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Ando exaurido.
Desde há quase ano e meio que a vontade de opinar ou mesmo desabafar, se tem entornado na mesa desta grande farra em que vivemos.
Nesta botelha em que nos inebriamos desde que tomou posse a geringonça a que simpaticamente chamamos Governo da Républica Portuguesa.
Fui chamado a atenção por andar desaparecido , mas a verdade é que este banquete em que vamos vivendo , me trouxe algum enfartamento ou azia.
Passo a explicar; como diz o nosso Dr. Jerónimo , o Passos e o Cavaco que foram os únicos que desde a abrilada fizeram alguma coisa, são crucificados com regularidade, enquanto "o idiota das medalhas de Belém" o " cretino e o encaracoladinho" são postos em altares pelo jornalismo honesto cá do burgo.
Não há duvida isto esta tudo de pernas para o ar e agora são as bóias que cagam nas gaivotas .
Atónito, vejo o nível das águas em Albufeira, acompanhar o nível de disparates dos vários opinares nacionais. Da esquerda a direita, os peões vão-se aconchegando, naquilo que acham que será a nova realidade política, um governo de esquerda.
Como diz Helena Matos, ( http://observador.pt/opiniao/meu-caro-professor-marcelo/) num artigo no Observador, de grande qualidade, a moda agora é dizer mal do Presidente da Republica.É estranho este bando de apoderados no sentido tauromáquico do termo, esquecer-se que Cavaco Silva foi o único politico pós 25/4 que obteve duas maiorias absolutas enquanto líder do PSD e duas eleições à primeira volta na Presidência da República.
Serei saloio, se pensar que não é liquido que o governo chumbe no parlamento ?
Serei saloio se pensar que Marcelo, por falta de coerência e por querer o melhor dos dois mundos não tem a presidência garantida?
Serei saloio por estar farto de ouvir a corja de apoderados do costume vaticinar, o que para eles era mais cómodo ?
Talvez.
Veremos.
Pelava-me por ter de sobreviver * com 2.000€ mensais.
Daquilo que ontem foi decidido e jurado ao país, apenas se retém algo que fica tão firme como o monte Pão de Açúcar: vão mesmo aos bolsos de Soares, de Sampaio, de Cavaco, de Ferreira Leite - neste caso uma pochette Gucci -, do Almeida "tantos" e claro está, do mais famoso caçador-recolector de maningues, selectos e bem regados serões de charutadas poéticas. Apenas alguns nomes entre centos de outros. Centos, para não dizermos milhares.
Era de esperar o estupor das preclaras entidades da plutocracia e o primeiro ataque começou precisamente pouco depois das cinco da tarde, quando a gralha de serviço deu início ao "opinião pública". Após desvanecidas considerações a respeito dos dois impantes comensais activos que foram ex-residentes em Belém, deu voz a um dos tais pachiças ocasionalmente ajaezados como politólogos, aproveitando este para perorar as habituais banalidades de reconhecida encomenda. É claro que há quem saia sempre em enervadíssimas e patrioteiras considerações quanto à Constituição que deve ser respeitada com o dinheiro sacado na árvore das patacas pertencente aos contribuintes estrangeiros. No entanto e como também seria previsível, houve alguns intervenientes que disseram aquilo que todos sabemos, grosso modo alguns temas incontornáveis:
a) o golpe de Estado constitucional protagonizado pelo inenarrável Sampaio que preside a tudo e mais alguma coisa, abrindo o caminho à "fraude técnica" institucionalizada durante seis anos e à qual não prestou a menor atenção ou controlo.
b) a inépcia soarista durante os seus mandatos como 1º ministro e a hoje bastante esquecida chamada do FMI.
c) um claro apontar do dedo a um certo estranho caso que envolveu o apelido Soares e um grupo que actuava em Angola.
c) a temática mais difícil e sempre escondida pelos empregados do sr. Balsemão, ou seja, aquele absurdo período a que a vulgata regimental apoda de descolonização.
