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A geringonça decididamente não é a outra senhora; o governo já não tem uma PIDE. Mas eles andam aí, reencarnados, dotados de um sentido, de uma missão - afastar qualquer forma de informação conducente a protesto político. Subrepticiamente, mas efectivamente, o governo tenta colocar em lugares-chave agentes de controlo da comunicação. Não lhes convém que se levantem ondas. A nomeação de Nicolau Santos para presidente do conselho de administração da Lusa faz parte da narrativa que sugiro. A agência noticiosa deveria ser regida por critérios de pureza, de idoneidade e imparcialidade. O director-adjunto do Expresso entra mesmo a tempo (na Lusa) e antes da nomeação de um novo lider do Partido Social Democrata (PSD). O simples facto dos nomes de João Soares e Gabriela Canavilhas terem sido referidos para o cargo em questão confirma algum nervosismo da agência de comunicação do governo. Parece que irão precisar de reforços para aguentar a verdade incontornável dos dados de governação e a liderança do PSD. Este ano será particularmente interessante com o Banco Central Europeu a reduzir o apoio financeiro a países como Portugal. Aliás, não faria sentido outra coisa. Se o sucesso desmesurado da economia e finanças de Portugal é inegável, não vejo razões para que continue a ser subvencionado. Mas eu não me quero afastar do tema central de este post - a censura. Ainda ontem, sem nunca imaginar que tal pudesse acontecer, fui bombardeado com insultos e ofensas por ter atribuído o prémio Flop do Ano às ciclovias da Câmara Municipal de Lisboa. A um ritmo feroz e intensamente ideológico foram chovendo comentários intensamente pendulares, totalmente inclinados para a excelsa governação de Fernando Medina. A maior parte dos comentadores apresentava-se na qualidade de anónimo ou desconhecido, mas era mais que óbvio que trabalhavam para a agência noticiosa da autarquia. O que me valeu foi o lápis azul. A dada altura, face à torrente medíocre de insultos e palavrões, decidimos que grande parte dos comentários não seria aprovado. Recordo aqueles mais distraídos - a internet não é uma democracia. Assim sendo, neste primeiro dia do ano, faço a seguinte promessa. Não nos vergaremos perante tentativas de condicionamento ou coacção seja qual for a casa política ou partidária que os instigue ou os consubstancie. Se querem esgrimir-se de razões, façam-no com a inteligência da argumentação e a volúpia da forma literária. Melhor ainda, dêem a cara, criem um blog (ainda recebem algum do governo) e assinem os artigos de opinião. Não vale a pena ficarem nervosos por causa de umas pedaleiras.
A Europa das luzes, da superioridade civilizacional, do legado dos impérios coloniais, prepara-se para recuar na história e tornar a plantar um factor de dissensão no presente, no seio da União Europeia. O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Alfonso Dastis, não descarta a possibilidade da prisão de Puidgemont. A acontecer, seremos forçados a designar a detenção de prisão política. O governo de Madrid invoca a legalidade constitucional e a traição do lider catalão, mas arrisca-se a promover ódios e reacções mais profundas. Se Puidgemont é o inimigo a abater, então Rajoy e Saenz devem usar a máxima do padrinho, de D. Corleone - keep your friends close, but your enemies closer. Quer a ficção quer a história oferecem lições importantes. Em 1815, o Congresso de Viena foi concebido para reintegrar França no sistema europeu após a derrota napoleónica. Ou seja, a humilhação política é um mecanismo contraproducente - existem imensos exemplos na história europeia. Madrid, envolve-se deste modo, semi-voluntariamente, num processo de reasserção juridificante através do qual poderá ter de chamar a si prerrogativas de controlo político que obrigam a uma profunda revisão constitucional. A reciprocidade da violência poderá correr em linhas paralelas a mecanismos de ajustamento jurídico, através dos quais Madrid anula as benesses das periferias granjeadas com o estatuto de governação autónoma. Nesse sentido poderemos traçar comparações com as movimentações recentes do regime erdoganiano (Erdogan, Turquia). A manifestação de hoje, a favor da união espanhola, comparticipada por centenas de milhares de pessoas, pode gerar efeitos diversos ainda mais ousados. A emenda da união de Madrid pode ser pior do que o soneto da independência da Catalunha. Deve haver algum cuidado para que o tiro não saia pela culatra - que o nacionalismo espanhol não seja acordado, para pôr em marcha purgas mais alargadas em nome de uma bandeira intransigente. A prisão de Puidgemont, a acontecer, pode gerar atritos entre a Espanha e os valores democráticos que a União Europeia tanto apregoa. Afinal, pode não ser necessário viajar à Turquia para coleccionar exemplos de censura política e perseguição policial. Uma orbanização iliberal (Órban, Húngria) que seria uma outra via, seria propensa ao isolamento do estado unitário espanhol no contexto do concerto comunitário da União Europeia. As implicações, in extremis, que decorrem das perguntas colocadas pelo desafio catalão, poderão incluir a sugestão da "desfederalização" da Espanha, mesmo que a mesma esteja configurada juridicamente enquanto entidade unitária. A pergunta mais pragmática que talvez se possa formular será a seguinte: existirá uma modalidade menos lesiva para a unidade espanhola do que a remoção de poderes autonómicos à Catalunha? Veremos como irão cambiar de tércio em Espanha, e como irão domar o touro. A faena vai ser longa.
