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Um andar com história

por Nuno Castelo-Branco, em 25.10.11

A Causa Real não é um Partido, nem existe para ser um centro conspirativo para o derrube violento de qualquer uma das Repúblicas que temos vivido. Embora no seu alvorecer tenha representado a revolta que se levantou contra a prepotência do estado de coisas instalado pela força em 1910, o passar dos anos levaram-na a enveredar pelo caminho da marcação de uma presença constante, aquele prudente mas firme sinal de aviso a uma certa forma de ver Portugal e o progressivo enraizamento da certeza da viabilidade do regresso da instituição histórica e tradicional do nosso país. Atravessou períodos de maior notoriedade e no início da década de 50, houve momentos em que pareceu muito perto de conseguir o propósito da restauração da Monarquia em Portugal. As gerações sucederam-se e com elas, a forma de pensar a sociedade que era própria do tempo. 

 

Quem visite os numerosos sites monárquicos na blogosfera ou no Facebook, poderá verificar uma certa impaciência pela "inacção" da Causa, entendendo-se equivocadamente o seu papel, como uma sede aglutinadora à imagem de um Partido político e neste caso, o único corpo visível que combate o regime. Nada de mais errado. Em Portugal não existem organizações - Partidos ou outro tipo de associações políticas - de cariz revolucionário. Extinguiram-se há muito e agora são todas "burguesas" na acepção marxista do termo. Não existe uma única e até aquelas que discorrem saudosista e vagamente sobre a temática - o PC ou o BE -, são parte integrante do regime que as sustenta.  A Causa Real não é um organismo revolucionário e há que reconhecer antes do mais, o escrupuloso respeito que o Duque de Bragança nutre pelas instituições. Bem ao contrário de certos Chefes de Estado de um passado recente, o Senhor D. Duarte não cultiva qualquer tipo de pendor para actos de ilegitimidade constitucional, como uma ainda bem recente dissolução parlamentar  foi flagrante exemplo. Só poderá verificar-se uma alteração nestes pressupostos, no dia em que alguns afoitos passarem a imaginada mas verdadeira barreira até agora intransponível, precisamente aquela que defende a formal independência nacional. Aí, sim, o quadro poderá alterar-se.

 

A verdade é que por muitos milhares de filiados que tenha - e tem-nos, agrade ou não agrade este facto "aos do sistema" -, a Causa não quer, não pode e nem sequer tem como fim, a imitação guerrilheira e espúria daquele grupo que um dia se chamou PRP. Diferentemente dos republicanos decididos pela destruição de uma Monarquia que faziam crer ser por si a razão das desgraças nacionais, a Causa Real concita a simpatia e a participação nas suas listas, de milhares de portugueses com as mais díspares opiniões políticas, avultando nomes bem conhecidos do actual regime. "Inimigos" nos pressupostos partidários, aliados no grande objectivo comum. Será ainda necessário sublinhar, a progressiva adopção pelo chamado mainstream do actual regime, de muitos dos mais importantes postulados veiculados pela Casa Real, através da pública tomada de posição por elementos a ela ligados - a Causa Real, por exemplo - e que nas academias ou imprensa, têm indicado caminhos a trilhar para o bem comum: quem recorde qual era o posicionamento dos monárquicos quanto à descolonização, o caso de Timor, os Tratados assinados com a então CEE, a política portuguesa na geoestratégia do Atlântico ou da aproximação política e económica aos países da CPLP, facilmente reconhecerá este mérito que não pode ser negado. Por muito que isso desagrade aos "aflitos do regime", esta é a verdade que a poucos escapará.

