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Fiz uma promessa que não irei cumprir. Jurei que em 2015 abrandaria o meu ímpeto selvagem, a minha tendência violenta para com os afazeres do recluso 44 e os juramentos demagógicos dos socialistas. Mas intimamente sei, que mais parágrafo menos parágrafo, regressarei a essa faena, à lide da pequena política de quintal, de mexericos e dissabores. Ainda hoje tentei evitar o consumo dessa água danada, mas não me dão hipótese, vêm beber à minha mão. António Costa, assim como o rabejador Ferro Rodrigues, haviam declarado que não negociariam com o inimigo, que não assinariam acordos de regime, e que o caminho do poder seria uma rota de tudo ou nada, a solo, em absoluto. Contudo, Cavaco Silva que ontem serviu umas fatias de bolo-presidente aos portugueses, parece ter desviado Costa do seu projecto de futuro governo. A reunião de António Costa com o Partido Social Democrata deve ser entendida do seguinte modo: os socialistas sabem que não têm margem de manobra para inverter o curso de acção ou alterar a receita de governação implementada desde a chegada da Troika e o descalabro económico de 2011. Se os socialistas continuam com essa conversa de rasgar o tratado de austeridade sabem que serão ainda mais castigados pelos decisores do centro da Europa - Merkel e companhia, se quiserem. O que está a acontecer lá para os lados do Banco Central Europeu também sugere tempos atribulados, dificuldades acrescidas. Há mais de 3 anos que Mario Draghi anda a ameaçar a Zona Euro com o lançamento de quantitative easing e o espectro da deflação parece validar ainda mais essa hipótese. Ou seja, os astros não estão alinhados para sonhos cor de rosa. Antes que o caldo se entorne e o actual governo reuna ainda mais argumentos para justificar as suas decisões tributárias, os socialistas sabem que devem, o mais cedo possível, procurar alinhavar uma coligação, esboçar um partilha de poder à bloco central. Daqui por algumas semanas Évora e o seu paciente mais famoso serão meras sombras de chaparro. Há coisas bem mais importantes que irão condicionar Portugal. E infelizmente não dependem dos portugueses.