gravura: Francisco Goya
Donald Trump nunca poderia ser um político português. Não seria agraciado nem tolerado. O conceito de estado de graça que assiste aos recém-chegados ao poder foi pura e simplesmente obliterado. A inversão é plena - entrou logo ao ataque. E começa pelos Estados Unidos da América. Assistimos, quer sejamos norte-americanos ou não, à concretização das piores das nossas expectativas. A censura oficial já é um facto consumado, instalado. Mas nada disto é novo. É pela máquina de propaganda e desinformação que começam. A perseguição vivida em regimes nacional-socialitas parece ser o template em que se baseiam. A senhora Kellyanne Conway representa o pior da América profunda. Mas não está só. Contaram-me há dias que os mais reaccionários dos EUA são os jovens que polvilham os campus das universidades, e não os desempregados. E isto é particularmente preocupante porque é esta falange que irá emprestar a sua energia e os seus "conceitos" ao futuro do país. Quero acreditar, porque é o que nos resta, que seremos testemunhas de uma revolução civil americana. A única virtude que consigo extrair do ambiente instalado, num país com profundas fracturas, é a emergência de diversas frentes de indignados. Existe uma tradição de protesto nos EUA. Pensem nas manifestações contra a guerra do Vietname, contra a segregação racial, contra a globalização e os efeitos nefastos da mesma sobre o ambiente. E existem mártires. Lembrem-se de Kennedy. Pensem em Martin Luther King. O que Trump vai provocar é a reacção desmedida que transcende os orgãos de soberania que pouco valem na sua cabeça e que ele julga que domina totalmente. O despedimento da Procuradora-Geral não vai chegar para demover aqueles que entendem o processo americano, a mescla e a promessa firmada no rompimento em relação aos senhorios coloniais e a esperança que resulta do mesmo. Tenho fé, que por linhas tortas, mas lamentavelmente violentas, a América dos nossos sonhos bons possa vingar o seu nome - a parte boa do seu nome. Por causa de Trump sou mais americano do que nunca, mas não pelas razões que ele invoca. Vim de longe. Ainda não cheguei.
A vitória de Trump subiu à cabeça da Geringonça. Inspirados pelo evangelho de Bannon, o PS, o PCP e o BE querem matar a comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos. O adágio "quem não deve não tem" não serve esta causa, ou talvez sim. Viva a transparência, Viva a Democracia, Vivam os cidadãos de Portugal!
Desde quando é que o Partido Socialista decide o que é útil e o que é fútil? Os alegados pais da democracia libertária de Abril não querem mostrar as cartas do seu jogo. Recusam mostrar as estimativas de execução orçamental por entenderem que estas podem denunciar de morte as suas opções administrativas. Não era este o governo-maravilha que tinha um plano quinquenal ao quadrado, uma visão para a década? O checks and balances na sua plenitude também implica a total transparência dos números do Estado. O modesto cidadão comum não tem o direito de saber de que modo o seu dinheiro é gerido? Será que Portugal está a inverter a sua abertura de espírito e a tender para regimes políticos questionáveis? Mas esta história leva água no bico. Se a geringonça pretende esconder um mais que provável descalabro, não tem nada a temer. A Grécia acaba de ver aprovado mais um pacote adocicado de ajuda. Mas Ilusão e decepção parece ser o modo operativo. Querem convencer-me que não fizeram o due diligence adequado (expressão cara, esta) em relação ao adjunto de António Costa. A saga dos engenheiros da tanga parece não ter fim para os lados do Rato. Mas não nos afastemos do essencial. O Orçamento de Estado, na versão lápis azul da geringonça, pretende escamotear a verdade. E a verdade é a seguinte: os impostos sobem em toda a linha. Mas não convém que se saiba.
