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Quando a economia dos homens e mulheres não funciona, e é incapaz de gerar riqueza e bem-estar, entram em campo outras soluções. Uma delas é posta em prática de cima para baixo, pela via do estímulo às economias. A impressão de dinheiro e a compra de títulos de tesouro é um dos caminhos mais fáceis para virtualizar a recuperação. Os EUA, destemidos nesta abordagem, e pela mão da Reserva Federal (FED), têm vindo a comprar os Mortgage Backed-Securites (MBS) ao ritmo de 85 mil milhões de dólares por mês. Os MBS são títulos ligados directamente ao mercado imobiliário, entendido como o sector a partir do qual as retomas acontecem. A procura imobiliária serve a economia no sentido mais que transversal. Exige novas casas, materiais de construção, pintores, pedreiros, energia e o envolvimento da banca. Nos últimos meses, os "briefings" do FED tem oscilado entre a cautela e algum cuidado. Por um lado é sabido que se a torneira do estímulo fôr fechada prematuramente, os rebentos da retoma podem sentir o efeito da falta de rega e minguar. Por outro lado, a chuva excessiva de nutrientes pode provocar efeitos secundários, designadamente inflação. Basicamente o que separa a política Europeia da Americana tem a ver com esta doutrina de dinheiro. A Europa teve a experiência da hiperinflação nos anos 20 e os EUA uma versão menos aguda nos anos 70. A decisão pela austeridade na Europa está intimamente ligada a esta discussão e terá determinado na Eurozona uma abordagem que ignora a possibilidade de utilização da política monetária em larga escala. Os países da Eurozona entregaram a ferramenta monetária de mão beijada a uma centralidade europeia e foram apanhados nesta encruzilhada nefasta. As notícias que nos últimos dias têm feito manchete, respeitante à putativa saída europeia da recessão, não levam em conta os malefícios do tabaco. A haver "re-crescimento" na União Europeia, a inflação irá lentamente erguer a sua cabeça. O incremento gradual da procura funcionará como uma segunda austeridade. Os consumidores, ao sairem da sua longa hibernação, irão disputar a titularidade dos mesmos recursos. Os compradores irão exercer pressão sobre a máquina da oferta que não será capaz, de um dia para o seguinte, de aumentar a sua disponibilidade, pese embora a boa vontade dos mercados. Em suma, numa primeira fase da recuperação, sentiremos na pele o efeito inflacionário gerado em ambiente de quietude monetária. Ou seja, para além do actual decréscimo de rendimento disponível dos contribuintes (por via da tributação fiscal imposta pela austeridade/troika), os mesmos terão de se precaver para uma repentina subida de preços dos bens e serviços. Por esta e outras razões os festejos respeitantes à saída da recessão terão de ser comedidos. Pode ser que as economias europeias ainda venham a precisar de injecções directamente na veia das suas economias. Pode ser que não. Veremos o que o dealer Draghi pensa sobre o assunto. Veremos o que decide a troika. E deixemos que a economia dite as regras. Para bem ou para mal - infelizmente.