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Eterna caloira

por Cristina Ribeiro, em 27.08.17

na língua portuguesa, é sempre com prazer que leio - e releio! - autores como Camilo, Tomaz de Figueiredo ou João de Araújo Correia. Desta feita são os " Pontos Finais " que me chamam de novo. Alguns capítulos já os lera, tempos atrás, mas a urgência doutro livro, não lembro já qual, obrigou-me a adiar a leitura a que hoje volto. E logo castiço vocábulo me empurra para aquele conselho do nosso grande esgrimidor do vernáculo. ( que, por sua vez, o recebera do poeta Donas Boto )

Sim; neste tempo de facilitismos digitais, os velhos dicionários, Morais ou outro, ainda nos movem, com vantagem!

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publicado às 18:50

Portugal, um destino de eleição

por Fernando Melro dos Santos, em 15.05.14

 

 

Brincadeiras à parte, o que temos em cima da mesa é isto:

 

- Portugal desbaratou o dinheiro todo do primeiro resgate, nas parvoíces (bodo aos primos e obra redundante para inglês ver) do costume, tendo mantido a proeza da coesão social a troco das migalhas, como é prática desde 1986

 

- a Grécia vai cair, e desta vez cai mesmo

 

- a queda em desgraça da Holanda, onde o desemprego e o sentimento empresarial estão a níveis que fariam corar qualquer ex-membro do defunto Pacto de Varsóvia, deverá empurrá-los na direcção de um euro-clube mais selectivo, senão mesmo à saída. Nota bene: ali não se repetem referendos.

 

- o bater de porta da Finlândia está por um fio

 

- a França de Hollande alcançou o sonho socialista, a simetria suprema: nem cresce nem decresce, é o zero absoluto, egalité etc.

 

- com todo o dinheiro estúpido que tem vindo a entrar na compra de dívida periférica, o estoiro subsequente fará com que o falecimento do Lehman Brothers se assemelhe ao piar de um colibri no dia em que o Krakatoa acordou.

 

Recordemos o sindicalista Rui Riso: nao podemos pensar só nos lucros.

 

publicado às 14:28

A iliteracia professoral

por João Pinto Bastos, em 07.11.13


O tópico menos abordado da crise que, desde há alguns anos a esta parte, atemoriza o nosso querido Portugal é o abaixamento intelectual das gentes lusitanas. Esse abaixamento desdobra-se em múltiplas expressões, algumas delas bem preocupantes, mas há uma que, pela relevância que tem e pelo olvido deliberado a que tem sido sujeita, ganhou, a meu ver, foros de cidade. Falo, pois, do menoscabo a que os clássicos da literatura nacional (sobretudo na escola, o local em que é suposto transmitir avidamente os conhecimentos pretéritos às gerações vindouras) têm sofrido por banda daqueles que deveriam ser, natural e obrigatoriamente, os seus maiores apologistas. Ler como li, e ver como vi, que responsáveis da Associação de Professores de Português crêem que é um claro retrocesso voltar à leitura de Eça, Camões, Vieira, Pessoa, Herculano, Antero ou Garrett, faz-me pensar até que ponto o país regrediu vários degraus nos faróis da civilização. Este desconchavo cultural é o resultado mais paradigmático de décadas de facilitismo no ensino e na sociedade. Mais do que uma crise de valores e referências perdidas, o facilitismo dos nossos dias é um sintoma da degenerescência que o espectáculo niilista de uma sociedade luzidia e opulenta produziu no âmago de uma cidadania alienada. Hoje, não se lê, não se trabalha, e não se porfia afincadamente na prossecução de um objectivo plenamente consciencializado, em suma, nada vale a pena porque, ao arrepio do dito pessoano, a alma é muito pequena. Mas o que mais preocupa é a leviandade com que as ditas elites, ou, pelo menos, aquelas que passam por tais, descuram as minudências mais comezinhas de um arremedo de cultura. Encarar o ensino como um palco de fraca exigência e de leituras fáceis e rectilíneas, é despir a mente dos jovens formandos de tudo o que há de mais sublime e intelectualmente estimulante. Sair desta modorra analfabeta não será uma tarefa fácil, que possa realizar-se a breve trecho, pela simples razão de que não há, na sociedade presente, os estímulos necessários a uma renovação da alma nacional. Mas o certo é que, com ou sem associações burrificantes, os Camões, Eças e Camilos continuarão a ser uma referência para os poucos moicanos que ainda restam. Porque, ao inverso daqueles espantalhos que impõem programas de baixo alcance intelectual, nós sabemos que sem literatura não há alma que se eleve, e sem uma alma forte não há país que se afirme vigorosamente no concerto das nações.

Publicado aqui

publicado às 15:38






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