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Centenário do nascimento de Camus

por Samuel de Paiva Pires, em 07.11.13

 

A Queda:

 

"Cismo, por vezes, no que dirão de nós os futuros historiadores. Bastar-lhes-á uma frase para definir o homem moderno: fornicava e lia jornais. Depois desta forte definição, o assunto ficará, se assim me posso exprimir, esgotado."

publicado às 16:23

Do Juízo Final

por Samuel de Paiva Pires, em 04.06.13

 

Albert Camus, A Queda:

 

«Acredite-me, as religiões do mundo enganam-se desde o momento em que pregam moral e fulminam mandamentos. Deus não é necessário para criar a culpabilidade nem para castigar. Para isso bastam os nossos semelhantes, ajudados por nós próprios. O senhor falava-me do Juízo Final. Permita-me que ria respeitosamente. Eu espero-o a pé firme: conheci o que há de pior, que é o juízo dos homens. (…) Vou dizer-lhe um grande segredo, meu caro. Não espere pelo Juízo Final. Realiza-se todos os dias.»

publicado às 01:10

Da modéstia dos eleitos por convicção própria

por Samuel de Paiva Pires, em 01.04.13

 

Albert Camus, A Queda:

 

«Era de origem honesta mas obscura (meu pai era oficial), e no entanto, certas manhãs, humildemente o confesso, sentia-me filho de rei ou sarça ardente. Tratava-se, repare bem, de algo bem diferente da certeza em que eu vivia de ser mais inteligente do que ninguém. Tal certeza, aliás, é inconsequente que é partilhada por tantos imbecis. Não, à força de ser cumulado, sentia-me, hesito em confessá-lo, um eleito. Eleito pessoalmente, entre todos, para este longo e constante êxito. Aí estava, em suma, um efeito da minha modéstia. Negava-me a atribuir este êxito unicamente aos meus méritos e não podia acreditar que a reunião, numa só pessoa, de qualidades tão diferentes e tão opostas fosse apenas o resultado do puro acaso. Eis porque, vivendo feliz, eu me sentia, de certa maneira, autorizado a fruir desta felicidade por algum decreto superior. Se lhe disser que não tinha qualquer religião, perceberá ainda melhor o que havia de extraordinário nesta convicção. Extraordinária ou não, ela ergueu-me, durante muito tempo, acima do ramerrão quotidiano, e pairei, literalmente, durante anos, dos quais, para dizer a verdade, ainda tenho saudades.» 

publicado às 00:41

Do homem absurdo

por Samuel de Paiva Pires, em 10.01.13

 

Albert Camus, O Mito de Sísifo:

 

«Para um homem afastado do eterno, a existência toda inteira não passa de uma imitação desmedida sob a máscara do absurdo. A criação, é a grande imitação.

 

Esses homens começam por saber, e depois todo o seu esforço consiste em percorrer, engrandecer e enriquecer a ilha sem futuro a que acabam de acostar. Mas primeiro é preciso saber. Porque a descoberta absurda coincide com uma paragem, onde se elaboram e legitimam as paixões futuras. Mesmo os homens sem Evangelho têm o seu Monte das Oliveiras. E também no deles não se deve adormecer. Para o homem absurdo já não se trata de explicar e de resolver, mas de sentir e de descrever. Tudo começa pela indiferença clarividente.»

publicado às 21:10

Do sentido da vida (2)

por Samuel de Paiva Pires, em 07.01.13

Escreveu Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego, «E sobretudo, por amor de Deus, não tomemos a sério nada do que fazemos. Façamos uma antedescoberta da futilidade do que fazemos.» Se tudo o que fazemos é fútil, se a vida não tem sentido e, sendo assim, dos acasos que nos sucedem não podemos retirar lições, já que são apenas isso, acasos, ainda que pareçam ligados entre si e se revistam de um amargo sabor irónico que nos faz pensar nas palavras de Chesterton a todo o momento, e se esses acasos, especialmente quando são fruto de injustiças gritantes, nos roubam os sonhos e nos compelem no sentido da mera existência - por oposição à vivência - então a afirmação com que Camus principia O Mito de Sísifo ganha ainda mais força: «Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.» Escreveu Unamuno que os portugueses são um povo de suicidas. Ouvi hoje de manhã, na Antena 1, que o número de suicídios em Portugal aumentou. Provavelmente por causa da crise. O que se me afigura uma cobardia. Pôr cobro à vida por questões financeiras, por já não se conseguir viver ao mesmo nível de outrora, é próprio de espíritos fracos. Já colocar cobro à vida em virtude de um abalo existencial, é outra história completamente diferente. Surge então uma outra questão: onde é que se arranja coragem para tal? E mesmo que se consiga arranjar coragem, apresenta-se-nos ainda uma derradeira questão: e os outros que cá ficam? É que o suicídio é um egoísmo. E talvez seja nos outros que cá ficam que podemos encontrar o sentido da vida.

