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Trinta anos volvidos sobre a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) foi a política doméstica que menos evoluiu. O arranque das vinhas, a construção de uma rede notável de autoestradas, os fundos comunitários e a chegada da divisa Euro, alteraram a paisagem geofísica do país, mas o padrão da política manteve-se, os mesmos vícios de comportamento mantêm-se e os partidos políticos não souberam acomodar a profunda mudança de mentalidade que a cedência de uma parte da soberania implica. Importa tomar nota que o número de detractores em relação ao projecto europeu tem vindo a crescer, e, embora pese o esforço da ficção idealista dos proponentes de Bruxelas, a União Europeia (UE), filha da CEE, enfrenta enormes desafios - endémicos na sua grande maioria. O palavreado da ocasião comemorativa, projectado por António Costa, cai numa espécie de vácuo ideológico da Europa. A revolução parlamentar levada a cabo pelos socialistas e os partidos intrinsecamente anti-integração, é apresentada como a bandeira de salvação da UE. O processo democrático supranacional, na acepção de António Costa, deve significar realizar o bypass às instituições europeias, para forjar soluções que escapam ao consagrado em tratados. Nem por uma vez sequer, o primado constitucional da UE é referido. António Costa lança postulados para o ar como se não existisse um Tratado da União Europeia. Não está mal vista a sua visão a partir dos cidadãos, mas depreendemos das suas palavras que o primeiro-ministro socialista sublinha as virtudes da Esquerda, quando, face aos factos incontornáveis da realidade política, é a Direita europeia (perigosa em muitos casos) que conhece a sua ascensão. Se levarmos à letra a alegada sinceridade política de Costa, quando este refere o primado do espírito dos povos, não devemos obviar o atestado político e as credencias que este concede à Direita destruidora dos princípios fundamentais da Europa trans-ideológica. Enfim, a Ode à Alegria de Beethoven não me parece ser a banda sonora mais adequada, assim como enaltecer os feitos integrativos de Mário Soares, que deve ser tido também como um dos concessionários de boa parte da soberania nacional. António Costa refere uma alternativa credível para a reafirmação da Europa, como se esta já não estivesse em marcha. Não foi a visão de Mário Soares que conduziu Portugal à adesão à CEE - ele que fique com o troféu do 25 de Abril. Foi o eixo de Berlim-Paris que abarbatou Portugal. Foi o Parlamento Europeu que minguou Portugal. E foi um comissário português que serviu os interesses alheios. Em suma, foram tantos e tão diversos que subscreveram o presente estado da arte em que se encontra este país. 30 anos deu para tanto e tão pouco.

publicado às 19:50

Don´t cry for me Greece

por John Wolf, em 12.02.15

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Vamos lá ver se a gente se entende. Foi a 12 de Junho de 1975 que a Grécia solicitou a adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE) e a 1 de Janeiro de 1981 tornou-se efectivamente membro da CEE. Foi aquele país que quis fazer parte do clube da modernidade europeia. Foram eles que analisaram as implicações do projecto europeu. Ou seja, a Grécia dispôs de 40 anos para se organizar de um modo sustentável e pôr a casa em ordem. Teve quatro décadas para praticar a economia de mercado que bem quis. Teve tempo suficiente para passar de um país economicamente atrasado a país desenvolvido (ou em vias de desenvolvimento). Recebeu rios de dinheiro a fundo perdido (tal como Portugal), ao abrigo da necessidade de nivelar as diferenças entre o norte e sul da europa comunitária - os tais fundos estruturais e outros com a mesma finalidade. Pelo meio ainda teve fôlego para brincar à "sofisticação dos ricos" e organizar uma edição dos Jogos Olímpicos. Mas lamento: agora tenho de entrar com uma componente cultural, a dimensão que determina o sucesso de uns e o falhanço de outros. Podem vir com o argumento da intenção do eixo franco-alemão em alargar os seus mercados a compradores de Mercedes e BMWs por essa Europa fora, mas essa explicação assente numa ideia de exploração colonial intra-europeia não pega. Por que razão uns se propõem a objectivos e os alcançam, e outros nem por isso? Por que razão uns são suecos e outros cipriotas? Será uma questão étnica ou racial? Não. Será uma questão ética? Talvez. Provavelmente. Certamente. Em tempos de convulsão política onde se exige a cabeça de uns e os braços de outros, estamos obrigados a esta reflexão sobre as causas profundas do descalabro existencial de certas sociedades. Esse exercício de auto-crítica é penoso, mas qualquer nação à face da terra está obrigada a encarar a sua condição existencial. Pode ser que o paradigma europeu esteja a ser posto em causa, mas a explicação exclusivamente financeira não serve para responder à totalidade do questionário. Se o casamento entre a Grécia e a Europa tiver que chegar ao fim, que assim seja, sem dramas. Provavelmente com drachmas.

publicado às 09:18

Passa a massa, Merkel!