Pois bem, à SIC saiu-lhe o tiro pela culatra e não podendo desavergonhadamente cortar a palavra a quem não lhes interessava, notou-se a ânsia pelo chegar do fim desta "opinião pública". Que alívio!
* O PS, o PC, o BE e a UGT já saíram em auxílio da sobrevivência de ACS, MS, JS, MFL, AS e dos outros centos de pedintes acima enunciados. É comovedor, o Minipreço ficará extremamente prejudicado.
Passos Coelho ou Cavaco Silva não podem fazer o que o Papa Francisco acaba de fazer. Pegar no telefone e ligar para um cidadão com o intuito de lhe dar alento, esperança. Que fique bem assente: não professo nenhuma religião em particular nem trabalho para a companhia de telefones. O que confirmo nesta chamada relaciona-se com a perda do mínimo denominador comum que liga os homens, a ligação empática. Os actuais governantes perderam a nação, mas também perderam a noção de que essa entidade sagrada não pode ser violada. Quando um lider perde o direito de estabelecer a ligação com o cidadão comum é porque a coisa não corre bem. Eu sei que estão a pensar nos soldados da paz e a falta que o abraço lhes fez. Mas, por outro lado, talvez já não queiram sentir "essa" mão no ombro. Se um número de telefone fosse discado e a chamada aterrasse na casa de um desempregado, de alguém caído fora do sistema, não sei se o contacto do call center seria um incómodo ou não. Oh, Passos, não tens nada melhor que fazer? Vai chatear outro. Desampara a loja. As telecomunicações políticas já não são o que eram. O que resta para que não desliguem o telefone na cara? Os outdoors das campanhas autárquicas? Os panfletos e as brochuras obscenas? Um homem como o Papa Francisco rasgou o protocolo e carregou o cartão de chamadas. Fala de igual para igual com os seus interlocutores. E é disso mesmo que se trata - credibilidade. A refundação da relação lider-seguidor, o restabelecimento da confiança a partir do grão inicial. Enquanto esse grau de proximidade não for restabelecido os governantes terão de continuar a emissão a partir de uma torre de marfim, um castelo de cartas.
O vice-primeiro de Seguro - Carlos Zorrinho -, embora queira mostrar os dentes e defender o lider do seu partido, está efectivamente a salvar a sua pele. As falinhas mansas que refere são um modo de sacudir a água do capote. Quem é brandinho e inofensivo é Seguro. Quem tem falinhas que nem chegam a ser mansas é Seguro. E o facto de Zorrinho passar grande parte do seu tempo político na companhia do seu compincha de bancada parlamentar pode significar que sofreu efeitos de contágio. O perfil comprometedor de Seguro pode ser do tipo infeccioso que passa de parceiro para parceiro se estes não se protegerem adequadamente nas relações que estabelecem. Zorrinho, sem dar por isso, terá replicado um pouquinho de Seguro. Pode-se ter assegurado um bocadinho sem dar conta, e agora corre o risco de ser entendido pelos eleitores como um membro que se confunde com Seguro - um quase Seguro. Mesmo um chefe acarismático, como o secretário-geral, pode marcar o estilo dos seus seguidores. Sem o desejar ou sem o saber, os fiéis acabam por emular alguns tiques e figuras de estilo. Zorrinho tem consciência disso e porventura quererá demarcar-se da estrela cadente e marcar os limites da sua personalidade política. Se cai Seguro levará consigo a palette toda, os associados da empreitada e os resistentes às palavras inócuas. As frases perfeitas para um abstracto político, um esboço teórico de afirmação populista que dista das medidas concretas que o país necessita mas que estes trovadores