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António Costa invocou a democraticidade parlamentar para formar alianças conducentes à formação de um governo alegadamente legítimo e estável. Se aceitarmos o princípio do primado da Assembleia da República, na qual e a partir da qual, a genuína representação se efectiva, então muitas lacunas estarão por preencher. Por exemplo; a representação parlamentar de deputados que defendam os interesses das comunidades portuguesas de origem cabo-verdiana, angolana ou moçambicana. Mas não é essa a linha principal de argumentação deste enunciado. A nomeação da primeira secretária de Estado "cega" implica um princípio de igualdade de representação. Se a Exma. Sra. D. Ana Sofia Antunes é de facto a pessoa mais que competente para assumir a pasta da Inclusão de Pessoas com Deficiência, então, por analogia, e face ao problema da toxicodependência que também preocupa o país, nomear um secretário de Estado toxicodependente talvez fizesse algum sentido. Se buscam indíviduos que possam se esgrimir de razões, por sentirem em primeira mão os desafios da sua condição, então, nessa linha de argumentação, um drogado estará mais que habilitado para propor medidas de combate à toxicodependência. Não sei se me faço entender, mas a política não pode ser apropriada de um modo cínico e intensamente populista. António Costa deve ter alguma noção dos fortes desequilíbrios que caracterizam a matriz social deste país. Por melhores intenções que tenha para nivelar assimetrias, corre o risco de as agudizar por não ser efectivamente inclusivo. Quantos sem-abrigo equivalem a um cego? E quantos génios são necessários para formar um governo?