retroceder e não desembarcar "ajuda humanitária". Enfim, o bom senso parece finalmente prevalecer.
Ao contrário daquilo que se passou naquele famoso e já distante jantar em Ems, já não existe um único Bismarck apto a redigir um Despacho despoletador de uma guerra. E mesmo que por absurdo se encontrasse um grande homem no comando em Washington, simplesmente não podia redigir qualquer Memorando num pedaço de papel. Os tempos são outros e os recursos bélicos impensáveis, pois os efeitos da sua utilização são sobejamente conhecidos e temidos.