desconhecem por não serem capazes (crescimento e emprego? Como?). As autárquicas podem rebentar com as guarnições vazias dos socialistas. Se de repente os camaradas ganham umas câmaras valentes, terão de lidar com a sua própria herança, com o regresso à ruína inacabada - o modo continuum socialista com todas as suas nuances, as fantásticas empresas municipais e os seus directores de águas e gases. Se mantiverem as câmaras que já detêm, serão obrigados a assumir por inteiro a responsabilidade dos descalabros financeiros, as contas desfalcadas de mandatos repetidos sem intromissão. De nada servirá atirar a culpa para os "dois anos de governação do governo de coligação". As catástrofes autárquicas terão apenas uma assinatura-rosa, terão apenas uma parte contratual e a batata quente não poderá ser devolvida a outros remetentes. A morada definitiva será essa e mais nenhuma. Os socialistas, num putativo regresso triunfal ao universo autárquico, retornam ao seu legado, ao seu passado, aos fantasmos e aos mortos-vivos da sua excelsa administração, a um Castelo-Branco-sujo em todo o seu esplendor. Os socialistas, toldados pela vontade de ganhar, levados na corrente da paixão, demonstram que não conseguem pensar uma para a caixa eleitoral. Não são capazes de ser racionais, metódicos e programáticos quanto baste para se organizarem a nível partidário, quanto mais para dirigir os destinos de um país. Os socialistas, que se acham capazes de congeminar um plano de salvação a solo, são politicamente narcisistas e egoístas, e reafirmam esse devaneio por não terem alinhado nas cantigas e acordes de Belém. Com este género de discurso pueril, sabemos que estamos a lidar com crianças queixinhas. A expressão "falinhas mansas" não demonstra maturidade política. É um balbuciar como tantos outros a que nos habituou Seguro. O punho rosa, hirto e firme, parece ser de outros Verões quentes, de outros protagonistas. Eu não disse que Seguro era contagioso?
Não estejam. Cavaco é demasiado óbvio para que haja a menor surpresa com as suas doudas alocuções. Depois de ter enfiado o país na corda bamba da instabilidade política sem fim à vista, o preclaro Presidente terminou a sua louca viagem pelas terras do ódio com uma discursata em que dá luz e provimento à remodelação feita por Passos e Portas. O óbvio ululante, dirão os Marques Lopes de plantão. Talvez. O certo é que, com esta brincadeira presidencialíssima, o país perdeu alguns milhares de milhões de euros. Cavaco é, de facto, um génio da trica política. Façam, pois, o favor de tirarem os chapéus perante esta raríssima eminência política. O que se segue não é difícil de adivinhar: com um Executivo fragilizado, e uma oposição entregue ao histrionismo de um líder (?) que tem de obedecer cegamente aos ditirambos socráticos, a estabilidade política, valor tão do agrado do boliqueimense alcandorado a Presidente, é uma quimera. Os nossos credores agradecem o gesto de Cavaco. Aliás, Merkel já abriu as devidas garrafas de champanhe para celebrar o grito do Ipiranga do maior apóstolo da estabilidade tuga.
1) Os acontecimentos das últimas 48 horas têm sido alucinantes. Primeiro, Gaspar, agora, Portas. É difícil digerir as emoções causadas por tanta loucura política. Por mais que se tente racionalizar o irrazoável, a verdade é que não há justificação alguma para o caos em que o país foi subitamente mergulhado. Não há ninguém inocente nesta estória de terror. Todos os actores políticos desta patacoada concorreram alegremente para o desfecho de indecisão vigente neste preciso momento.