Não devemos ficar admirados se Sócrates e o seu capanga Araújo vierem atrás de bloggers da praça. Eles que venham. Temos um sindicato forte e bem organizado. E estamos dispostos a marchar em nome da liberdade de impressão que podemos causar. Descemos a avenida e faremos uma vígilia à noite, em nome da manhã - do correio. Se alguém me enviar um detalhe do processo Marquês, prometo devolvê-lo à origem. No entanto, para não ser chamado de ganancioso, farei o favor de partilhar o que tiver à mão com quem quiser. Agora, o que acho verdadeiramente escandaloso, é ter de conviver com aqueles que têm um complexo de superioridade cultural em relação ao Correio da Manhã. Sempre soube que Portugal era um país intensamente estratificado, mas o pedantismo intelectual tem limites. Seja qual for o estilo que imprime ao corpo dos seus textos, o Correio da Manhã tem a mesma legitimidade que o Expresso, o Sol ou o Público para ser um opinion maker. Podemos não concordar com as suas posições ou afirmações, mas não devemos confundir o que está em causa - a censura já não paira no ar - tomou a forma de providência cautelar. Pela mesma ordem de ideias de discriminação, seria o mesmo se o Presidente da Assembleia da República impedisse a entrada de um deputado iletrado, incapaz de assinar o seu próprio nome - alguém que tresandasse a transumância pastorícia. Assistimos, lamentavelmente, a um ataque descabido ao Correio da Manhã. Se desejam usar a mesma régua de acreditação jornalística, então acho bem que a estendam a outras casas de imprensa diária ou semanal. Eu sei que a genealogia ideológica pode ser invocada para estabelecer a ligação entre Sócrates e as movimentações socialistas, mas não vou por esse caminho. Agora vou ler a Bola para não ficar enjoado.
Tenho algumas questões a colocar ao operador. Um. Como é que António Costa obtém o número de telemóvel privado do jornalista do Expresso João Vieira Pereira? Dois. Já o tinha? Três.Telefonou à redacção do jornal para pedir o número ou cravou-o ao irmão? Quatro. Será que já tinha marcado o número privado do jornalista no seu smartphone? Cinco. Quantos números privados de jornalistas terá António Costa na sua carteira? Seis. Será que julga que pode exercer pressão beneficiando de um estatuto de imunidade/impunidade política? Sete. O envio do SMS a um "desconhecido" não configura um modo de assédio punível por lei? Oito. Qual o quadro de valores éticos que orienta a acção do candidato a primeiro-ministro deste país? Nove. Será que o envio de mensagens pela "porta do cavalo" faz parte do caderno de encargos do Partido Socialista? Dez. E desde quando é que argumentação racional e objectiva constitui um atentado ao carácter de António Costa? Onze. O que mais devemos esperar do candidato socialista? Doze. Será que não aguenta a natural pressão decorrente das suas pretensões políticas? Treze. Esperemos pelo próximo SMS.
Falo em nome próprio. Escrevo os meus textos. Assumo as minhas posições. O acordo assinado entre o governo e o Partido Socialista no sentido de exercer o controlo prévio dos meios de comunicação, na campanha eleitoral que se avizinha, diz respeito a todos nós. Colide com a liberdade de expressão de um modo descarado. Posso dizer, sem rodeios, que já sinto a censura há algum tempo. Não sei quem controla os blogs Sapo. Não conheço os administradores da PT, mas alegadamente houve uma decisão nascida no seio de uma estrutura partidária no sentido de mitigar os efeitos dos posts publicados. Basta ler os meus textos para perceber que pelo menos 75% dos mesmos servem para deteriorar os argumentos dos socialistas. Mas não são os únicos visados. Também aponto as baterias ao governo quando bem entendo. Nesse sentido, não nutro nem preferências ideológicas nem partidárias. Sou a favor da cidadania, da democracia e da liberdade de expressão. Em 2014 tive no portal Sapo 96 posts em destaque (primeira página, se quiserem), ou seja; registei uma taxa de visibilidade assinalável. E de repente a natureza dos destaques do portal Sapo deixou de ter acutilância política. E o Estado Sentido foi varrido dessa montra. Uma ordem deve ter sido dada, mais ou menos nestes moldes: "tirem-me estes senhores do ar". Neste momento o portal elege conteúdos de pendor light, cor de rosa e diet, e não passa despercebido. Mas como não devo favores a quem quer que seja, respiro profundamente os ares de independência, durmo tranquilamente. Nunca deixarei de dizer ou escrever o que penso. Uma nota final. As vozes críticas, mesmo as que não votam neste país, podem revelar a sua paixão por Portugal e o destino nacional. Eu inscrevo-me nessa categoria. Batalho por Portugal, muitas vezes com mais intensidade do que cidadãos de pleno direito. Quanto aos inimigos, prefiro levar-lhes a guerra à porta. Aqui, por exemplo.
