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Excelente a súmula de Ana Sá Lopes no ABC do PPM (o negrito é meu):
Até agora, o Congresso do PS não serviu para mais nada do que para dar energia à máquina que está obrigada a ganhar as três eleições do ano, uma delas com maioria absoluta. José Sócrates, autoproclamada vítima da maldição justiceira dos media e dos órgãos de investigação criminal que dão crédito a cartas anónimas, alvo inocente de "um qualquer director de jornal" [a taça é disputada entre José António Saraiva e José Manuel Fernandes], de uma televisão (TVI) vai junto do povo - que é quem efectivamente "manda" -para uma operação de resgate de imagem, mas não só. A operação PS 2009 apresenta-se ao eleitorado para resgatar a própria "democracia". Não é pouco o que o secretário-geral colocou agora em jogo para 2009: já não se trata de prosaicamente escolher, nas legislativas, o mais capaz para formar governo. Trata-se de vencer os tais "poderes ocultos" e um delegado apresentou mesmo sugestões para resolver o assunto: alterar as regras na justiça e na comunicação social. A dramatização da "calúnia" e a vitimização do "caluniado" já estão na rua e ameaçam transformar-se no principal eixo da campanha da reeleição.
Ah, Ana Gomes sugeriu que o combate à "campanha negra" passasse então por actuações concretas - assumir o combate ao enriquecimento ilícito proposto por João Cravinho - mas ninguém lhe ligou nenhuma.
Ricardo Araújo Pereira na Visão:
Às vezes um ministro engana-se e diz que está em Mafamude quando na realidade se encontra em Gulpilhares. A oposição não perdoa: manifesta indignação porque são duas freguesias de Vila Nova de Gaia absolutamente inconfundíveis, condena a ofensa sem nome que foi feita à boa gente de Gulpilhares (e, até certo ponto, também à de Mafamude), chama o ministro ao Parlamento para que justifique o lapso inaceitável, exige ao chefe de Governo que demita o ministro e ao Chefe de Estado que convoque eleições antecipadas com carácter de urgência.
Agora, que recaem suspeitas graves sobre José Sócrates, o PSD veio dizer que tem toda a confiança institucional no senhor primeiro-ministro, Luís Nobre Guedes, do CDS, manifestou apoio e solidariedade e o resto da oposição não disse nada de especial. Quando rebentou o escândalo BPN, foi parecido. Era difícil distinguir a lista de envolvidos nos negócios pouco claros do banco de um conselho de ministros do Governo de Cavaco Silva. O sonho de qualquer militante do PS. E que disse o PS? Nada de especial. Parece evidente que a melhor maneira de promover a concórdia e a cooperação estratégica dos principais partidos é acusar os seus dirigentes de ilícitos graves. Os adversários políticos não perdoam a quem comete lapsos menores, mas dão a mão a quem é acusado de delitos graves. São feitios.
A campanha negra, a existir, aparenta ser fruto de geração espontânea. Não há quem não repudie o ataque cobarde e ignóbil a José Sócrates, e andar simultaneamente a orquestrar e a repudiar o ataque seria especialmente cobarde e ignóbil. Mesmo para políticos. Em todo o caso, mais do que investigar o caso Freeport, eu gostaria que fosse investigada a campanha negra sobre o caso Freeport. Os conspiradores, se existem, devem ser detidos. E, depois, condecorados. Isto porque esta campanha negra, na eventualidade de ser real, é a iniciativa mais bem planeada, organizada e executada da política portuguesa. Portugal precisa de gente com este talento e esta capacidade de trabalho na vida política. São profissionais competentes na política, porque sabem escolher os factos mais delicados e a altura mais prejudicial para os revelar, são fortes na diplomacia e nos negócios estrangeiros, pela facilidade com que envolveram a polícia inglesa, e são rigorosos a ponto de desencantarem mails com mais de três anos quando eu tenho dificuldade em lembrar-me dos que recebi ontem. Menos dos que incluem fotografias de senhoras nuas. É possível que os autores da campanha negra sejam os melhores políticos portugueses das últimas cinco ou seis décadas.