2) Comecemos por Passos Coelho: primeiro-ministro há 2 anos, com uma maioria absoluta no bolso, Passos foi absolutamente incapaz de fazer uma reforma de vulto no Estado. Depois de assumir o programa de resgate como a trave ideológica do seu mandato governativo, Passos aumentou brutalmente os impostos, deixando a despesa pública praticamente intocada. Mais: o Governo liderado pelo eterno jotinha falhou em todos os indicadores económicos que importam, estabelecendo recordes no défice, na dívida, e no desemprego. É certo que a responsabilidade não deve ser assacada, única e exclusivamente, a Passos, mas a verdade é que o primeiro-ministro pouco ou nada fez para evitar esta situação. Além disso, a douta eminência que lidera o Governo destratou, vezes sem conta, o parceiro de coligação, e foi totalmente inábil na relação entabulada com o líder do CDS/PP. É normal que, após a demissão de um ministro de Estado, a escolha de um novo membro do elenco governativo não seja discutida com o parceiro de coligação? É corrente e recto escolher para a chefia do ministério das Finanças uma figura de segunda linha que tem sido repetidamente envolvida em imbróglios judiciais que contendem directamente com a gestão dos dinheiros públicos? É usual, também, que um primeiro-ministro recuse um pedido de demissão? Mas que raio de país é este? Tornámo-nos nas Honduras europeias e ninguém avisou os portugueses? Os resultados da inexperiência de Passos estão à vista: o Governo está em frangalhos, e o país abeira-se do segundo resgate. O culpado número um deste festival de parvoíces tem um nome: Pedro Passos Coelho.
3) O papel de Portas nesta ópera bufa é discutível. Não o nego. O timing desta decisão é, no mínimo, dúbio. Porquê hoje e não ontem? Porque é que a decisão de demissão não foi comunicada previamente - escrevo isto com base nas informações que foram sendo ventiladas pelos media - aos órgãos do partido? Porque é que Portas não optou pela via da hipocrisia útil, pondo o interesse do país acima da verrina desajeitada de Passos? Há imensas perguntas que podem ser feitas ao líder do CDS, porém, há que sublinhar o seguinte: o mau tratamento político a que Portas foi sujeito, constante e ininterruptamente, pelo primeiro-ministro tornou a saída de cena numa inevitabilidade quântica. As coligações fazem-de de entendimentos, compromissos e sentido de Estado. Nada disso se verificou. Os entendimentos foram sempre pífios, os compromissos inexistentes, e o sentido de Estado morreu na praia. Paulo Portas tem a seu favor o facto de ter perseguido, com vigor, ao longo destes últimos dois anos, uma agenda reformista que tinha no bojo o fim do excesso confiscatório de Gaspar. Exprimiu as suas divergências e aguentou estoicamente o fardo da estabilidade. Sem embargo, a paciência esgotou-se. Urge explicar aos portugueses, o quanto antes, o porquê desta decisão. O estado de falência do país não admite mais delongas. Portas, inteligente e arguto como é e sempre foi, sabe que os credores não tolerariam um estado de caos nas elites políticas e económicas. É por isso que sei e tenho a certeza que Paulo Portas - alguém que daria um excelente primeiro-ministro - esclarecerá cabalmente os portugueses a respeito dos contornos desta decisão. Com ou sem eleições - eu não pertenço ao grupo dos que diabolizam o recurso a um acto eleitoral -, o CDS tem de esclarecer, muito rapidamente, o que defende e propõe para o futuro da governação.
4) Cavaco Silva, quo vadis? Onde anda a eminência belenense? Sim, a pergunta a fazer é mesmo essa: onde anda o Presidente da República? Mais: como é possível realizar-se a cerimónia de tomada de posse da nova ministra neste cenário deliberadamente dinamitado? A incapacidade de Cavaco está a atingir o paroxismo da falta de escrúpulos. É bom que alguém o avise que o regime não aguentará tanta suavidade de gestos.
Como diz aqui o Paulo Gorjão, bom senso, precisa-se. Das duas partes, em simultâneo. É que mais dia menos dia será impossível pronunciar o nome de Cavaco em público.
1) A trajectória de subida das obrigações do Tesouro português voltou à carga. A responsabilidade deve ser repartida, mas há nestes dados periclitantes um sinal claro, por parte dos investidores internacionais, de que o clima de bonança propagado pela bazooka do BCE está a terminar. Os desentendimentos no seio da troika, a relutância alemã em aprofundar a união bancária, e a derrapagem económica dos países de "programa" ajudarão, também, à consecução definitiva do desastre anunciado.
