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Para responder à pergunta colocada pelos magistrados sobre a capacidade dos eleitores para fazerem opções, recomendo alguma calma e a leitura do livro de James Surowiecki - The Wisdom of the Crowds (Why Many Are Smarter Than the Few), mas avanço já com algumas considerações nascidas à flor da pele irritada. A questão formulada pelos magistrados em plena época de desconforto social e político, pode ser interpretada como um desvio ao ideal democrático e pode ser entendida enquanto ofensiva por uma larga camada da população votante. Dizem os magistrados "que existem alguns cidadãos sem cultura suficiente para fazerem opções em eleições", a que podemos responder, taxativamente e com a mesma unidade de medida, que a grande maioria dos políticos não tem ética ou competência (demonstrado ao longo de tantas décadas) para defender os interesses daqueles cidadãos que não têm cultura suficiente para fazerem opções eleitoriais. Estão a ver a pescadinha de rabo na boca desta caldeirada? Existe tanta coisa perigosa nas palavras proferidas que nem sei onde deva começar. O que significa fazer opções eleitorais? Votar num em detrimento de outro? Ou escolher o menor dos males? Referem ainda que a formação política é inexistente ou precária. E quem serão os magníficos reitores da razão cívica e societária (para não usar a expressão "política")? Será nos partidos que se aprende política no seu sentido mais profundo e deontológico, ou será que são meras agências que defendem o interesse de alguns? E qual a alternativa no processo de formação do poder? Pelas palavras magistrais poderemos concluir que através de um passe de mágica, uma espécie de elite fica automaticamente encarregada de pensar pelos outros - um círculo de iluminados que defende os interesses dos iletrados e cidadãos troglóditas. Uma democracia assente no juízo de alguns, mas apenas alguns. E que entidade certifica o cidadão por forma a que ele possa ajuizar e decidir de um modo politicamente correcto? Onde é que colam o selo de aprovação? Na testa? Não sei de onde vem esta febre, mas de certeza que as autárquicas devem estar a dar a volta à cabeça ao juízo, aos juízes. No livro do autor que referi no início deste post, há uma alusão à miragem que tantos acidentes já causou. Surowiecki fala da obsessão pela faixa da rodagem mais rápida na auto-estrada e que a grande maioria dos condutores julga ser a da esquerda. Mas sabem uma coisa? Não é a mais rápida. Mas também não digo qual é. Não é assim que funciona - o que funciona é o resultado agregado de idiotas e génios, náuseas e felicitações.