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Votos de um Feliz Natal a todos os leitores do Estado Sentido
Choose designer lingerie, in the vain hope of kicking some life back into a dead relationship.
Choose handbags, choose high-heeled shoes, cashmere and silk, to make yourself feel what passes for happy.
Choose an iPhone made in China by a woman who jumped out of a window and stick it in the pocket of your jacket fresh from a South-Asian firetrap.
Choose Facebook, Twitter, Snapchat, Instagram and a thousand others ways to spew your bile across people you've never met.
Choose updating your profile, tell the world what you had for breakfast and hope that someone, somewhere cares.
Choose looking up old flames, desperate to believe that you don't look as bad as they do.
Choose live-blogging, from your first wank till your last breath; human interaction reduced to nothing more than data.
Choose ten things you never knew about celebrities who've had surgery.
Choose screaming about abortion, choose rape jokes, slut-shaming, revenge porn and an endless tide of depressing misogyny.
Choose 9/11 never happened, and if it did, it was the Jews.
Choose a zero-hour contract and a two-hour journey to work, and choose the same for your kids, only worse, and maybe tell yourself that it's better that they never happened. And then sit back and smother the pain with an unknown dose of an unknown drug made in somebody's fucking kitchen.
Choose unfulfilled promise and wishing you'd done it all differently.
Choose never learning from your own mistakes.
Choose watching history repeat itself.
Choose the slow reconciliation towards what you can get, rather than what you always hoped for. Settle for less and keep a brave face on it.
Choose disappointment and choose losing the ones you love, then as they fall from view, a piece of you dies with them until you can see that one day in the future, piece by piece, they will be all gone and there will be nothing left of you to call alive or dead.
Choose your future, Veronica.
Choose life.
De Lee Toland Krieger, com Blake Lively, Ellen Burstyn, Michiel Huisman e Harrison Ford.
A história de uma mulher que, a dada altura da sua vida, se vê incapaz de envelhecer. O que em princípio seria o sonho da eterna juventude revela-se, afinal, um infortúnio que a priva de uma vida normal, ao viver noutro tempo que não o do ciclo de vida de toda a gente; uma realidade a que ela terá de se adaptar. Um grande desempenho da bela e elegante Blake Lively no papel principal, conseguindo retratar uma mulher criada no início do Século XX mas que procura adaptar-se aos tempos e situações que atravessa, necessariamente madura apesar de fisicamente jovem, prudentemente contida mas não conseguindo esconder as emoções. Outro grande desempenho é o do veterano Harrison Ford, de entre um elenco bem escolhido. Não sendo excepcional, é um bom filme a todos os níveis, a que não falta boa fotografia, música original e guarda-roupa de época.
Uma vez mais aconselho vivamente a não ver o trailer, que revela demasiado da história.
Escrito e realizado por Paul Haggis, com Liam Neeson, Olivia Wilde, Mila Kunis e Adrien Brody nos papéis principais.
É sempre desagradável dizer que um filme não é para toda a gente mas este, de facto, não é um filme fácil. Não só por causa do constante zapping entre as histórias que fazem parte da história principal (que parece algo exagerado na parte inicial do filme), mas porque nenhum dos personagens é herói nem está lá para que o espectador simpatize com ele. O que poderá levar a que se tenha menos interesse e se preste menos atenção aos detalhes necessários para que, mesmo no final, tudo encaixe e se compreenda a verdadeira dimensão da narrativa. Uma fórmula arriscada que poderá acarretar a frustração do espectador caso este não "atinja" a história. Não será por acaso que a crítica não tem sido muito favorável a este filme que, de facto, é de grande qualidade e com um elenco bastante competente.
Tudo começa e acaba com um escritor, fechado num quarto de hotel a escrever um romance, consumido pelo sentimento de culpa e ferido na auto-confiança.
«Watch me».
Alguns apontamentos interessantes, outros altamente discutíveis e demasiadas interpretações abusivas que Zizek tenta passar como verdades alicerçadas na psicanálise de Jacques Lacan compõem The Pervert's Guide to Ideology, um filme que irá provavelmente ser um sucesso de bilheteira num Ocidente cada vez mais à deriva e em que a larga maioria dos espectadores provavelmente não terá recursos intelectuais para o desmontar e criticar, especialmente quanto a erros de palmatória (por exemplo, Zizek afirma que Kant defende a ideia de nobre mentira de Platão, quando, na verdade, Kant é um dos poucos grandes filósofos a ter defendido que mentir é sempre moralmente errado, estando na companhia apenas de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino). Mais uma lança avançada do marxismo cultural contra o capitalismo, mas que acaba numa mão cheia de nada em que aquilo que me parece mais importante reter, especialmente em resultado do óbvio viés ideológico e de várias deficiências intelectuais de Zizek, é que este alegado filósofo é extremamente sobrevalorizado. Que seja um dos mais reputados intelectuais mundiais diz muito da degenerescência intelectual do Ocidente.
De Joshua Michael Stern, com Ashton Kutcher no papel de Steve Jobs.
Não sendo um filme excepcional, dando o desconto que faz parte da construção do mito em trono de Steve Jobs, e que provavelmente não será 100% fiel à verdade, que obviamente serve os interesses de marketing da Apple, que não resistiu aos clichés sobre os computer geeks e os universitários do final dos anos 60/anos 70, é ainda assim um filme interessante, bem realizado e interpretado, carregado aos ombros por Ashton Kutcher. A figura de Jobs é tratada nas suas várias facetas, do aluno universitário ao empresário visionário, passando pelo relacionamento com os seus próximos, e naturalmente pelos seus ensinamentos. A banda sonora também é bastante bem sucedida.
