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O porta-voz Ferro Rodrigues oferece a conversa de um vendedor que não sabe para que lado vai cair a sorte política. O Partido Socialista vem com o discurso de campeão da Esquerda, mas sabemos muito bem que já não são dignos representantes desse título, se é que alguma vez foram. Os seus sucessivos governos foram tão neo-liberais quanto os dos outros. Nessa medida, embora afirmem que não vão em compadrios com o Partido Social-Democrata (PSD) porque são distintos e estão abertos a entendimentos mais à Esquerda, a coisa não é assim tão linear. Ora, se precisam do encosto dos que estão mais à Esquerda, então significa que eles não são Esquerda. Ponto final. Talvez sejam outra coisa. Talvez sejam herdeiros de um mito ideológico antigo, intensamente corroído pela sua acção governativa, pela sua vida política. Mas existe uma ameaça muito mais apreciável do que a fragmentação partidária do espectro político nacional. Se Rui Rio for o homem do PSD, António Costa ainda vai ter de esgravatar muito e ceder muito mais para chegar ao poder. Quem coloca a hipótese de oferecer ministérios e secretarias a praticantes como Ana Drago ou Rui Tavares, tem de ter a noção que coloca em risco o destino final da viagem. Os socialistas, que agora disparam a torto e a direito, se não tiverem juízo ainda acertam em ambos os pés. A pergunta que deve ser colocada diz respeito ao modo de interpretar o desagrado nacional, o sentimento de esperança que os socialistas espalham como perfume fácil, quando sabemos, e bem, que nada de substantivo se altera quando os actores políticos forem outros. Portugal, na sua presente e futura situação, estará condicionado pelo ditado da Troika. Ferro Rodrigues elogia Marinho e Pinto porque necessita de guardar uma carta para uma jogada final. Nunca se sabe até onde terão de ir para ganhar votos à Esquerda e à Direita. Em nome do seu putativo governo, os socialistas ainda vão cometer muitas tropelias. O actual governo necessita apenas de continuar a fazer o seu trabalho - seguir em frente sem prestar atenção a ruído demagógico. Enquanto isso decorre, no caminho que nos conduz até às legislativas, veremos como a Câmara Municipal de Lisboa será convertida em plataforma de campanha. Aposto que vamos assistir a inúmeras iniciativas de integração e pluralidade, amostras de ecumenismo político, miscigenações convenientes para dar ar de partido total, absoluto e inquestionável. O problema que se lhes coloca é que o cidadão português já não passa cheques em branco. Porque tem sido o principal visado da incompetência dos grandes lideres nacionais - uns mais endeusados do que outros.