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A crise de liderança do Partido Social Democrata (PSD) tem provocado mais alergias e urticárias no seio de outros partidos do que na própria casa da Rua de São Caetano à Lapa. Parece quase certo que o Derby social-democrata será disputado entre Santana Lopes e Rui Rio. Convém sublinhar o seguinte fenómeno separatista; Os mais contundentes sucessos de governação dos candidatos aconteceram na região norte - nas cidades da Figueira da Foz e do Porto. Numa lógica de bastiões e reservas estratégicas do PSD, faz algum sentido que assim seja, e tendo em conta o track-record de cada um dos adversários, se puxarem dos galões autárquicos para promoverem as suas causas, farão a vontade dos socialistas. Ainda recentemente, embora embriagado pelo oportunismo das eleições autárquicas, António Costa reforçou a sua dose ideológica de regionalismo e "autonomia" política dos concelhos desde que estes sejam do Partido Socialista (PS). Numa interpretação mais ampla, e à luz dos acontecimentos que decorrem na Catalunha, a bandeira do poder local pode ser um argumento subtil a ter em conta na gestão de um país. Quer Santana Lopes quer Rui Rio devem saber integrar as movimentações ideológicas excêntricas. Dirão muitos que o que acontece na Catalunha não interessa ao menino Jesus, mas não é bem assim. Quaisquer derrames não previstos, decorrentes da garraiada que opõe Madrid a Barcelona, terão impacto nos discursos políticos pan-europeus e nas contas europeias. A geringonça ficará indelevelmente colada ao ciclo económico favorável do turismo e ao dinheiro fácil do Banco Central Europeu. Numa lógica de modelos económicos que se esgotam e de alternância de vocalistas, o mais provável é o PSD agarrar o poder em Portugal quando este estiver na mó de baixo, a andar às voltas da nora de uma nova crise de excessos e devaneios orçamentais. Seja qual for o chefe da casa política do PSD, este deve alinhar ideias de um modo realista, mas desapaixonado. O PSD, não sendo governo, deve ter um papel de auditor interno, de agência de rating. Por outras palavras, deve fazer uso do capital de que dispõe. E o legado de que dispõe diz respeito à experiência na gestão de crises. Os outros, para serem coerentes com o seu currículo, continuarão a pintar um cenário cor-de-rosa, perfeito. O PSD deve levar em conta que as marés psicológicas são de duração limitada e que as escorregadelas financeiras dos governos marcam o início do seu fim. O PSD apenas deve ser paciente. A realidade falará por si. A ideologia acaba sempre por se trair e deixar ficar mal os crentes mais ferverosos. O PSD deve declarar a sua independência política das querelas típicas que polvilham o quadro governativo de Portugal. Se quiser sair por cima.
A presença de Portugal no mundial de futebol que se disputa no Brasil em 2014 é mais do que simples bola. A participação no campeonato do mundo é coisa que agrada simultaneamente ao governo e ao povo. Nos últimos tempos raras têm sido as vezes em que o governo e os desempregados partilham os mesmos gostos. Mas atenção, vêem a bola de modos distintos. Se por um lado o espectáculo serve para levantar o ânimo de um país carente de um foco de inspiração, de uma vela de santuário, por outro lado o governo terá algo para distrair os mais incautos de planos políticos gizados para o território nacional. O timing não poderia ser melhor. A probabilidade da aplicação de um programa cautelar acaba de aumentar com o apuramento de Portugal. Cristiano Ronaldo, sem o querer ou saber, acaba de dar uma ajudinha à Troika que pode aproveitar a boa onda para avançar com mais medidas extremas ou revalidar a sua presença quando terminar o seu contrato em Junho. O que Cristiano Ronaldo fez em campo é verdadeiramente notável e transforma-o numa espécie de santo padroeiro do sucesso, num altar móvel de esperança, mas os três golos do madeirense também são um hat-troika oferecido aos senhores da gleba. Temo que este prémio, mais que merecido pela equipa nacional e pelo país, seja aproveitado para fins diversos, enquanto o povo samba e sorve a caipirinha.