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Fernando Medina e a sua equipa de cobranças duvidosas apropriaram-se ilegalmente e inconstitucionalmente de 58,6 milhões de euros. Não consigo determinar com precisão durante qual período os contribuintes afectos à Câmara Municipal de Lisboa (CML) ficaram privados, cada um, de perto de 40 euros devido à tal ficção da Taxa de Protecção Civil, mas poderemos estabelecer que houve danos em termos financeiros. Não sabemos o que andaram a fazer na tesouraria da CML com os 58,6 milhões de euros de outrém, mas uma coisa é certa, se tivessem sido aplicados num veículo financeiro convencional o retorno seria interessante. Não faço recomendações de investimento, mas deixo ao critério de aforristas, pequenos e graúdos, o modo de aplicação de poupanças. Se a CML fosse idónea e honesta, acrescentaria, aos valores que agora devolve, uma percentagem para compensar potenciais perdas. Os residentes de Lisboa e contribuintes da Taxa de Protecção Civil teriam fundamentos legais e financeiros mais que suficientes para mover acções contra a CML. Paira no ar a seguinte pergunta: o que andaram a fazer com o dinheiro dos outros nesse período de tempo? Por motivos muito mais incipientes já apresentei queixas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, quando uma instituição financeira da praça falhou nas suas obrigações. Mas haja esperança; pode ser que no tal vale postal que os lisboetas irão receber venha aposto um poema de Manuel Alegre - "o que tira uma mão, a outra não devolve", ou qualquer treta deste calibre. Chico-esperto, este Medina.
Se me pedissem para atribuir o prémio flop do ano à Câmara Municipal de Lisboa para o ano de 2017, o mesmo resumir-se-ia a uma palavra: ciclovia. Para quem ainda se lembra do enorme alarido gerado em torno do alegado big bang que as bicicletas produziriam na cidade, chegamos à conclusão que as sete colinas da gestão autárquica pariram um rato. O esplendor da erva das faixas centrais da Av. da República ou da Av. 24 de Julho, aí plantadas em nome do botox e de melhor mobilidade urbana, sem esquecer o alcatroado avermelhado das ciclovias, simplesmente foram investimentos falhados - são escassas as bicicletas que se avistam - as privadas ou aquelas holandesamente inventadas pelo famoso programa de uso partilhado. Como tantas outras cartolas para impressionar, as eco-considerações dos camarários não passam de show-off, ostentação. Fizeram tudo ao contrário da tradição. Não auscultaram a população, não realizaram o estudo de opinião do utente para confirmar se de facto o alfacinha é pouco ou muito dado ao pedal, mas acima de tudo não perceberam que os portugueses, de um modo geral, não são dados a grandes trocas e baldrocas. Os condutores são adeptos da sua viatura em regime de exclusividade e aqueles que se servem da Carris ou do Metro apenas o fazem porque não detêm os meios para comprar um carro. São considerações desta natureza que não foram tidas em conta por Medina e companhia. A infraestrutura não pode preceder a vontade. De nada serve o orgulho no hardware da rede de ciclovias, se o software da pedaleira, pura e simplesmente não existe. Apenas vejo uma forma de Medina salvar a face desta falência - realizar uma campanha dirigida às pessoas com necessidades especiais de locomoção, no sentido daquelas que fazem uso de cadeiras de rodas finalmente poderem sair à rua para aproveitar as ciclovias desertas. Por mais bonitos e floreados que nos queiram vender, a verdade é que esta ideia é um flop. O flop do ano.
Mais grave que as faltas e verdadeiramente inacreditável é, em primeiro lugar, o regime permitir que se acumulem cargos políticos que deveriam exigir uma dedicação a tempo inteiro - no caso, os cargos de vereador da Câmara Municipal de Lisboa e de deputado ao Parlamento Europeu - e, em segundo lugar, a falta de vergonha daqueles que, como João Ferreira, independentemente de o regime não o impedir, se permitem esta desfaçatez - e isto aplica-se a todos os partidos. Afinal, nem tudo o que é legal é lícito ou legítimo.
Ficou hoje a conhecer-se mais um dos muitos projectos apresentados para o remate da fachada poente daquele que é o maior e mais imponente edifício público da capital portuguesa.
Dispensando quaisquer comentários a respeito do gosto ou desgosto que os esboços mostraram, esta construção, mesmo com o previsível isco dos fundos do Turismo e da apresentação em exposição permanente das muito desfalcadas Jóias da Coroa, não pode ser iniciada sem a prévia consulta a quem mais interessa, ou seja, os habitantes de Lisboa.
O Palácio da Ajuda não é uma construção da qual se possa dispor à la carte, não pode estar à diposição de um projecto de promoção pessoal, ou de qualquer partido. Desde que se ergueu tem sido uma sede de poder, seja ele o monárquico ou o republicano. Nele se pavoneiam vaidades na recepção do corpo diplomático e ali se inauguram presidências e governos, por muito efémeros que sejam. É um local emprestado pela nossa história, um eco de um passado relativamente glorioso. Aqueles brilhos dos adamascados e dourados, as pratas e porcelanas, as pinturas e tapeçarias, os bibelots assinados, os torneados do mobiliário daquela mescla de estilos, o bric-a-brac de Dª Maria Pia de Sabóia, impressiona os nacionais e os estrangeiros. Não é nenhuma novidade, aquela colecção marcou uma época e por milagre praticamente íntegra - apesar dos acontecimentos da 1ª república, da visita recolectora da aventureira com quem o infante D. Afonso se casou, da retirada de mobiliário e peças decorativas que o regime da 2ª república colocou em embaixadas -, é um cenário infinitamente superior em termos de prestígio e harmonia, a uma banal construção que qualquer um dos regimes que sucedeu ao ciclone de 1910, tenha erguido nas respectivas Expo. Das pedras lavradas e pinturas murais da Ajuda à bela pala de betão armado do antigo Pavilhão de Portugal, vai uma boa distância e os nossos senhores não hesitam na escolha do decor. Sejam então coerentes.