2) Dilma e Passos reafirmam o aborto acordográfico para 2015. E a sociedade civil portuguesa? Ficará impávida e serena a assistir à destruição da língua a golpes decretistas de gente que não sabe ler nem escrever? Sim, o problema é mesmo esse. Este aborto político só avança porque 1) somos governados por pechisbeques iletrados, 2) a cidadania (?) é um amontoado de indivíduos anestesiados pelo próximo episódio do Big Brother Vip. Como é bom de ver a problemática da língua é um assunto alienígena para esta gente. É penoso observar o soçobrar lento e inexorável do país.
3) O 10 de Junho, na sua imensa profusão de inanidades, é o retrato fiel do ocaso desta III República. Uma data que, no fundo, concita o que de pior há no palavrório regimental. Muita empáfia e pouca lisura. Longe vão os tempos em que uma data deste calibre recebia discursos de um Jorge de Sena. Outros tempos, de facto. É, pois, difícil augurar o que quer que seja de um país governado por gente deste jaez. Nunca como hoje foi tão verdadeira a asserção de Rodrigo da Fonseca de que viver entre brutos é muito triste. Portugal é assim.
O petismo é, de facto, um poiso de petralhas, para usar o jargão do indispensável Reinaldo Azevedo. Só isso explica o porquê de a "presidenta" do Brasil, Dilma Rousseff, ter estado, em primeiro lugar, com António José Seguro e Mário Soares aquando da sua chegada ao país. Há gestos que definem um(a) político(a). E este foi um deles. Misturar uma visita de estado com lamechices de cunho político-partidário é tudo, mas rigorosamente tudo o que um chefe de Estado não deve fazer. Se não ensinaram isso a Dilma, lamento. Ainda para mais sabendo que tem no elenco governativo que lidera um diplomata da estirpe de António Patriota. Mas adiante. A única questão que importa colocar é saber se Aníbal Cavaco Silva, chefe desta República da treta, teve a coragem suficiente para fazer o devido reparo à dita "presidenta". Duvido que o tenha feito. Cavaco não sabe o que significa a palavra coragem. Nunca soube. Quanto a Seguro, a única coisa que me apraz perguntar é o seguinte: no grupo de Bilderberg também se ensina a tripudiar o protocolo de visitas de Estado? Provavelmente, sim. A esquerda lusófona é mesmo uma súcia. Valha-nos Deus.
A nossa cultura política é uma valente chachada. Mais: será assim tão difícil compreender que a liberdade implica a aceitação de ditos aviltantes e impróprios? Há pouco, aqui, escrevi que as declarações de Sousa Tavares são lamentáveis. Ponto. Porém, a reacção de Cavaco segue a mesma linha do cronista-mor. O impropério não é apanágio de um único grupo. Nunca foi. É por isso que a petulância, a doença maior das nossas elites provincianas desrepublicanizadas, se generalizou definitivamente. A liberdade de expressão nunca assentou verdadeiramente arraiais no nosso cantinho. É pena. Merecemos mais e melhor.
No dia em que Christopher Lee anuncia, aos seus 91 anos, o lançamento de um album de heavy metal, Sousa Tavares paralisa o país com esta tirada digna de um Solnado: "Nós já temos um palhaço. Chama-se Cavaco Silva". Sou insuspeito de nutrir a menor simpatia por Cavaco Silva. Sou, também, insuspeito no tocante à adulação do actual regime republicano, que, em bom rigor, só tem promovido o facciosismo fratricida de meia dúzia de grupelhos sem o menor sentido patriótico. Porém, nada autoriza este linguajar taberneiro. É por estas e por outras que não saímos da cepa torta.
