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Se as palavras ainda valem o que valem, as frases que resultam delas devem servir para revelar uma determinada intenção. Nesse caso, resta-nos interpretar cuidadosamente a mensagem que nos mandam para tentar extrair significados profundos. Quando Cavaco afirma que a única relação que manteve com o BPN foi na qualidade de depositante, soa a Bill Clinton quando jurou a pés juntos que não se enrolou com a Monica Lewinsky. "I did not have checks with that bank" - seria mais ou menos assim se fosse traduzido para linguagem de depósito a prazo -, mais juro menos juro. Mas prestem atenção. Há aqui palavras-brinde metidas na conversa como quem não quer a coisa. Como se fosse um fait-divers - en passant. O presidente da república parece se servir da condição de professor para atenuar as agravantes. "Estão a ver. Eu até era um desgraçado professor que foi a esse... como se chama o banco? Isso - BPN -, guardar os meus trocos, as minhas pequenas poupanças" - a miséria ganha por um docente. Cavaco Silva, ao afirmar que estava ocupado academicamente, parece que o faz para poder dizer que "tinha lá tempo para andar metido em esquemas de dinheiros". Depois, ao não responder à letra a Mário Soares, que o intimida a comparecer em tribunal, provavelmente fá-lo para ver se a coisa acalma. Se Cavaco irrita Soares, está o caldo entornado - este ainda vai buscar umas pastas que devem andar por aí perdidas em arquivos e fundações convenientes. Mas regressemos ao espírito e à letra da troca de galhardetes. Cavaco, que estará no mesmo estado avançado em que se encontra Soares, dentro de muito pouco tempo (reformado, pensionista e mais ou menos gágá), ainda lança umas indirectas que podem ser resgatadas por entendedores de meias-palavras. Quando Cavaco vem com aquele floreado que o povo de Portugal deve estar reconhecido pelo papel de Soares no processo conducente à adesão às Comunidades Europeias, no fundo, e trocado por miúdos, está a dizer que quem nos meteu nesta alhada há muitos muitos anos foi o amigo Soares. É subtilmente cínico, mas não passa despercebido. No meio disto tudo, só acho desonesto que a troca de galhardetes envolva a casa civil. De civil resta muito pouco. Parece que Soares tem enviado as reclamações por correio azul para essa casa em Belém. Claro está que a resposta que os portugueses exigem nunca chegará à barra do rio Tejo, quanto mais à barra do tribunal.