Poderá a entidade mais ansiosa, a Câmara Municipal, esgrimir argumentos a favor da "rápida conclusão de uma obra que já tarda e é urgente", mas estas atitudes em nada abonam quem decide e muito dependerá da confiança de uma população muito desconfiada por este inesperado inferno eleitoral de ciclovias, alargamento de passeios, demolições a eito e sem consulta, desrespeito pelo próprio inventário municipal e outras habituais habilidades comezinhas. Bem poderá então escudar-se atrás do MC e do Turismo, mas o protagonismo é totalmente seu, nada de manobras de ilusionismo. O protagonismo e o interesse.
O projecto existe há bastante mais de meio século e é da autoria do arquitecto Raul Lino que se manteve fiel à ínfima parte construída do risco original que a Ajuda teve nos finais do século XVIII e alvorada de oitocentos. O Palácio jamais foi concluído e será supérfluo inventariarmos as razões para tal incúria sobretudo devida às vicissitudes da política, às mudanças e de regime e à sempre latente penúria financeira. Anos após a sua concepção, Salazar, a braços com uma guerra em três frentes africanas e assoberbado pela construção da Ponte, não pôde dar andamento a este projecto que hoje, a ter sido concluído, já teria beneficiado da patine da passagem de meio século e muito provavelmente, com interiores a condizerem com a fachada. Seria parte da paisagem urbana. Não se fez, paciência, outros valores se levantaram, mesmo quando alguém teve a ideia de construir de raiz um Centro Cultural em Belém, nem sequer aproveitando o que já existia no alto do bairro lisboeta da Ajuda. Idem quanto ao Museu dos Coches, naquelas cíclicas, bastante oportunas para uns tantos e previsíveis derrapagens orçamentais que em muito lesaram o crédito e a respeitabilidade de quem decidiu e ordenou. Este é o país em que os cidadãos enviam cartas registadas aos governantes e estes, nada preocupados, nem sequer se dão ao trabalho de acusar a recepção. Foi o que sucedeu há perto de três décadas, quando do anúncio da construção do CCB e alguém lhes terá chamado a atenção para o aproveitamento da parte a reconstruir do Palácio da Ajuda. Pelos vistos, continuamos neste estranho caminho da surda arrogância. O mesmo se pode dizer a fundos esfumados, como aqueles deixados pela Sra. Reagan que também terá apreciado o potencial do edifício.
Mais próximo de nós, ainda está o embaraço nacional acerca da retirada russa da exposição do Hermitage na Ajuda, pois consideraram o palácio na sua secção poente, impróprio para a apresentação das periódicas colecções imperiais. Não valerá a pena o recurso a subterfúgios lava-faces, pois foi isto mesmo o que aconteceu.
Este edifício não pode ser mais um passageiro pasto de modas e vaidades. Não pode, é campo interdito. Esperava-se a abertura de um concurso público e internacional, mas recorreu-se ao expediente já bem conhecido, da decisão sem dar cavaco. Fizeram mal, como se tornou costume. Mal, e, suspeitamos, de forma ilegal.
Bem vistos os factos, este anúncio de surpresa é mais um exercício de vanitas política embrulhada caprichosamente em argumentos apenas válidos, porque óbvios ao longo de mais de duzentos anos. O Palácio Real ou Nacional, como queiram, consiste num património que condensa a história de um século pleno de acontecimentos e que está recheado de uma inestimável colecção de época, embora, tal como as Jóias da Coroa, privada, como acima dissemos, de inúmeros elementos que a queda da Monarquia fez por vários meios sumir. Há que valorizá-lo e para isso podem e devem ser despendidas quantias necessárias que estimularão a criatividade, a arte de bem fazer, o labor dos artesãos nacionais e o interesse de uma miríade de pequenas e médias empresas de construção. A cultura não é despesa, por muitos fundos que nela se vertam sob supervisão e criteriosamente. Trata-se de um investimento e para mais, da garantia da identidade nacional que é pontilhada por um certo sentido de orgulho.
Os decisores podem pensar o que entenderem acerca das suas excelsas personalidades, mas não vivem num exclusivo Olimpo. Desçam à terra e procedam então a uma consulta popular que decida a viabilidade do projecto de Raul Lino ou a alternativa hoje apresentada. Num país onde a palavra mais usada pelos agentes da política é democracia! democracia! democracia!, do que que têm medo os senhores da nossa situação?
Alcântara - Veneza em Lisboa.
Hoje, dia 13 de Agosto de 2015.
Obrigado, autarcas do passado e do presente, planeadores urbanos corruptos, amigos construtores, directores de empresas municipais, políticos e outros vigaristas da capital.
Fotografias publicadas no Observador.
Estão surpreendidos? A Câmara Municipal de Lisboa (e as restantes autarquias) deve (m) ser virada (s) ao avesso. Por um instante apenas ponham de parte os partidos e a política. Concentrem-se na ideologia de mercados e dinheiro. Na religião das influências. No sector profissional da troca de favores. Estão chocados com os alegados favorecimentos da autarquia ao Grupo Espírito Santo? Pois, não deviam estar. Sabemos como as coisas funcionam. Imaginem uma enorme orgia com convidados de todos os parâmetros económicos e sociais. Um enorme lóbulo de amigos e compadrios, arquitectos, empresários, escritores, poetas, intelectuais, fazedores de opinião, jornalistas, advogados, construtores, gestores de resíduos sólidos, responsáveis de outdoors, directores de agências de comunicação, donas de quiosques e refrescos - tudo misturado numa bela caldeirada de vantagens para quem está no poder e não só. É disso que se trata. Venha de lá essa sindicância, a investigação levada a cabo por instâncias judiciais. O que é realmente impressionante é ter havido tanto silêncio durante tanto tempo. Alguém colocou uma tampa firme sobre a panela. Pelos vistos há limites para a pressão que se aguenta. Quero lá saber de timings e calendários eleitorais. Está a acontecer agora? Ainda bem. Portugal e Lisboa merecem melhor.