Vejo que vai por aí uma enorme indignação com o discursozinho da eminência parda do regime. Reparem, Cavaco não disse nada de especial. O conteúdo do seu discurso foi, em grande medida, um desfiar incessante de platitudes. De mais a mais outra coisa não seria de esperar de um presidente inábil. Como sublinhou, e bem, Paulo Rangel, o estilo discursivo do Presidente não se caracteriza propriamente pela clareza textual. Não é defeito, é mesmo feitio. Dito isto, Cavaco fez bem em apelar ao consenso. Não gosto de palavrões mágicos, que tendem a reduzir a dinâmica da vida a um denominador comum pouco consentâneo com a realidade, mas, de facto, o compromisso entre as principais forças do regime é e será uma inevitabilidade. Cavaco fez o que lhe competia. E fez bem. As virgens ofendidas que têm criticado o discurso de Cavaco esquecem-se de um pequeno pormenor: o passado dos "seus" presidentes foi intrinsecamente feito de gestos facciosos. Se Cavaco encostou-se ao Governo, que dizer então de Soares ou Sampaio? A essência do regime é esta. O papel de um presidente no organigrama constitucional presente tende e tenderá sempre a conduzir a lógicas de facção. Aconteceu com os presidentes do passado e sucederá, certamente, com o actual presidente. Querem evitar isto? Muito bem, mudem a constituição, ou, então, mudem o regime.
Mais 2 anos de total inexistência política nos últimos dias da III República. Os portugueses estão cansados desta classe política e têm-no demonstrado ao longo dos anos.
Cavaco sofre da síndrome "Jorge Jesus": fala mal, esquece-se do passado e omite responsabilidades. Passa pelos pingos da chuva e ousa dar lições de moralidade a antigos apaniguados. Uma espécie de Barrabás moderno, sem os crimes de sangue deste último. Um eterno medíocre alçado ao topo dos topos, com um "cursus honorum" digno de um servente do beija-mão a todos os poderes. Ouvi-lo? Não, não vale a pena, aliás, contrariando o dito pessoano, já nada vale a pena. O melhor mesmo é ficar sentado à espera que estas fantasmagorias caiam de podres.
José Lello orgulha-se hoje de ter sido um dos autores do pedido de fiscalização da constitucionalidade. Se a intenção era boa(?), o resultado esse, foi desastroso e, objectivamente, os ingénuos deputados do PS deram uma ajuda preciosa ao administrador-delegado da Merkolândia. Agora, e por obra e graça de um Tribunal Constitucional totalmente desacreditado, que fez o favor ao Governo ao caracterizar a inconstitucionalidade como sendo "a prazo" e "violadora do princípio da igualdade", e com o conluio "activo" do Presidente da República que assiste, impávido e sereno, ao "rasgar" da Constituição que, in tempore, jurou defender, Passos Coelho tem o caminho aberto para alargar os cortes a todos os portugueses, seguramente através de um novo imposto que criará.
Resultado final: a confirmação de que a Constituição Portuguesa é apenas papel de embrulho; o PS não é oposição; vem aí mais austeridade por força do fim dos subsídios aos privados em 2013.
No fim quem se ficou a rir? Os mesmos de sempre, pois então. Pobre Portugal.
Vasco Pulido Valente, hoje no I
Tem razão no que diz, mas não concordo com a última frase. Por toda uma Europa onde a política está entregue, em larga medida, a nulidades haverá gente a tirar a mesma conclusão em relação às suas. Os italianos acharão que só em Itália é que Romano Prodi poderia ter sido político, os finlandeses que só na Finlândia é que uma Tarja Halonen poderia ser eleita presidente, e os franceses nem falar. Mas isso não é grave. O que é grave é concluir que só no Reino Unido é que Thatchers chegam ao poder. E mesmo isso foi há trinta anos.
(fotografia minha)
A semana que passou estive em Washington DC, onde tirei a fotografia acima. Durante uma semana, nesta que foi a primeira vez que estive nos EUA, fui a várias reuniões com diversos think-tanks (daqueles a sério, não como as brincadeiras que temos por cá), e pude ainda aperceber-me um pouco da mentalidade americana de que Tocqueville falava. Num país que respira liberdade (e cuja capital é um hino a esta), o empreendedorismo e a capacidade de iniciativa e de associação são características de uma vibrante sociedade civil que se constitui como uma primordial ferramenta de fiscalização das actividades do governo, por um lado, e como motor da economia, por outro. Mais, numa altura em que tanta gente exalta as virtudes dos BRIC e aponta o galopante declínio norte-americano, talvez fosse bom ler O Mundo Pós-Americano, de Fareed Zakaria, para perceber que a capacidade de reivenção da sociedade norte-americana é a chave para compreender porque os EUA foram e são capazes de enfrentar desafios que a muitos parecem inultrapassáveis.