por John Wolf, em 06.02.15

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Não é preciso ler a obra de Niall Ferguson - A Ascensão do Dinheiro -, para saber que os pressupostos do crédito estão a ser postos em causa no âmago da União Europeia (UE). Sem percorrer esse perigoso caminho das compensações históricas* que são devidas ou não, e que não pouparia nenhuma nação à face da terra, o que resultar do conflito que opõe a Grécia à Alemanha pode destravar por completo a já de si ténue relação entre dinheiro e Ética.  Se vingar a tése do perdão, certamente que uma extensa fila de faltosos procurarão tratamento idêntico - situação essa contraditoriamente inexequível. O crédito (como quem diz a crença que os outros depositam em nós) precede a existência física de dinheiro - o bom nome é a divisa maior, mas apenas se valida através da sua extensão material. Se esse fundamento deontológico que se encontra por detrás da construção monetária das nossas sociedades falhar, como podemos esperar que não mine todo um sistema de transacções? Como podemos aceitar que a excepção à regra se venha a tornar a norma? São considerações desta natureza que podem corromper um dos valores mais importantes do acervo existencial humano: a confiança. Não pretendo com esta linha de argumentação libertar os credores do seu sentido de responsabilidade no contexto de um projecto europeu alegadamente inclusivo e nivelador de diferenças. Culpados? Sóis todos vós europeus por terem concebido um modelo sistémico deficiente. Em nome de uma grande "entidade económica europeia concorrencial" os visionários foram ambiciosamente incompetentes. Avançaram a causa dos negócios, mas omitiram a federação do espírito das nações. Esqueceram-se dos pilares de justiça e segurança social, e prescindiram de uma efectiva Política Externa e de Segurança ComumA Grécia, assim como o conflito na Ucrânia, servem, de um modo cáustico, para expor as grandes lacunas da UE.  Se os lideres europeus tiverem a visão e a ousadia requeridas, a grande reforma poderia ser posta em marcha na construção de uma nova ordem na Europa. Mas não é disso que se trata. Quer a Alemanha quer a Grécia estão a defender os respectivos interesses nacionais. Merkel e Tsipras estão, efectivamente, empatados: querem salvar a sua pele e pouco mais. A tal união - essa não passa do papel, da massa.

 

*Compensações históricas possíveis:

EUA ao Iraque, à Nicarágua e ao Afeganistão.

Portugal a Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde

França à Argélia e à Líbia

Etc a etc, etc e etc

publicado às 13:52

Simbiose política de Soares e Sócrates

por John Wolf, em 13.11.13

Começo a pensar que existe relação de sangue entre Mário Soares e José Sócrates. A relação simbiótica entre os dois merece um documentário do National Geographic. Há qualquer coisa aqui de empatia entre o hipopótamo e o pássaro que cata a carraça escondida atrás da orelha. Não sabemos se Soares vê em Sócrates o filho político que nunca teve, ou se pretende, com estas afirmações tontas, ajudar as causas socialistas. E desde quando é que os portugueses tiveram de aprender com os franceses a fazer política? Sem dúvida que existiram grandes pensadores políticos franceses, mas não foram contemporâneos de Soares ou Sócrates. São intemporais e pertença inegável de todos nós - amigos socialistas ou nem por isso. Alexis de Tocqueville, embora francês, contribuiu para o pensamento e a acção política norte-americana. Ou seja, o capitalismo diametralmente oposto ao socialismo, também radica nos franceses. Rousseau, por sua vez, esteve efectivamente exilado no sentido mais dramático e político. Soares, embora se queira apresentar como membro do clube dos diasporizados, que eu saiba, nunca conheceu os calabouços que Mandela experimentou ou a tortura de compatriotas caídos na malha limoeira da PIDE. O estudo comparativo de Soares deve ser considerado insultuoso e ofensivo por distintas razões. Portugal conheceu casos mais extremos de perseguição política e os visados não tiveram a sorte de sobreviver numa gaiola dourada em Paris. Quanto a Sócrates e o seu destino academico infantil, não encontro termo de comparação com o que quer que seja. Quatro anos de estadia de Soares, somados a dois anos de lua de mel de Sócrates, não produzem grandes dividendos políticos. Se quisermos ser cínicos e pouco complacentes, poderemos dizer, ao abrigo do contraditório, que os ares franceses podem ter contribuído negativamente para o modelo económico e social sonhado para Portugal no verão quente de 74 ou em tempos políticos mais recentes (A Europa, as Comunidades e a União Europeia estão a ser postas em causa e não o contrário). Parece que cada vez que Portugal e os seus governantes se viram para o exterior a coisa não corre de feição. E se Seguro um dia quiser estudar na Alemanha, será que poderá regressar com o crachá de exilado agrafado ao peito? Soares e Sócrates regressam de diferentes passados políticos, mas nem sequer podem ser chamados de retornados. Se Soares se quiser comparar a alguém, talvez se possa equiparar a Machete. Cada vez que abrem a boca entornam o caldo.

publicado às 18:50

«Consegue perceber porque é que a agricultura é tão desconsiderada?

