Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Era aflitivo ver este casal que tudo tentava para obter o acesso a um Centro de Saúde. Com residência na zona do Príncipe Real, a inscrição foi rejeitada devido à sobrelotação de utentes no C.S. Cais do Sodré (1).
São ucranianos, residindo ele em Portugal há seis anos e sem que até hoje alguém lhe concedesse um contrato/inscrição na S.S. Trabalha a recibos verdes e acumulam-se os episódios de "colocação à experiência" durante meses infindos. Devido aos problemas russo-ucranianos, já há quase seis meses trouxe de Kherson a sua mulher. Está grávida, na primeira fase da gestação. Até hoje ninguém a quis atender, deambulando de centro em centro, esmagada pela exigência deste e daquele papel que não era possível obter senão com a apresentação de um outro qualquer.
Decidi acompanhá-los ao C.S. do Cais Sodré e após indicações da simpática funcionária, dirigimo-nos ao C. S. da Lapa, na Rua de S. Ciro. Após uma espera de pouco mais de cinco minutos, tivemos a oportunidade de conhecer um modelo de funcionária pública. Conhecedora dos trâmites legais e inteirando-se da situação da Yelena, prontamente resolveu o caso, marcando para esta tarde a primeira consulta. Rapidez, saber fazer, delicadeza e boa educação extrema, salientando-se ainda a compreensão dos problemas de gente que até então lhe era completamente estranha. Se Portugal contasse com este tipo de serviço público em cada departamento do Estado, boa parte dos dramas nacionais não existiriam.
O Centro de Saúde da Lapa merece o nosso reconhecimento, até porque facilmente concluí acerca da existência de outras Anas Fernandes de serviço ao mesmo balcão, significando isto um perfeito trabalho de equipa. Em conformidade solicitei o Livro de Reclamações, nele deixando um louvor. Trata-se da mais elementar justiça.
(1) Orgulhosamente em exposição na sala de atendimento do C.S. do Cais Sodré, está uma grande fotografia da visita da Rainha D. Amélia ao mesmo local, quando ali funionava a SLAT de que foi fundadora e benemérita. Cercada por uma multidão de populares, o grande vulto da soberana recebe as homenagens de quem, mesmo tendo passado 35 anos desde a catástrofe de 1910, jamais a esquecera. Afinal, existe mesmo um outro Portugal.