Nesta mesma semana, ocorreu em Washington algo que provavelmente nem foi noticiado por cá, o Government Shutdown 2011. Em traços largos, quando Democratas e Republicanos não conseguem chegar a um acordo para aprovação do orçamento, o governo deixa de providenciar todos os serviços que não sejam considerados essenciais. Raramente acontece - a última vez foi em 1995 - e desta feita conseguiram chegar a acordo nas últimas horas antes de se dar início ao shutdown.
A capacidade de iniciativa e a liberdade individual naturalmente acentuam a criatividade, que se reflecte na condução da actividade governativa ou de qualquer actividade empresarial. No caso norte-americano, aquilo de que falo está patente na sua história, aliando-se a uma consciencialização quanto às situações enfrentadas.
Ora, indo ao caso português, é de realçar que a falta de liberdade individual em face do Estado - o peso deste na economia e nas nossas vidas é mais do que evidente -, bem como a ausência de uma verdadeira fiscalização da actividade governativa pela sociedade civil, são dois sintomas que ajudam a perceber como foi possível chegar à situação em que nos encontramos. Pior, perdemos a capacidade imaginativa e criativa que nos caracterizou enquanto povo ao longo de séculos, assim como perdemos a capacidade de gerar verdadeiros estadistas.
Tudo isto para dizer que é uma autêntica vergonha o que se tem passado na política portuguesa nos últimos tempos, em particular quando a troika que vai negociar o nosso futuro já está em Portugal. As birras infantis dos políticos com voz mais activa deixam qualquer um envergonhado. Ser José Sócrates a negociar com o FMI é verdadeiramente um atentado ao futuro do país - o Primeiro-Ministro demissionário vai continuar a tentar defender os interesses do PS, dificultando o mais que puder a redução do disforme e excessivo aparelho estatal. O jogo do empurra entre governo e oposição quanto a quem deve negociar com quem, de forma infeliz remetendo a questão para os parceiros europeus, só demonstra como temos autênticas crianças a desgovernar-nos. Cavaco Silva, ao estar absolutamente remetido ao silêncio, escudando-se na Constituição da decadente república para não ter uma voz mais activa, afronta todos os portugueses. Conforme Mário Soares e Adriano Moreira já salientaram, o Presidente da República tem que tomar as rédeas da situação.
Depois de ter aceite a demissão de José Sócrates, tinha que ter sido Cavaco Silva a solicitar a ajuda externa; tinha que ser ele a liderar as negociações (afinal, um doutoramento em economia pela Universidade de York deve dar mais jeito nesta situação que uma licenciatura domingueira em pseudo-engenharia pela Independente) ou a nomear uma equipa de negociadores com políticos e/ou diplomatas treinados e reputados nessa arte e técnicos que possam dar a imagem mais aproximada da realidade do país, desprendidos de quaisquer interesses partidários directos, i.e., a reeleição de José Sócrates. Ter o homem que nos trouxe para o abismo, que até há bem pouco tempo gritava histericamente que Portugal não precisava do FMI, a negociar com este, é demasiado mau.
Não está na Constituição nem em lado algum que Cavaco o pudesse fazer? Azar. Mas é suposto a Constituição tornar o país seu refém? Valores mais altos se levantam, nomeadamente, a viabilidade de Portugal enquanto Estado soberano. Haja alguém que tenha o minímo de sentido de estado e assuma uma postura de seriedade. Será que ainda não perceberam o que está em causa?
Aníbal Cavaco Silva - o Presidente da República menos votado da história de Portugal!