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Na sexta-feira, tivemos o prazer de assistir a uma das mais excepcionais representações telenovelistas de que há memória. Numa cimeira qualquer organizada por um bando de jagunços entre os quais pontificavam o coronel Tapioca Chávez, o vendedor de tosquiados cabritos Moralles e a ex-secretária para todo o serviço Cristina "qualquer coisa que faz lembrar uma Kitchnette", o senhor Lula da Silva interpretou o papel de um ex-sindicalista de ocasião. Semi-nu, esbracejante e muito faveleireiro, discursou á malta. Já há muito tempo não assistíamos a tamanho berrório, num pavilhão cheio de mensalados e de subscritores de duvidosos boletins de voto. Contra o capital, pelos pobres e oprimidos, por uma nova ordem mundial, na qual ele e os seus improváveis amigos serão figuras de proa. Quanto aos outros, Chávez lá disse o que vitaliciamente quererá dizer, Moralles grunhiu umas bestices vitalícias mas Lula, esse, surpreendeu. Ainda há umas semanas o vimos todo engravatado e rodeado por tubarões da mais alta camaradagem sarkoziana e plutocrática de Paris, assinando contratos bilionários para a compra de aviões de guerra e outras negociatas mais. Ontem, foi a vez do faz de conta, regressando aos tempos de molecagem em que brincava às revoluções.
Comício finalizado, imaginamos o que a seguir fizeram os grandes líderes: uma bela jantarada de luxo num hotel de cinco estrelas (paga pelo bolso do contribuinte que ficou lá fora), onde a vinhaça importada correu a rodos, acompanhada por lagostins, camarões apimentados e uma valente feijoada com todos, para libertar os gases de fim de semana. Enquanto isso, na rua, os estridentes apoiantes iam devorando o que as marmitinhas de plástico carregavam desde casa: umas gororobas de lulas com farofa, feijão preto com feijão branco, uns nacos de pão e uns chopes mornos para refrescar as roucas goelas. Na sala VIP do hotel, a noite acabava com um frenético samba com garotonas de programa, uns cheirinhos de branca enquanto uns andares mais abaixo, à beira dos bueiros, enrolavam-se uns baseados. Como sempre, nada muda.
Na próxima segunda-feira, tudo voltará ao normal, com Chávez a vitaliciamente importar canhões e mísseis russos, Moralles a vitaliciamente adquirir camisolas de lã semi-virgem na feira popular, a Cristininha a vitaliciamente marcar mais um retoque de botox e uma liposinha no baixo ventre. O senhor Lula, esse, já vestido a preceito, vitaliciamente regressa à roda viva de contactos capitalistas, esfregando as mãos de contente por se sentir um grande entre os grandes. Petróleo, gás, muita comida para exportar e claro, bastantes milhões para vitaliciamente conquistar novos amigos. E entretanto, para amansar o povão, lá vai de surdina cantando "viva a revolução"... (vitaliciamente dele).