Por vezes temos de considerar as funções de presidente da CML muito mais relevantes, no que à memória futura do decisor diz respeito, àquelas desempenhadas pelos presidentes dos conselhos de ministros. De Pombal, o que para sempre ficará na mente da maioria dos portugueses? Como homem que se envolveu nas grandes decisões tomadas após o cataclismo de 1755, aponta-se-lhe a genialidade da escolha, investindo no arrojo, alijando interesses particulares, colocando em plano secundário os direitos de propriedade de alguns e uma Lisboa que quis construir não apenas para os homens do seu tempo, mas sobretudo para as gerações futuras. Do seu exercício da chefia do governo, poucos recordarão as Companhias comerciais, a lavoura, a política externa, as novas indústrias, ou a calamidade que para o ensino significou a expulsão dos jesuítas. Resta então o infame, indecente Processo dos Távoras, onde o orgulho que esconde o recalcamento, impeliu-o ao fero exercício da prepotência. Pois sim, também nos nossos dias, a função de presidente da Câmara Municipal de Lisboa poderá ser incomensuravelmente mais relevante do que um rotineiro cargo de primeiro-ministro.
Cumpridas as formalidades sucessórias de António Costa, Lisboa conta com um novo presidente da Câmara Municipal. Não merecendo qualquer esforço a chamada de atenção para este render da guarda que mereceria ser sufragado pelos principais interessados, os lisboetas, há que enfrentar a realidade do facto consumado. Apesar do esforço dispensado nos últimos dias pela tradicional boa imprensa, poucos conhecem o Dr. Medina.
Contemporizemos por algumas semanas. Os problemas da capital portuguesa são imensos e de difícil resolução. Deixando de lado os estranhos negócios do sector imobiliário, a CML enfrenta o amontoar de dossiers nos quais surgem sempre as candentes questões de dinheiro, a satisfação das corporações interessadas no status quo e sobretudo, a gestão dos próprios recursos, a urgente rentabilização do património camarário que se encontra no estado que todos conhecemos. Se a isto acrescentarmos os lobbies da construção interligados com fundos financeiros ditos de reabilitação urbana - no caso nacional, reabilitar significa demolir e construir de raiz - e os incontornáveis gabinetes de arquitectura, temos um quadro onde os problemas parecem inextricáveis. Deixemos então algumas sugestões ao Dr. Medina:
1. Esclarecimento cabal das contas camarárias, até agora apresentadas como radicalmente beneficiadas pela gestão Costa/Salgado e em claro contraste com as presidências de Santana Lopes e Carmona Rodrigues. É isto propaganda? Não sabemos. A divulgação das ajudas governamentais e a apresentação do que de facto existe, os famigerados teres e haveres, apenas poderá beneficiar a imagem do novo presidente camarário.
2. Urge mudar a política e a face demasiadamente notória do pelouro do urbanismo. As insinuações ou alegações correm à boca escancarada. A CML não pode continuar sob a suspeita de naquele sector de governação municipal existir qualquer tipo de conflito de interesses. As notícias que apontam a saída de imóveis do Inventário Municipal, permitindo-se assim a rápida demolição dos mesmos, confere uma péssima imagem a qualquer vereação, nisto sendo totalmente indiferente a cor partidária na liderança da mesma. Os casos acumularam-se ao longo de gerações e não recuando muito, aponta-se com alguma injustiça, a origem de um mal que teria início em Nuno Abecassis. Como sempre, tendemos à condescendência no desfiar de contas do passado mais longínquo. Apenas retemos na memória aquilo que um dia vimos e decerto ainda vivem muitos lisboetas que testemunharam à catastrófica destruição de património valioso, irremediavelmente perdido. Da Praça da Figueira ao aniquilar de inúmeros edifícios galardoados com o Prémio Valmor - zonas contíguas da Avenida da Liberdade, R. Castilho, Marquês de Pombal, Duque de Loulé, Avenidas Novas e da República - temos ainda dezenas de quarteirões devastados pela permissividade que há muito se instalou na gestão municipal. Os nossos avós terão presenciado o estertor do Martim Moniz, ainda hoje ameaçado com o acumular de mais intenções de erros crassos de péssima política, em boa parte ditada esta por risíveis maluquices, pequenas vaidades, interesses escusos e pior ainda, incompetência dos decisores, aqueles que escolhem e julgam saber como impor o seu "bom gosto".
Numa cidade com veleidades à classificação internacional da Baixa, a visão de fachadas onde predominam alumínios e de montras ilegal e perigosamente rasgadas nas décadas de 60, 70, 80 e 90, o misterioso sumiço de mobiliário urbano que é exclusiva propriedade de todos os lisboetas - os candeeiros do Terreiro do Paço e noutras zonas da Baixa, por exemplo -, são alguns dos muitos problemas patentes à vista desarmada. Não foram positivas algumas das opções tomadas pela propagandeada devolução da histórica zona ribeirinha.