...foi franqueada pelo incensado senhor Erdogan. Farto de ver o seu nome enlameado pela catadupa de alegações em torno de assuntos bastante turvos, já se esqueceu daquilo que durante anos tentou fazer passar como verdade insofismável: o seu movimento islamita era coisa talhada "à imagem dos democrata-cristãos europeus". Por outras palavras, ali teríamos uma tardia imitação de Adenauer, De Gasperi, ou, dadas as suspeições que se avolumam acerca de intuitos de expansão da influência regional, um Helmuth Kohl.
Tudo tem servido para justificar a apresentação da candidatura turca à U.E. Há uns anos, Kadhafi dizia que a Turquia seria o Cavalo de Tróia muçulmano na Europa, mas para a gente com as circunvoluções cerebrais minadas por cifrões, taxas cambiais, empreendedorismo, "liberdade de circulação de pessoas e bens" e outros argumentos a que nos habituámos, o Sr. Erdogan representa "a legítima herança do Império Romano do Oriente". Está-se mesmo a ver. Os problemas nas margens do Mar Negro continuarão durante mais algum tempo e a ninguém estranhará uma coordenação turco-americana naquela região, coisa já bastante visível no norte da Síria. Quanto à Europa, há quem pouco se interesse com o médio prazo, pois o que importa é o mercado, o bazar.
Já podemos imaginá-lo a emular o grande sultão Mehmet II, entrando a cavalo em Santa Sofia. Para adequar a imagem aos nossos dias, a Erdogan bastaria chegar de Mercedes ao Reichstag, fazendo substituir a águia pelo crescente na tricolor alemã. Coisa impossível, claro.
A liberdade é um conceito tramado que serve, as mais das vezes, de suporte a agendas políticas ridiculamente banditizadas. A mais recente atoarda censória de Hollande não é, a este propósito, uma grande surpresa, pelo facto singelo de toda a "obra" legada pelo président estar ferreteada pela mais completa e estupidificante inépcia política. Nesse sentido, o banditismo constituído pela censura, política e judicialmente chancelada, de um cómico não é, bem vistas as coisas, uma novidade. Numa presidência inicialmente votada à recuperação do grandeur da França, o falhanço no cumprimento das grandes metas macroeconómicas, acompanhado da deriva geoestratégica de uma elite demencialmente perdida, deu lugar, como o Miguel Castelo Branco sublinhou aqui, a manobras de diversão múltiplas, votadas, primacialmente, a desviar a atenção do povinho francês do cerne claudicante da política hollandista. O problema é que censuras deste jaez, com maior ou menor brado mediático, tenderão, a médio e longo prazo, a supurar os alicerces das liberdades democráticas. O fantasma do liberticídio anda por aí, ameaçando, a miúdo sub-repticiamente, os fundamentos do contrato social. E Hollande, com a sua costumeira inabilidade política, voltou, para não variar, a dar voz, espaço e luzes aos que tão inclementemente criticam o ocaso da República. Seria bom que, pelo menos, uma única vez, o socialismo francês fosse capaz de distinguir o trigo do joio.
Publicado aqui.
Alguém me acuda que eu não sou constitucionalista, mas acredito que esta decisão da Ordem dos Médicos deve ser sujeita a uma forma de fiscalização preventiva antes de entrar em efeito. A decisão parece colidir com os mais básicos princípios democráticos e constitucionais - o dinheiro não deve constituir um impeditivo para que a voz do cidadão se faça ouvir. Esta forma dissimulada de censura é um modo muito reles de defesa que a Ordem dos Médicos inventou para ter dinheiro em caixa e afastar as reclamações. Significa que um desgraçado sem dinheiro no bolso deixa de poder apresentar queixa, de reclamar, de iniciar um processo em que se averiguam os factos sem prejuízo das partes envolvidas até prova em contrário. A culpa ou a responsabilidade não podem ser condicionadas pela expressão monetária do indivíduo. Daqui a nada, os manifestantes que se fazem às ruas e reclamam, com ou sem razão, serão obrigados a pagar uma "taxa de protesto" e possuir um "cartão de cidadão do contra". Pelos vistos, a Ordem dos Médicos quer ser um Estado dentro do Estado e implementar as suas próprias medidas de austeridade. Isto é escandaloso e exige a mais firme resposta dos cidadãos, enfermos ou não.
