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Os Condenados de Shawshank

por Fernando Melro dos Santos, em 07.03.13

Boa noite.

 

Passou mais um dia neste país a saque. Não houve revolta, não houve uma alminha, fora das virtualidades inócuas, que erguesse os braços em defesa dos vossos filhos.

 

Por um lado, porque durante o tempo em que havia o dinheiro dos outros, passou a ser mais importante ter quatro cães, passar férias em resorts sob o sol alheio emborcando cocktails como javardos sem estirpe, trocar de relação mensalmente e ostentar merdas inúteis para embasbacar o vizinho, do que ter filhos. 

 

Por outro, porque depois, quando o dinheiro acabou conforme sabíamos que iria acabar, deixou de ser viável tê-los entre o progresso do aborto e de outros acordos que Portugal é lesto a seguir - ainda que o faça sozinho, num provincianismo com pés de barro dourado a mijo cosmopolita.

 

Perdêramos de repente o Verão das nossas vidas. 

 

Neste dia foram atribuídos, em concurso público, milhões de euros a dispender em obras inúteis. É provável que os adjudicatários não sejam aleatoriamente escolhidos, mas ninguém erguerá a voz para denunciar os casos que eventualmente conheça. A Natureza tem horror ao vácuo e a cobardia prontamente preenche o lugar do sangue. Isto é, mesmo sabendo que é do vosso dinheiro que vai ser pago o Parque de La Salette, nenhum de vós mexe a ponta de um corno para impedir tal aberração.

Eu não sei qualificar-vos. Foi descoberta uma forma de vida na Antártida, ontem, que ainda não está classificada e tem ADN nunca antes visto. Deve ser do vosso genoma, porque foi capaz de viver congelada milhões de anos enquanto lhe passavam por cima com jipes, trenós, petroleiros, e toda a merda imaginável, imperturbada.


Este post do Joshua é uma ode à coragem hirta e ao valor amordaçado de quem persiste, por opção ou falta dela, em cá ficar. Numa terra banida do restante Ocidente, onde para ascender ao poder é condição necessária ser um homúnculo medíocre, de aspecto glabro e efeminado e com percurso feito  nas teias mais nojentas do bas-fond partidário, não restam dúvidas quanto ao cisma do nosso tempo.


De um lado estão eles, do outro estamos nós, e no meio estão vocês, os capados que titubeando entre o comodismo e a incredulidade, mais Benfica menos Rock in Rio, mais aguardente menos tabaco, ajudam a perpetuar este horror e condenam os velhos a uma morte em lágrimas e os putos à apatia e ao estupor perpétuo.

O problema com este arranjo das coisas é que os velhos e os putos não são, em exclusivo, os vossos velhos e os vossos putos. É que por mim cá me safo, e o mesmo deverão dizer os da minha criação e idade, que não aspiram a ser Secretários de Estado nem almejam quimera alguma ao poderzinho filho da puta que se instalou, e também já nada temem perder que sejam eles a poder tirar-nos. 

 

Mas temos velhos, e temos putos, e uma récua de cabrões aleivosos alimentados a pão-de-ló com os tostões que houver para gamar a quem mais conta nas nossas vidas, isso é coisa que não tem lugar, não pode ter lugar, dentro das mesmas fronteiras onde haja pessoas que se digam livres. Permitir a passagem de cada dia como este que agora se finda, sem erguer um braço, uma tocha, uma pedra, uma barricada contra os maus da fita é proclamar em surdina a impotência perante o assassinato, lento mas inexorável e deliberado, daqueles a quem tudo devemos. 

 

Encolham os ombros. Eles é que mandam. Há cem anos estávamos pior porque não havia estradas tão boas. Se pensamos nisso ficamos malucos.

 

Sois o mais fiel retrato dos enrabados contentes.

 

publicado às 22:22






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