O eternamente inacabado Terreiro do Paço foi objecto de mais experimentalismo em toda a zona pedonal, a praça não foi substancialmente valorizada apesar dos esforços dispensados - a placa central é má, os desníveis são ridículos, a periscópica iluminação consiste num insulto, persiste-se na colocação de barracas de plástico nesta zona que deveria ser interdita a este tipo de paródias -, a estátua equestre está parcialmente restaurada. A poente, as rampas do Arsenal são um exemplo de péssima decisão que aflige qualquer principiante estudante de arquitectura, ao mesmo tempo que amesquinha a grandeza da construção decidida pelo dupla D. José-Marquês de Pombal. Pelo que se vê, no nosso país caçoa-se facilmente da perspectiva e não se presta qualquer atenção à valorização dos espaços vazios que significativamente conferem mais importância ao construído. Faltam ainda as namoradeiras até hoje mutiladas ou simplesmente desaparecidas. Permitiu-se a construção de observatórios comunitários na zona do Cais Sodré, em clara ruptura com toda a envolvente que tinha sido beneficiada com a reabilitação da Estação de caminhos de ferro e do Mercado da Ribeira. Persiste-se ainda na mania da construção de muralhas de betão entre a cidade e o Tejo, avultando exemplos como as torres EDP, outro Centro Cultural nas imediações de Belém e ainda betonando mais aquela zona, o novo Museu dos Coches. Dir-se-ia ser a CML totalmente impotente quando lida com bem identificadas manobras. Porquê?
3. Medina deve atender ao momento político internacional e em conformidade impõe-se o imediato congelar do abstruso projecto de uma mastodôntica mesquita numa zona onde o Martim Moniz surge como o mau exemplo que colocou a cidade perante um constrangimento que já data dos finais dos anos 40. Não parece existir qualquer vontade de optar corajosamente, apesar de nas últimas semanas já se ventilarem certos interesses financeiros que decididamente intervirão, avultando o de certos países do Golfo Pérsico. Colocando de parte a fábula do investimento oriundo do Bangla Desh, é por demais inevitável uma futura atribuição da cornucópia financeira aos detestáveis regimes da península arábica. É mesmo uma questão política, isto é subversão descarada. Sabemos o que tem isto significado noutras capitais europeias e o alarme que desnecessariamente causará na nossa cidade. Será um projecto sumamente impopular, disso não tenha o Dr. Medina a menor dúvida. Poderá facilmente comprová-lo através da organização de um referendo municipal e decerto não desejará futuramente ser conhecido pelos muitas vezes injustos sarcasmos em que nós, portugueses, somos peritos: Al Medina, Medinet Abu, poderão ser alguns exemplos de previsíveis brincadeiras. Não estamos em tempo de revistas à portuguesa. Os argumentos para a construção de tal colossal tijolo de betão, fundamentam-se sobretudo, no "escasso valor dos edificios a demolir". Habituados a desopilantes fins de semana em Paris, Viena ou Londres, os nossos decisores esquecem-se de uma Lisboa onde a única avenida comparável aos boulevards do II Império, é a da Liberdade, pois há muito perderam tal lustro as vergonhosamente vandalizadas Fontes Pereira de Melo e a antiga Av. Ressano Garcia, hoje da República. Construções da Baixa pombalina e umas tantas edificações burguesas ou da velha nobreza que sobrevivem na Lapa e zona do Príncipe Real, confirmam o predomínio das construções relativamente modestas e que à cidade oferecem aquele tipicismo que os visitantes procuram e gabam.
Dr. Medina, não traga a Expo, as Telheiras ou Alfragide para o centro histórico. A descarada desvalorização do património que hoje ainda subsiste da forma mais precária, não passa despercebida a qualquer munícipe, para isto pouco importando a preferência eleitoral neste ou naquele partido.
Arruinado prédio camarário (Rua de S. Lázaro)
4. Esclarecimento acerca do estado da propriedade municipal. O que possui a Câmara? Como tem gerido esses bens e quais os edifícios devolutos, em perigo de completa ruína? Terá o Dr. Medina qualquer projecto inovador? A cedência de edifícios de habitação, até hoje fechados, à disposição de uma criteriosa reabilitação que os torne aptos à atempada ocupação - mediante rendas baixas -, por quem se organize para realizar essas obras fiscalizadas pela CML, pode ser uma hipótese a estudar seriamente. A cidade deve ser devolvida a quem nela um dia aqui habitou e àqueles que nela almejam viver, estabelecer-se. É a única forma de mantermos um bom estado geral de conservação, paralelamente garantindo a segurança e o nascer de pólos de pequenos negócios que cativarão a atenção de muitos lisboetas e visitantes. A Baixa é um exemplo de abandono, incúria e perigo iminente.
5. O alijar da paixão partidária, pressupõe a não repetição de tristes episódios como o abusivo congelamento da circulação naquela que foi a única obra da gestão de Santana Lopes. Os lisboetas foram pesada e repetidamente abusados, pois além da canga orçamental para a execução daquele projecto, tiveram ainda de suportar o capricho bem-pensante do Sr. Fernandes e os prejuízos dele decorrentes. Hoje ninguém questiona os benefícios do túnel do Marquês e no seguimento do mesmo, as alterações na Rotunda. Muito criticámos esta obra e de nada nos custa reconhecer o erro. Se excluirmos os esquecimentos no escoar das águas pluviais, a alteração mostrou-se positiva.
Casa aguardando demolição (Rua Camilo Castelo Branco)
A C.M. procedeu a um grande esforço de divulgação da nossa capital, nisto sendo Lisboa beneficiada pelo afluxo de torrentes de turistas que lhe dão uma grande visibilidade internacional. Pois aproveite então o Dr. Medina para lhes mostrar que esta cidade não se limita à Baixa, a uns tantos edifícios bonitos na Avenida e ao Parque Expo, esta espécie nacional de micro cidade nova do Panamá. Preserve aquilo que nos foi deixado pela Regeneração, pelo Fontismo. Reabilite o quase nada que subsiste da Belle Époque, salve o nosso modesto Deco, não deixe adulterar as construções características da 2ª República. O conglomerado de desastres que hoje é o I.S.Técnico, não pode continuar a repetir-se. Não se esqueça da calçada portuguesa e se turismo e visibilidade urbana são economia, na calçada bem mantida encontrará um activo.