 

Outro dos equívocos consiste na alegada "blindagem" da C.R. à livre participação dos seus filiados - que na maioria não são de forma alguma "militantes" - nos órgãos dirigentes. Há que notar o facto da Causa Real ser um braço daquilo a que em sentido amplo se chama o gabinete da Casa Real, não podendo ser por isso, sujeita a golpes de aventureira oportunidade que se verificam noutro tipo de organizações, nomeadamente em certos partidos políticos. Não se pode correr o risco do surgimento de neo "reis de Penamacor" ou de qualquer um calabrês "Marco Túlio". Se as eleições são completamente livres, a escolha dos dirigentes deverá ser sempre objecto da aquiescência real e este aspecto é tão relevante quanto a existência da própria Causa e das suas ramificações plasmadas nas Reais Associações. Alguns sectores mostram-se salutarmente impacientes e clamam por acção!, sem que essa prometida azáfama seja plenamente explicada à generalidade daqueles que se reclamam de monárquicos. Assim sendo, como será possível passar a Causa a tomar posições de recorte partidário no âmbito da política nacional, sem que isso implique a sua transformação num Partido político? É evidente e desejável o surgimento de múltiplas organizações que pretendam "ir a eleições gerais" e que incluam nos seus programas, aquela medida essencial que implica a reconstrução do Estado: a opção pela Monarquia. No entanto, tal não pode ser exigido à Causa Real, por mais que isso desgoste muitos dos seus filiados que aliás, nela encontram pares que  obedecem a outras linhas de acção e mais importante ainda, de pensamento. Se existe "nossa gente" válida nos Partidos, poderão os militantes subir às respectivas tribunas dos Congressos e do alto proclamarem o seu apego à necessidade da restauração da Monarquia. No PS, no PSD, no CDS, BE ou em qualquer outro, seria um inestimável serviço prestado, organizando tendências e grupos de pressão. Essa é a ideia chave.

 

Sendo de uma geração muito distante daquela que fundou a então Causa Monárquica, parece-me  de elementar justiça, reconhecer o trabalho porfiado que os fundadores e os seus imediatos sucessores tiveram para a manutenção da chama. Para onde foi, ou o que fizeram os "nossos filiados" do Partido Progressista e do Partido Regenerador que passe o evidente anacronismo, eram o PS e o PSD da Monarquia? Desistiram, reduziram-se ao anonimato ou pior ainda, "aderiram" a novas oportunidades. Critiquem-se hoje em dia os Integralistas, desdenhe-se agora o labor dos genealogistas ou dos "loucos pela verdadeira Bandeira", há que concluir terem sido eles, os homens que impediram a extinção da ideia do princípio monárquico da organização do Estado português. Acabaram por muito contribuir - tentaram-no bastas vezes e pelas armas - para o derrube da ditadura "democrática" dos Costas, Dentes d'Ouro e Bernardinos, fincaram o pé e irritaram Salazar e Marcelo Caetano. Estes "velhos de outros tempos" abriram as portas à renovação da Causa nos anos 60, acabando por adequar a ideia da Restauração, a algo que hoje em dia é perfeitamente normal e exequível no plano dos princípios. Se tal não foi até agora conseguido, isso dever-se-á às contingências dos diversos períodos que têm pautado a vida da actual "situação" e que mais terão a ver com os interesses de casta que durante anos têm encontrado amplo respaldo além-fronteiras, traduzindo-se isto no eterno numerário que faz amodorrar a vontade  de tantos. Uma época que está a chegar ao fim.

 

A Causa Real podia fazer mais? Decerto. Para isso, seria necessária a total dedicação de todos os filiados e a sujeição ao vai-vem das conferências, reuniões fora da cidade de residência e do trabalho, a contribuição com uma parte, mesmo que ínfima, do património de cada um. Ora, isso é o que tem acontecido no muito restrito núcleo dirigente da C.R., com o claro sacrifício da tranquilidade da vida familiar e do incontornável recurso às contas bancárias de cada um. Bem vistas as coisas, o simples trazer do tema para as conversas no café e convívio de amigos, é por si, um inestimável serviço prestado. Urge insistir e chamar a atenção. Faz-se o que é possível e esse é o papel daqueles que se encontram filiados na organização. A C.R. não beneficia de subsídios, não parasita os contribuintes - o famoso Estado - , nem vive da permuta de negócios por influências, coisa que se verifica noutras latitudes e com os prejuízos que são conhecidos.