"Wren Mendes de Almeida got the account locked by security services FB. A Complaint was made for reasons of crime of opinion against the Portuguese Government"...
Exemplar esta mensagem demonstrativa da punição por delito de opinião contra...o Governo de Portugal!!! Que "monstruoso crime" terá Carriça Mendes de Almeida cometido através da sua conta do Facebook para merecer tal "honra"? Mas o que vem a ser isto meus senhores?
Como diz aqui o Paulo Gorjão, bom senso, precisa-se. Das duas partes, em simultâneo. É que mais dia menos dia será impossível pronunciar o nome de Cavaco em público.
França vai passar a ser conhecida por Liberté, Egalité, Fraternité e Interneté. Foi necessário um Socialista aparecer em cena para começar a aplicar receitas normalmente associadas a outros regimes políticos. Agora ponderam aplicar uma taxa aos fabricantes de aparelhos que permitem a ligação à internet. Diga o que disser o Hollande, há aqui outras considerações que transcendem a mera ordem económica, a necessidade de angariar receitas em plena paisagem austeritária. Observemos com atenção este modo de censura que condicionará, com maior ou menor intensidade, a livre circulação de ideias. Trata-se de uma amostra do que é possível fazer. É o que eu digo, as ideologias assemelham-se a uma omolete, são mexidas e viradas ao contrário e servidas a frio. Sem darmos conta, pagaremos para satisfazer os fetiches de governantes que já perderam o controlo da situação económica, do descalabro, e que agora temem, mais do que nunca, a força das ideias. Aquelas que incendeiam bairros porque as juntas e levantamentos anteriores fracassaram. A França está ao virar da esquina de um descalabro económico e financeiro, com a séria agravante de ser um país que vive com uma profunda fractura, que opõe um país civilizado e católico ao banlieue muçulmano. Os tablets de barro que já eram utilizados pelos Sumérios, foram importantíssimos para as trocas comerciais, para o desenvolvimento da economia, mas mais substantivamente, para a livre circulação de ideias - para atirar barro à parede, para protestar, para plantar as primeiras sementes de discórdia. E essas amostras de dissensão viajáram até aos nossos dias enquanto elementos de definição da própria Democracia, tal e qual como a conhecíamos, e que teimamos em preservar. Ao censurar esse campo aberto que é o cíberespaço, Hollande demonstra a sua natureza autoritária, a sua inclinação para a arrogância. O pretexto de defesa da cultura francesa parece conversa de um chulo, que agora exige comissões ainda mais altas às prostitutas que escapam ao seu controlo, ao controlo de qualquer político. Eles andam nervosos. Por outras palavras, esta medida funciona como um aviso, uma ameaça velada feita a partir de uma bairro, por um cabecilha de um dos muitos gangs de políticos que povoam a Europa. Se nos provocarem o suficiente, puxaremos a tomada, não tenham dúvidas, e vós, súbditos do desastre, ficaréis às escuras como colaboradores de um Vichy de rede, enquanto a banda larga entoa os derradeiros acordes de uma revolução. A francesa, quem sabe.
Primeiro mandamento do jornalista português: não criticar Judite de Sousa.
Há poucos dias decidimos revelar imagens do interior e do exterior do nosso Centro de Operações, mas o Pedro Quartin Graça foi ainda mais longe e decidiu que seria o momento indicado para revelar qual a tecnologia de ponta que utilizamos. E tudo isto acontece no contexto de um possível Blogate - enunciado em detalhe por Samuel de Paiva Pires após ter regressado de linhas inimigas. No seguimento destes eventos, recebemos telegramas de apoio de milhares de adeptos e gostariamos de retribuir esse gesto simpático. Assim sendo, o Blog Estado Sentido irá organizar visitas guiadas às suas instalações (com almoço incluído) e irá sortear 10 inscrições para o primeiro Curso de Monitorização de Governos a iniciar no próximo ano lectivo. Os felizes contemplados receberão no final dos estudos um diploma e como lembrança uma medalha de cristal - comemorativa do "princípio de transparência".