O Dr. Medina tem agora uma excelente oportunidade para mostrar a sua autonomia, aproximando-se dos seus munícipes, aqueles que antes de tudo desejam viabilizar esta cidade como a residência de centenas de milhar de portugueses e de tantos outros que aqui demandam na esperança de entre nós encontrarem a segurança e talvez um dia, a prosperidade que a todos beneficiará.
6. A Câmara Municipal deverá de forma inequívoca esclarecer acerca do que considera ser de todo o interesse preservar. É insuportável e insultuosa a proliferação de cabeçudos - recheados de escritórios e de umas tantas habitaçõespara ricos - , moda que talvez se tenha iniciado com o Heron Castilho, ignominiosamente alcunhado de Frankenstein. Vão-se erguendo Frankensteins na Av. da República, nas perpendiculares da Av. da Liberdade e em todo o vasto espaço urbano delimitado pelas Avenidas Novas e Almirante Reis, nesta área se incluindo o Saldanha, a Estefânia e a Av. Duque de Loulé. Repense a opção hoteleira, nem todas as décadas vindouras garantirão o maná visitante. Uma cidade de hóteis, centros comerciais, estádios e escritórios, não nos serve.
Decida o que fazer com o Pavilhão dos Desportos, preserve-o e modernize-o, devolvendo-o a Lisboa, aos eventos desportivos e outras festas. Não permita mais disparates como aquele que neste preciso momento ocorre no Odeon. Esta ânsia de destruição de todo o nosso século XIX e início do XXº, dir-se-ia fruto de uma qualquer sanha saneadora de um certo período da nossa já secular história constitucional. Por muito desagradável que a muitos tal possa parecer, esta vital época de progresso e construção de uma Lisboa mais moderna, europeia, vai desaparecendo pela vontade de certos interesses financeiros que totalmente arrasaram uma praça como o Saldanha e uma outrora bonita avenida como a Fontes Pereira de Melo. Nesta última, ainda há dias se anunciou mais um clamoroso erro que roça o escândalo sussurrado de favoritismo pintado de trapaça. Implica o arrasar de quatro edifícios - três dos quais são hoje apenas belas fachadas - e a sua substituição por uma muito plutocrática torre arrasa-volumetrias. Em suma, este caso torna o crime Monumental um dia cometido pelo Sr. Abecassis, numa pioneira e mera nota excêntrica.
São estes alguns dos problemas que o Dr. Medina tem em mãos e para os quais poderá mostrar a vontade e a firmeza de que tanto necessita para nos dizer que afinal, nem todos são iguais. Pois concedamos ao novo presidente algum tempo, contemporizemos.
Infelizmente nunca pudemos contar com Gonçalo Ribeiro Telles, um arquitecto avesso a certos pressupostos que conferem à classe dirigente, o direito ou a impossibilidade de ocupar a presidência da edilidade olissiponense. Esta é a triste realidade, é o esquema, o regime.
O mais recente ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) é a última pessoa do mundo que deve declarar que deixa a casa arrumada ao abandonar a autarquia. Eu, por exemplo, tenho opinião diversa. Onde eu moro não deixou uma das ruas arrumadas. Nem sequer deixou rua. Falta à mesma um passeio. Os caminhantes servem-se há 8 anos de um estrado de madeira com uma extensão de mais de 100 metros! António Costa pode meter o quadro financeiro sustentável onde bem entender. O homem esqueceu-se que os residentes deveriam ser os principais destinatários da sua missão. Em todo o caso, o senhor não leva a chave da CML. Agora teremos a oportunidade de vasculhar e descobrir se o trabalho foi limpinho ou não. E com tanto festejo e glorificação, passamos de Meca a Medina sem termos sido consultados. Acabei de pagar o IMI, mas não existem atenuantes.
Uma vez que nos encontramos em plena época de caça ao veículo que tenha nascido antes de 1996, gostaria de lançar outro mote respeitante à poluição, à saúde dos utentes - dos passageiros, entenda-se. Convido-vos a deixar as virtudes do carro particular na garagem mais próxima e a entrar no primeiro táxi que conseguirem parar. Hoje mesmo fí-lo, e mais uma vez fui confrontado com uma lixeira em andamento. Mas vamos por partes. Comecemos pelo factor humano. O condutor deste táxi para além de praticar uma modalidade de pára-arranca indutor de vómitos, descurará, e provavelmente desde sempre, a sua higiéne pessoal. O hálito projectado pelo espelho retrovisor tresandava a uma misto de urina e feijoada transmontana. Os assentos de tecido húmido decadente estavam literalmente ensopados em imundice pegada esquecida por uma catadupa de passageiros de perfume duvidoso. Os tapetes de borracha que beijavam as solas dos meus botins, corroídos pelo bicho da marcha - de certeza que as minhas solas apanharam uma doença qualquer. As pegas das portas com resquícios de corrimentos de vária espécie - não perguntem de que género que eu não respondo. Enfim, um martírio do princípio ao fim da viagem. António Costa bem pode estar preocupado com questões de aparência do parque automóvel da cidade de Lisboa e brincar às "capitais modernas", mas o autarca-mor não tem a mínima ideia do que falo. Não anda de táxi. Quer lá saber. Para quando um regulamento "a sério" da Câmara Municipal de Lisboa respeitante às condições que os táxis e seus condutores devem observar? Para quando uma brigada de intervenção para proteger a saúde pública? Isto é uma vergonha. Ah, falta apenas um detalhe. Sim, o taxista tinha o tal mindinho para esgravatar o ouvido e sacar cêra para fabrico, quem sabe, de uma vela de santuário - Santo António.