 

Ser membro* implica deveres a cumprir e não apenas o iniludível direito de criticar.

 

A realidade demonstra que os regimes constitucionais vão passando e a Causa lá continua, como sempre, na mesmíssima localização. Se tempos houve em que parecia perto da extinção, hoje é um testemunho daquilo que por ela fizeram as gerações dos nossos bisavós, avós e pais. E assim se eternizará, para grande irritação de alguns dos nossos pouco esclarecidos "inimigos".

 

* Não sou filiado na Causa Real. 

publicado às 11:53

 

Sou monárquico até às entranhas, ao ponto de achar que ninguém o deve ser de ânimo leve. Sou monárquico, nos dias de hoje, porque acredito que este é o regime que melhor se adequa ao nosso país, garantindo mais estabilidade política e uma chefia de estado independente dos partidos. Como tal, sou um monárquico que acredita no futuro da monarquia, o que é bastante raro em Portugal.

 

Conheço muitos bons monárquicos, mas reconheço que como colectivo somos maus. Na maioria, temos uma tendência parva para nos tornarmos saudosistas manhosos, intelectuais de salão e velhos jarretas reaccionários. Achamos que estamos certos e até tenho certeza que o estamos, no entanto, achamos que as nossas opiniões se autolegitimam por obra e graça de S. Nuno de Álvares Pereira. Para nós, monárquicos, não interessa irmos para a rua, não importa comunicarmos os nossos ideais e lutarmos por aquilo em que acreditamos. O mais importante, é estarmos unidos na convicção da nossa verdade, morrendo lentamente enquanto movimento, enroscados na confortável mantinha da resignação republicana.

 

Os últimos tempos têm sido um pouco diferentes. Existiu o 31 da armada e o episódio da bandeira na Câmara Municipal de Lisboa, o IDP cresceu alicerçado na força do Professor Mendo Castro Henriques e as redes sociais serviram de fóruns de discussão sobre a monarquia. Algo mudou, infelizmente muito pouco. As estruturas monárquicas, que nos representam institucionalmente, continuam essencialmente moribundas. Os dirigentes de hoje são os dirigentes de há 30 anos e os filhos e netos dos dirigentes de há 30 anos. Não incomodamos ninguém, não trabalhamos enquanto grupo, não nos renovamos e temos uma tendência confusa de temer tudo o que venha de novo. Somos essencialmente seres politicamente confusos, hesitantes entre seguir em frente ou contentarmo-nos com o passado.

 

Não foi preciso ir ao congresso deste fim-de-semana da Causa Real, para perceber que já era hora dos dirigentes monárquicos de sempre abrirem portas à renovação, ouvirem os monárquicos do amanhã e fazerem algo para deixarmos de ser menos dia após dia.


 

 

Também publicado no Albergue Espanhol.

publicado às 21:09

Completamente de acordo

por Samuel de Paiva Pires, em 30.11.08

Com o que escreve o João Távora:

 

Mas ao contrário do que possa parecer, o grande adversário deste ideal não está tanto na esquerda jacobina ou no positivismo materialista, mas antes reside entre os seus adeptos: está em primeiro lugar, em boa parte da elite académica cultural e política nacional que, nutrindo simpatia pela causa, abdica dela, bem fundo na gaveta do "pragmatismo", como garantia duma bem sucedida carreira pública sem embaraços. Em segundo lugar, está em algumas pessoas, pedantes snobs que gravitam em estéreis organizações monárquicas, ávidas de filar honrarias nobiliárquicas de obscuros antepassados. Estranho quanto a falta de noção de ridículo e tanta vaidade impeça esses patetas de perceber como prejudicam a nossa tão fragilizada causa.

publicado às 14:30






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