 

Leitura complementar: Do sentido da vida.

publicado às 21:28

Do sentido da Esperança e da Vivência Cristã

por Carlos Santos, em 29.05.12

A abordagem de Camus ao Mito de Sísifo é atravessada da mesma incultura religiosa que marca muitos dos existencialistas do seu tempo. Camus não inventa nada, nem coloca em Sísifo nenhuma questão nova a que o Cristianismo não tivesse já respondido, da forma mais sublime, nas Sagradas Escrituras. A questão da "falta de significado" dos padecimentos do homem no mundo é respondida precisamente por Jesus Cristo: Deus toma a forma da sua criatura eleita, o homem, e vem, como verdadeiro Homem, experimentar as agruras da condição terrena. Ensina-nos S. Tomás de Aquino que Deus cria por Amor, e por Amor vem verificar, na pele de Homem, o suplício das misérias terrenas. Enquanto verdadeiro homem, Cristo, como o Sísifo de Camus, é livre: pode recusar, nada lhe é imposto. Só que o que os Evangelhos nos mostram é que Cristo une, pela oração, a sua vontade humana à vontade divina, pois é também verdadeiro Deus. E com isso suporta todo o padecimento da sua vivência no mundo, que culmina na Paixão e na Cruz. O grito lancinante que replica o Salmo 22, mostra até que ponto o Deus compreende a condição humana! No alto da Cruz, Cristo cita o salmista, "Meu Deus, porque me abandonaste?", dando voz a todas as agruras que no mundo levam o homem a questionar-se da sua sorte. Mas cumprindo com a vontade de Deus, e ressuscitando no terceiro Dia, Cristo responde ao sentido da existência Cristã: Deus não abandonou o Homem, pois o sentido da vivência humana ultrapassa esta efémera passagem terrena.

 

publicado às 17:47

Religião, prazer, morte e razão

por Samuel de Paiva Pires, em 14.05.12

Tarrou, descrevendo Orão em A Peste, de Albert Camus:

 

«Todos se precipitam, pelo contrário, para qualquer coisa que conhecem mal ou que lhes parece mais urgente do que Deus. Ao princípio, quando julgavam que era uma doença como as outras, a religião estava no seu lugar. Mas, quando viram que o caso era sério, lembraram-se do prazer. Toda a angústia que se pinta durante o dia nos rostos dissolve-se então, no crepúsculo ardente e poeirento, numa espécie de excitação desvairada, numa liberdade desusada que inflama todo um povo. E também eu sou como eles. Mas quê! A morte nada é para os homens como eu. É um acontecimento que lhes dá razão.»

publicado às 18:15

Do absurdo rotineiro à morte

por Samuel de Paiva Pires, em 17.02.12

Sartre, no prefácio a O Estrangeiro, de Camus:

 

"Certo é que o absurdo não está no homem nem no mundo, se os tomamos separadamente; mas, como é o carácter essencial do homem o «estar-no-mundo», o absurdo é, em suma, unitário com a condição humana. Por isso não é, em primeiro lugar, o objecto de uma simples noção: é uma iluminação desolada que no-lo revela. «Os gestos de levantar, carro eléctrico, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, carro eléctrico, quatro horas de trabalho, refeição, sono, e segunda-feira, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, no mesmo ritmo…» (Camus, O Mito de Sísifo), e depois, de repente, os cenários desabam e acedemos a uma lucidez sem esperança. Então, se sabemos recusar o socorro enganador das religiões ou das filosofias da existência, temos algumas evidências essenciais: o mundo é um caos, uma «divina equivalência que nasce da anarquia»; - não há amanhã, visto que se morre."

publicado às 12:59






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