Mais uma sujeira urbana da dupla Costa & Salgado. O PC vota contra com argumentos ventosamente imbecis e sem um balbuciar acerca do património arquitectónico do século XIX/XX. Quanto aos saloios patrioteiros PPD e CDS, enfim, farelo, farelo, o habitual colaboracionismo asqueroso.
Ainda há poucas semanas, Paris chumbou a construção de uma demencial construção cónica no centro da cidade, obedecendo ao interesse da preservação patrimonial e à vontade dos habitantes da capital francesa.
Com a assinatura "sim" de mais este inevitável Salgado, Manuel, inacreditável e hipoteticamente arquitecto, Lisboa continua a assistir à concessão de cada vez mais espaços para o terciário, precisamente numa zona onde abundam edifícios de escritórios completamente vazios: dois dos anos 80/90 na Rua Sousa Martins, o gigantesco mamarracho anos 90 ex-CTT na R. do Conde Redondo, o mamarracho da viragem séc. XX/XXI ex-Nokia nas imediações da SPA (Duque de Loulé), outro mono novo - tem meia dúzia de anos - e desde sempre vazio na Praça José Fontana, etc, etc. Se isto não é incompetência, ganância, corrupção e banditismo, não sei o que possa chamar-lhe. Se não é, parece.
Fico com náuseas. Fico com a cabeça a rodar. Sinto o estômago a dar voltas. Mas sobretudo sinto raiva quando sou confrontado com políticos que nada têm no bolso, e que à custa dos cidadãos, querem fazer bonitos e ser populares, simpáticos, elegíveis... Em tempos de grave crise económica e social, a Câmara Municipal de Lisboa simplesmente não pode gastar 300.000 euros em luzinhas de Natal (não sei se este valor inclui a conta de electricidade). Que António Costa não me venha com essa conversa da pequena alegria que está obrigado a dar às pessoas. Treta. Se fossem criativos lá para os lados dos Paços do Concelho, poderiam propor uma vigília à Nazarenos - em que cada uma traria uma pequena vela para iluminar o lirismo da quadra. Uma concentração de cidadãos para uma reflexão conjunta sobre as adversidades, e o modo como o espírito humano pode superá-las. Uma cidade rica em iconografia e santos padroeiros, de corvos a Santos António, não se pode deixar vender por saldos de ocasião. Com 300.000 euros, uma obra "para ficar" poderia ser erigida. Acresce a todo este aparato de killerwatts, uma outra dimensão - quem ganha com o negócio das lâmpadas e lamparinas? António Costa prova que não está à altura da situação, da falência que nos condiciona, mas que não nos deve atar as mãos. Combinemos então a noite da procissão - e cada um que traga a sua vela de santuário, e diante da sede da capital, afoguemos o nosso desagrado pelo esbanjamento da razão e do bom-senso.
António Costa diz que não existe solução para inundações em Lisboa. Minhas senhoras e meus senhores, entramos no reino do surreal, da estupefacção, da mediocridade, do abismo, da nulidade, da incompetência, e certamente, da ainda maior ruína de Portugal se apostarem neste cavalo para primeiro-ministro. O alegado presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) é que não existe (e não aparece em parte alguma para dar a cara em nome da população de Lisboa). Eu não deveria ficar espantado com o modo como este político se anula, e passa a si mesmo um atestado de burrice, de estupidez. Se não existe solução para um desafio menor como este, então poderemos concluir que António Costa nem por sombras terá soluções para Portugal. À primeira humidade, Costa revela bolor. À primeira contestação de um acto de Deus, Costa afasta os mau-olhados. À primeira contestação à sua responsabilidade, Costa passa a bola aos Sapadores. Poderemos concluir, sem margem seca de dúvida, que estamos sujeitos à atmosfera política que nos querem impingir e muito menos à pluviosidade. A Holanda não se encontra abaixo do nível do mar ou estarei enganado? Situações atmosféricas anómalas? O que o povo da cidade de Lisboa tem a fazer é mover uma acção contra a CML, sem se restringir a este ou aquele mandato. António Costa, o derradeiro de uma extensa fila de irresponsáveis, apenas tem uma coisa a fazer - assumir a bronca, a barca em que (se) transformou a cidade.
Rua das Pretas, Lisboa, 22 de Setembro de 2014, pelas 15.00H
António Costa diz a António José Seguro:
"Quero levar a experiência do que fiz em Lisboa e ampliá-la ao resto do País"
Acreditamos piamente nesta ameaça.
Há 115 anos, a "vereação republicana" da Câmara Municipal de Lisboa proclamou exactamente a mesmíssima coisa. Conhecemos o resultado: o prometido foi dolorosamente cumprido, com os resultados que todos conhecemos.
Aproveitando a época revivalista com uma paródia relapsa e contumaz, o Sr. Marinho e Pinto - é Marinho ou MÁrinho como a SIC insiste em dizer? - anuncia a fundação da sua coisa para o próximo dia do felizmente abolido coiso de Outubro. Para cúmulo, a coisa terá o mesmíssimo nome do coiso do Afonso Costa, ou seja, Partido Democrático Republicano. Está-se mesmo a ver a coisa.
...somam e seguem.
"Também nos preocupa constatar que algumas das destruições de azulejos acima referidas (a negrito) foram legais porque as demolições de fachadas receberam aprovação do Pelouro do Urbanismo, «por despacho do Vereador Manuel Salgado» conforme se podia ler nos locais das obras."
Nada de fiscais, pesadas penalizações ou embargos de obra, claro. "Paciência, foi-se, agora já nada podemos fazer".