A nossa sociedade é muito apressada. Mesmo as pessoas que têm uma origem rural apressaram-se a urbanizar-se e a esquecer o mais depressa possível as suas raízes. Somos muito superficiais, o que quer dizer que os nossos filhos ou netos têm tendência para achar que os ovos nascem nos supermercados. E também temos um ADN colectivo pouco rigoroso, não ligamos aos números.»

 

Armando Sevinate Pinto, antigo Ministro da Agricultura do governo Durão Barroso, entrevistado pelo jornal I deste Sábado. Uma interessante entrevista que pode ser lida aqui.

publicado às 23:25

Reavivando a memória a Cavaco Silva

por João Quaresma, em 22.11.12


 

Para quem não souber, o TV Rural foi um programa semanal de informação sobre a Agricultura e actividades associadas, da responsabilidade do Ministério da Agricultura e transmitido pela RTP entre 1959 e 1990. Destinava-se a informar, ensinar e esclarecer os agricultores, divulgando a realidade do sector e as novidades técnicas que iam surgindo (em Portugal e no estrangeiro), de forma acessível ao público. Das explorações agrícolas aos mercados, as exposições nacionais e internacionais, as novas culturas e as novas técnicas, novos equipamentos, produtos ou métodos de gestão, de tudo o que era importante se falava no TV Rural. Usando das vantagens de um meio como a televisão, fazia chegar aos agricultores (e ao público em geral) muita informação útil à generalidade do sector, de forma directa e gratuita. Com apenas 25 minutos semanais, foi um formidável instrumento de modernização da agricultura e da agroindústria portuguesas ao longo das três décadas que durou.

O seu autor e apresentador, o Engenheiro Sousa Veloso (ver entrevista ao Correio da Manhã em 2004) tornou-se numa das figuras mais respeitadas e populares da televisão, não só pelo excelente trabalho que efectuava como pela forma despretensiosa e simpática com que apresentava o programa. Nunca mais ninguém se despediu dos telespectadores «com amizade».

Mas, com a adesão de Portugal à então CEE e o desastre para a Agricultura que isso significou, o TV Rural tornou-se politicamente incómodo: mesmo não se desviando dos seus objectivos de divulgação, era impossível não mostrar a devastação provocada pela Política Agrícola Comum e pelo dilúvio de excedentes da agricultura espanhola, que chegavam ao mercado nacional com preços destrutivos, frequentemente a pouco mais do que custo de produção. A Agricultura portuguesa foi sendo arrasada e o ministro da Agricultura de Cavaco Silva, Arlindo Cunha, pôs fim ao programa em 1990, escassos quatro anos após a adesão à CEE.

Hoje continua a fazer falta o TV Rural, que foi um dos melhores serviços prestados pela RTP, no tempo em que realmente era uma televisão ao serviço do país. Na vizinha Espanha, apesar da internet e da facilidade de divulgação ela possibilita, a TVE continua a ter o seu programa equivalente ao nosso TV Rural, o Agrosfera.

Quanto ao Presidente e ex-Primeiro-Ministro Cavaco Silva, bom aluno de Bruxelas e preconizador do país de serviços, já há muito devia ter percebido que não só o país não tem memória assim tão curta, como que há assuntos em que ele simplesmente não tem autoridade para falar.

publicado às 02:00

Um Cavaco napoleanizado

por João Pinto Bastos, em 21.11.12

Jacques-Louis David, O Imperador Napoleão 

 

De tudo o que Napoleão disse há uma frase que cai que nem uma luva ao nosso empertigado Presidente da República. Dizia o "Usurpador" que a História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo. Cavaco levou muito a peito esta máxima, pois só assim se compreende o porquê de o faustoso Presidente ter afirmado que é necessário ultrapassar o estigma que nos afastou do mar, da agricultura e da indústria. De certo modo, Cavaco entende que o povo português encara como um fait accompli a tese de que os seus zelosos Governos não tiveram rigorosamente nada a ver com o declínio da economia produtiva produzido no rescaldo da adesão à então CEE. Por outras palavras, Cavaco julga-nos a todos - sim, todos nós - uma cambada de tolos apoucados. Já sabíamos que Cavaco não tem, propriamente, uma propensão particular pela verdade factual, na verdade foi sempre apanágio do actual Presidente desta República bananeira a admiração, desusada e incomum, pela torção dos factos. O que não sabíamos, nem era sequer do domínio público, e aqui confesso a minha honesta surpresa, é que o mandarim de Boliqueime tem uma veia napoleónica. A sua vida política, trivialmente "napoleanizada", é uma ampla colecção de tesourinhos deprimentes, tristemente desdobrados num torpe abanico de mentiras e omissões. Mas já que o nosso Presidente gosta de seguir as máximas do "Corso", talvez não lhe fizesse nada mal copiar o melhor de Napoleão, designadamente, a audácia e a coragem políticas do grande chefe francês. Mas isto já é pedir muito, não é?

 

publicado às 16:27






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