O Estado Sentido acaba de revelar uma imagem secreta do seu Centro de Operações. Um moderno centro de comando que serve para monitorizar a actividade do Governo. A partir deste local secreto, que ocupa uma das galerias de uma mina desactivada, os agentes secretos do blog escutam infindáveis quantidades de soundbytes, visionam milhares de horas de emissões televisivas e revêem artigos de imprensa na vã expectativa de extrair valor que possa ser convertido em benefício para o cidadão comum. Para aqueles que ignoravam o sentido da nossa missão, apraz-nos partilhar esta singela fotografia.
Atraso mental, estupidez, arrogância e provocação, é a reacção imediata que qualquer pessoa normal poderá ter perante este ridículo processo instaurado num Tribunal de Bruxelas. Na pretensa "capital da Europa", apela-se, ou melhor, exige-se a censura ou o proibir da exibição de Tintim no Congo nas prateleiras das livrarias. Nos anos 30, Hergé desenhou e escreveu a aventura africana e noutros episódios - em Tintim na América, por exemplo, pululam gangsters e agiotas - gozou com aspectos que o europeu comum considerava então como caricatos. Quem tenha lido todas as aventuras de Tintim, facilmente se aperceberá do apontar de todas as misérias humanas onde quer que elas se encontrem: o banqueiro pouco escrupuloso, o ditador patusco, o ladrãozinho de bairro, o burguês arrogante e preconceituoso, o doutor cheio de empáfia, o cavalheiro distinto, a cantora lírica e sumamente chata, o camponês explorado,o cigano marginalizado, o livre arbítrio colonial na Índia, o chinês condenado ao massacre e tantas, tantas outras personagens que faziam o mundo daquele tempo. Algumas delas ainda existem, estão entre nós e medram como nunca. O Sr. Mbutu acaba de se juntar ao rol.
As Aventuras de Tintim fizeram - e ainda fazem - a felicidade de milhões de crianças, hoje bem atentas a alguns aspectos desfazados da nossa época e tão perceptíveis, que uma simples chamada de atenção é suficiente. Foi precisamente o que os meus pais fizeram, quando aos seis anos aprendi a ler. Por sinal, o primeiro livro foi uma Aventura de Tintim, "O Segredo do Licorne".
O senhor Bienvenu Mbutu, um congolês residente na tolerante Bélgica, devia pensar duas ou três vezes antes de se decidir pelo dislate. Se seguíssemos as pulsões do queixoso, ergueríamos fogueiras até aos céus, onde não escapariam Bíblias, Corões, as Crónicas de Fernão Lopes, Os Lusíadas, a Peregrinação, o "Panorama de Lisboa no ano de 1796"de j.B.F. Carrère e todos os outros livros de viagens de estrangeiros a Portugal - William Beckford, por exemplo -, muitas obras de Camilo ou Eça, nem sequer escapando páginas e páginas de textos de Marx eivados do mais puro preconceito em relação a "populações inferiores" e destinadas à aniquilação. As livrarias e bibliotecas, abarrotam de "obras preconceituosas" e capazes de nos esclarecerem, página por página, a história da evolução das mentalidades e o erguer ou desabar de civilizações.
O Sr. Mbutu podia estar mais preocupado com a deplorável imagem que a África independente apresenta. No seu país, teve um quase homónimo Mobutu como dono absolutíssimo, incomparavelmente mais poderoso e impiedoso gatuno, que todos os colonialistas flamengos somados. Por lá vinga a lei tribal, a morte anunciada do vizinho, a extorsão pura e simples.
Na Europa de hoje em dia, há quem queira proibir o toque de sinos, a difusão pública de música sacra e as procissões. Por "ofensa" à sua forma de ver o mundo, esta nossa parte do mundo, há que afirmá-lo.
É por isso que o Sr. Mbutu ousa. Está na horrenda Europa, claro.
Sempre que desaparece um "resistente" de qualquer coisa, lá está a imprensa a sublinhar o posicionamento do passado. Sempre que a merecida cerimónia envolve um nome de "republicano de toda a vida", desembarca de uma das suas muitas limusinas o "Chefe" do Estado, curvando-se humildemente diante do ataúde. É sempre assim.
Procurem em folhetos e biografias, pois jamais encontrarão aquilo que todos há muito sabem. A oficiosa Censura do regime, sempre omitiu a fidelidade do Maestro Manuel Ivo Cruz à Causa Real e à Casa de Bragança. Foi a sepultar no cemitério da Lapa e levou consigo, como sempre fez ao longo da vida, a Bandeira Nacional. Gente da "alta", gente da "cultura da República", onde estava?
Voltaremos a encontrar-nos, Maestro!