Aparentemente indignada pela criminosa possibilidade do desaparecimento destas fachadas, contudo não se rala minimamente em manter fechadas as janelas de todos estes edifícios. Pelo contrário, miraculosamente vão sendo escancaradas de forma paulatina e muitíssimo evidente. Porque será, Sr. Cushman e Dª Wakefield? Ainda por cima Vossas Excelências já foram avisadas bastas vezes, a partir deste blog e/ou do Forum Cidadania LX. Rica imagem para uma imobiliária, não haja dúvida. Bem podem estabelecer avenças com empresas de demolições e uma joint-venture com a empresa-vereação do urbanismo olissiponense.
“O projecto chegou a ser aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa e a ter licença. Mas ela caducou, antes de se efectivar a venda. A maioria dos candidatos à compra pretende manter as fachadas. Até porque, no caso do edifício da Duque de Loulé [demolir a fachada] seria criminoso” disse ao Corvo fonte da Cushman & Wakefield."
É, como dizia o outro, "deves"...
Profunda e arrogantemente imbecil, o tal Zé que não faz falta alguma, alegadamente escarra mais umas tantas sandices a respeito do património que "urge não preservar". Segundo aquilo que o texto do Público alega, para esta coisa ..."os brasões são sinais do colonialismo". Refere-se ao simulacro de brasões que só com muita imaginação turística, ainda conseguem passar por tal na Praça do Império.
Há muito desapareceram, apenas restando uns raquíticos vestígios que estão muito longe daquilo que os canteiros durante décadas mostraram aos visitantes daquela zona da capital. A verdade é outra, pois uma rápida passeata pelas imediações, é mais que suficiente para verificar-se a progressiva degradação de todo o conjunto. O jardim não passa de um baldio semi-abandonado. Fonte luminosa? Onde? Quando, em que dias? A passagem subterrânea sempre sujíssima, borrada com porcarias garatujadas. O Padrão dos Descobrimentos, enegrecido. O prolongamento arrelvado em direcção à casa oficial do Sr. Silva das marquises, com obras de Sta. Engrácia, papelada por recolher; a prenda tailandesa, desprotegida e à mercê da gandulagem da Urban "Art". A lista a cargo da incompetência camarária é vasta, perfeitamente safernandizada e bem ao gosto salgado-costista.
A obliteração de uma História ainda bem presente e por sinal vivida in loco - na África e na Ásia - por uma boa parte da população portuguesa, deveria então ser acompanhada pela destruição de outros elementos do extinto império. Nem as palmeiras lisboetas escapam, agora condenadas pela praga de um mortífero besouro ao qual a CML não prestou qualquer atenção. Assim sendo, há que demolir o Mosteiro dos Jerónimos, erguido para comemorar a gesta no Oriente e que para cúmulo, também ostenta catatuas brasileiras, esferas armilares, brasões reais e túmulos dos Aviz que devem ser imediatamente despejados "à francesa-St. Denis" pós-1789; a Torre de Belém, carregada de símbolos imperiais manuelinos; há que mandar picar as Armas do Reino em todos os principais edifícios públicos - os únicos de valor, foram erguidos pela Monarquia -, assim como na generalidade de palácios e mosteiros, na estátua de D. José, no Arco da Rua Augusta e na Estação do Rossio, nos chafarizes e fontanários, nas igrejas, actuais museus, etc. Também podem queimar os coches, já que o "novo espaço" ainda está e previsivelmente ficará às moscas. Há quem ainda não tenha percebido que o império outrora exposto em mapas nas salas de aula, continua a existir de outra forma. Arribou à Europa, desde a nossa alimentação até às músicas que ouvimos, às gentes que connosco se cruzam nas ruas de uma Lisboa que há cinco séculos habituava-se às partidas e às chegadas. As pedras e os símbolos de outrora, são, ao contrário daquilo que um passageiro autarca possa julgar, elos que não se rompem por apetites ou isoladas manias.
Esta é uma das piores Câmaras Municipais de sempre e dela Lisboa guardará triste memória. Comparado com esta gente, o catastrófico Abecassis era um Ludovice, um Mardel.
Interessante seria, se este bufante indivíduo fosse obrigado a indemnizar o município pelos milhões de prejuízo que causou, quando politicamente embargou a abertura do túnel do Marquês.
Nesta republiqueta de sarjeta a impunidade dita a regra, é imperial. Imperial, mas sem brasões.
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Adenda: há algumas semanas, levei uns amigos estrangeiros a passear em Belém e diante dos fanados brasões, expliquei-lhes o que ali existira e o que significavam. Ficaram surpreendidos pelo desleixo e obliteração da história e ainda lhes garanti que a situação não era recente, tinha muitos anos. No entanto, a verdade é que eu, como tantos outros, deveria ter agido atempadamente, alertando a Câmara e os jornais. A culpa também é minha, pois nada fiz e critico agora, aquilo que podia ter sido evitado. Realmente, é fácil falar.
Estamos uma vez mais perante um facto consumado, até porque o grunhido de resposta dado pelo Zé ao jornalista, leva a questão para o patamar da política. Já ganhou o caso, pois agora com ele terá os mesmos incondicionais de sempre. Querem apostar?
Há uns tempos questionávamos acerca do futuro destes três edifícios sitos na Av. Fontes Pereira de Melo.
Parece que há quem anda com as ideias do costume, as que as fotos mais abaixo mostram. Vamos lá a ver quem serão os patrocinadores dos projectados mamarrachos. E pensarmos que durante anos andaram a azucrinar-nos com a "monstruosa volumetria" do demolido Monumental...
