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Já vimos que António Costa conseguiu contratar o humorista-rei de Portugal. Ricardo Araújo Pereira (RAP) tem capital intelectual para dar e vender. Apenas alguém com níveis de inteligência muito elevados consegue apostar no cavalo político ganhador. Não há mal nenhum em ser franco e honesto em relação à preferência ideológica. RAP não está a ser cínico. Tem mesmo afecto por António Costa. O problema reside na explicação racional que teria de oferecer (se não fosse humorista) para fundamentar a sua escolha. Mas depois pensei no seguinte; os humoristas, à semelhança dos mágicos, apresentam truques com uma mão cheia de nada. Eu entendo que seja tentador estar alinhado com a parte fraca, com aqueles pintados de perdedores. E a comédia é intrinsecamente um exercício de contestação, mas não de alinhamento com um partido político. Isso tem outro nome - propaganda. Charlie Chaplin também fora acusado de ser socialista, mas eu sei que não devo confundir o cu com as calças. Ainda falta bastante para RAP superar Herman José, quanto mais Charlot (que raio de tradução?!). Por estes motivos de escalada mediática ou de manutenção do status de humor, devemos questionar as suas motivações e o que afirma Pereira (Tabucchi, perdoa-me) no seu programa tá-se-bem (é assim?). Se RAP fosse mesmo rapper, incluiria na sua letra um sentido mais ecológico e subtil, esbanjaria gargalhadas no boletim de voto integral e não correria o risco de ser eleito faccioso. Mas deste modo, impõe-se de um modo anti-democrático. Canoniza a antitese perfeita, corporiza o estado paliativo do humor inteligente e apresenta um estado novo de comédia. RAP tornou-se numa autoridade, no ditador da piada fácil, dispensável.