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O Portugal que hoje celebro é o de todos os dias - o dos grandes Portugueses. Mas não são aqueles homenageados pela grandeza pública, arrastados para o palco da expressão política, a bel prazer dos governantes. Não me refiro a esses. Falo de algo pessoal e intransmissível. Saúdo todos aqueles que corporizam a alma Lusa. O número sem fim de cidadãos com quem tive o privilégio de privar, que no encontro fugaz ou duradouro honraram as grandes qualidades humanas, universais. Quantas vezes terei sido alvo da generosidade dos Portugueses? De que modos distintos fui eu surpreendido positivamente? E se faço tal declaração de reconhecimento é porque consigo realizar a destrinça entre o essencial e o efémero, entre o ruído e a melodia. Esqueçamos por um instante aqueles que passam pelo escaparate e concentremo-nos na grandeza do espírito. Paradoxalmente, faço este elogio porque fui agraciado tantas e tantas vezes mesmo sendo de outras paragens - eu vim de longe. Por vezes pergunto se a minha condição me concedeu essa prerrogativa, porque observo que muitas vezes sou melhor tratado do que os nativos. Recebi vezes sem conta, quando outros haviam mais necessitados. Fui ajudado em horas de aflição como se fosse um filho da casa, um parente mais que próximo. Fui alimentado por essa hospitalidade que atrai os do norte, mas também os lestos ou os de leste. É esse postal que temos de preservar. A broa repartida tantas vezes quantas necessárias para albergar mais um convidado - mais uma cadeira e mais um prato na mesa. Por vezes sonho com o país que conheci há mais de duas décadas, ausente da estrada que liga ou do telemóvel que toca. Fomos felizes com a sardinha e o ritual da matança do porco. Observei vezes sem conta a redenção a custo zero, a fadiga que valeu a pena sem se conseguir explicar porquê. Quem disse que a saudade é coisa do passado quando ela pode ser do futuro?Deixem Elvas a falar sozinho e regressem a casa com esse cheiro de mangerico que atravessa as tormentas, aquelas que abraçaremos para as tornar boas.