Em escassos 500 metros, temos: o mamarracho Monumental, o mamarracho "Duque" (aquela rasquíssima coisa branca, no Saldanha), o mamarracho Atrium Saldanha, o mamarracho hotel em construção na mesma praça, o mamarracho Saldanha Residence, os dois mamarrachos Sheraton/Imaviz, o mamarracho PT, e pela avenida F. P. de Melo abaixo, horrores mamarrachados dos anos setenta e oitenta - sim, os da 2ª República/ Marcelo Caetano também contam - , culminando com o recente mamarracho Sana. Tudo isto sob o patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa.
Coitados dos senhores Saldanha, Fontes Pereira de Melo e Sebastião José.
Entre omissões e esquecimentos, temos agora mais um daqueles casos capazes de levantar a má-língua dos blogistas, vizinhos da zona em questão e uns tantos interessados nos assuntos de apaga fogos.
O mais recente episódio que deixa um sabor salgado nestas andanças do imobiliário, respeita ao quartel de Bombeiros na Luz, Benfica. É a mais recente infraestrutura construída para os bombeiros de Lisboa e a Câmara Municipal aventa com "problemas de construção, infiltrações", etc. Pelo contrário, quem lá trabalha diz não ser necessária qualquer demolição, mas tão só algumas obras de remodelação. Existe um problema insolúvel - para os bombeiros - e é fácil percebermos porquê. O grupo Espírito Santo alegadamente quer alargar as suas actividades naquela zona, anexando o terreno onde se ergue o quartel dos bombeiros, contíguo ao seu hospital na Av.dos Lusíadas.
Manuel Salgado, o espirituoso vereador do urbanismo de Costa, santamente assinou a proposta.
Diz a Câmara que esse terreno irá a hasta pública. Estranha alegada hasta pública em que por mero alegado acaso de apelido, já surge um alegado vencedor.
1. ...acha que seria um privilégio termos Guterres como presidente. Pois muitos acham que seria uma benção deixarmos de ter presidente, fosse ele quem fosse. Benção esta tão benfazeja como Costa - e o seu acólito Salgado/primo - definitivamente deixar a Câmara Municipal de Lisboa.
2. Este regime é ridículo. Pela primeira vez está um presidente português na Coreia do Sul. Há que repetir, pela primeira vez. Se tivermos o ano de 1976 como ponto de partida, comparem os especialistas o percurso da Coreia do Sul e de Portugal. Vejam o que era aquele país naquele ano e o que é hoje. Depois, sigam o caminho de Portugal e tirem as devidas conclusões.
3. O ridículo não mata, mas moi. Pela primeira vez está no Ceilão um chefe do governo português. Aquele país é um dos mais fortes símbolos da presença portuguesa no mundo que desvelámos à Europa. Completamente ignorado pelas nossas elites, a antiga Taprobana representou algumas das mais inacreditáveis e gloriosoas páginas da nossa história. Mesmo que nos limitemos à queda de Colombo, este episódio é por si demonstrativo daquilo que há muito já não somos.
Não se trata de incluir a questão na "subjectividade dos gostos", pois o local não se compadece com experiências ou "reinterpretações de espaços que o adequam à funcionalidade do momento".
Após a inauguração das remodelações efectuadas por Costa, o conjunto geral parece muito mais aceitável do que o previamente existente. Desapareceram as grades, o alcatrão, a lixeira a céu aberto e a rubra lataria que hoje infelizmente foi colocada na Alameda das Universidades. A Ribeira das Naus está melhor, sem dúvida. Numa conversa com turistas que por lá aproveitavam para aumentar a colecção de fotos, fiquei a saber por idioma forasteiro, aquilo que a maioria dos lisboetas conseguiu ver assim que pela primeira vez teve conhecimento do projecto:
- Esta relva serve para refrescar o ambiente e fixa os visitantes que dela se servem para se bronzearem sob o sol de Lisboa. Mas... porque razão construíram estas rampas? Colocavam a relva, mas evitavam destruir a perspectiva arquitectónica!"
É verdade. Qualquer um diria o mesmo e não valerá apenas puxarmos pelas rebuscadas razões que fundamentaram a decisão recorrendo à "memória histórica" das carreiras que durante séculos fizeram deslizar para o Tejo uma infindável quantidade de galeões e naus, navios de transporte, fragatas, bergatins e galés. As rampas são um disparate e desvalorizam o espaço. Aquelas que servem para justificar a maluquice, eram invisíveis acima do "nível térreo", não interferiam com a discreta e intemporal grandeza dos edifícios contíguos.
Muito bem fez a Câmara em interessar-se por uma zona há muito ameaçada por vários desastres, desde o incêndio e destruição da Sala do Risco, até à decadência do Terreiro do Paço transformado em parque de estacionamento - em boa hora liquidado por João Soares -, ruína do muro debruando a margem do rio, a construção de observatórios-mamarrachos U.E. nas imediações e sem esquecermos a ainda muito recente e disparatada retirada dos valiosos candeeiros que faziam parte da colecção de mobiliário urbano da cidade, hoje substituídos por ridículos postes imitando fósforos carbonizados.
O interesse por aquela zona deve coadunar-se com a sensatez quanto às decisões tomadas para a sua preservação. Quando falamos em preservação, isto pouco ou nada terá a ver com experiências que cabem na zona da Expo - "monumento" a Maria José Nogueira Pinto incluído -, mas não ali, na zona de aparato da reconstrução setecentista. Bem melhor teriam feito em previamente auscultar a opinião dos lisboetas, pois desde o Sua Magnificência o Senhor Doutor, até ao vendedor de cautelas, a opinião talvez fosse unânime. Recupere-se mas não se estrague ou invente.
Adenda: como aqui já foi dito algumas vezs, teria sido mais simples o aproveitamento da doca e a construção de molhes onde estivesse em exposição permanente a fragata D. Fernando II e Glória e ocasionalmente, a caravela Bartolomeu Dias e os navios-escola Sagres e Croiula. Mas não, preferem sempre mexer onde não devem.