E para quem teve as primeiras aulas de informática há quase 30 anos (ao teclado de um Bull 80286, de 8 MHz - uma grande máquina na altura), ver este filme desperta memórias e carinho por uma época em que a informática estava a chegar ao alcance do comum dos mortais, com teclados iguais aos das máquinas de escrever electrónicas, monitores de válvulas com ecrãns monocromáticos (onde, quando se movia o cursor de um lado para o outro, deixava um rasto de luz atrás de si) e a informação guardada em disquettes de 5 e 1/4 de polegada, 360 Kbytes de memória - os discos rígidos só apareceram mais tarde. Na altura, era a tecnologia de ponta, a começar a transformar as nossas vidas.
What if I told you insane was working fifty hours a week in some office for fifty years at the end of which they tell you to piss off; ending up in some retirement village hoping to die before suffering the indignity of trying to make it to the toilet on time? Wouldn't you consider that to be insane?
- Garland Greene, the Marietta Mangler
De François Ozon. Um bom filme francês, bem escrito, realizado e interpretado. Um professor de Francês que descobre entre os seus alunos um com especial talento para escrita e que resolve aconselhar e desenvolver. Não imagina ele no que se está a meter.
Além do mais, este filme é uma oportunidade para escutar Francês correcto e bem falado, sem palavrões nem calão.
Em exibição contínua perto de si, mas interdita a menores de 18 anos.
Um filme dinamarquês que relata o conturbado reinado de Cristiano VII da Dinamarca e Noruega, com a chegada das ideias do Iluminismo àquele que era na altura um país conservador. Aparentemente rigoroso em termos históricos, toma por vezes o partido por um processo político que, se por um lado deu à Dinamarca uma muito necessária modernização em muitos aspectos, por outro foi considerado usurpador e odiado pela generalidade do país. E que o deixou numa situação difícil e mergulhado numa crise politica, além de ter tornado a corte dinamarquesa num alvo de chacota internacional. O que pode tornar o filme ainda mais interessante se o espectador guardar algum espírito crítico quanto à forma como os factos são apresentados.
Bem realizado por Nicolaj Arcel, conta com excelentes desempenhos e todos os condimentos de um bom filme de época (cenários, guarda-roupa e música).
De novo, aconselho a evitar o trailer.
Está a decorrer no Youtube o Your Film Festival, um festival de curtas metragens em que os cibernautas são o júri. Dos 15 mil filmes a concurso foram escolhidos 50 finalistas, entre os quais «North Atlantic», uma co-produção luso-britânica realizada pelo português Bernardo Nascimento, que também escreveu o argumento, baseado em factos reais. A votação decorreu até hoje. Espero que obtenha uma boa classificação porque de facto são quinze minutos de bom cinema.
«É chegada a altura de produzir um anúncio: desisto oficalmente de aguardar pela chegada do dia em que alguém se espante que seja quem precisamente tem pessoal interesse financeiro em haver cinema a defender os subsídios de que serão os maiores benefiários. Na concentração a favor do cinema português que se realizou nas escandarias da Assembleia da República ouvi um depoimento que é uma literal reencenação deste habitual extraordinário, rebobino: "Nós não estamos aqui a defender o nosso trabalho, estamos aqui sobretudo a defender a cultura em Portugal". Não me resta alternativa que não seja claudicar: trata-se de um traço aparentemente eterno, e retorna sempre. Todo o merdas que em Portugal culturaliza para viver só é habitado por motivos estratósféricos, quase assistencialistas para com Portugal e os portugueses: o Jaime Bulhosa, os cineastas e os actores, pela cultura; os professores, pela educação; os médicos e os enfermeiros, pela saúde; os juizes e os advogados, pela justiça; os banqueiros, pela economia. E os trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo? Esses não, esses estão apenas a defender interesseira mas compreensivelmente os seus postos de trabalho, tadinhos deles. As pessoas da cultura parecem estar isentas do imposto social que é o pudor, o decoro e a vergonha; mas se o não têm, ou se por elitismo (em cujo valor e importância, adiante-se, acredito, e defendo) não acham possível ser hipócrita ao ponto de os simular e exteriorizar, porque é que, ao menos, não estão calados, caralhos ma'fodam? Porque é que não deixam ser quem ambiciona poder consumir cultura em Portugal a mover-se para extrair do Estado os recursos que alimentem o que consideram essencial para si? Que sejam discretos, ao menos, é impossível? Que se defendam, inclusivamente, que nos defendam, mas sem nos esfregar nas trombas a auto-importância que se atribuem. Será pedir muito?»
O 3D é uma tanga para cobrar mais dinheiro por um bilhete de cinema e o Titanic é um dos filmes mais aborrecidos que alguma vez vi (tanto que adormeci das duas vezes que o vi, acabando por ver as metades). O que é que pode levar alguém a transformar aquilo em 3D (que não seja o lucro) e, mais, o que pode levar alguém a querer passar pela tortura de ver novamente aquele entediante filme? Se eu passasse 4 horas com aqueles óculos de hipster a ver aquela película, certamente começaria a sangrar dos olhos - e também dos ouvidos, devido à Celine Dion. Enfim, mas já que virou moda, entretanto aguardo pacientemente que transformem o Matrix em 3D, enquanto me divirto com os vídeos a gozar com o Titanic, como este.
Alberto Gonçalves na mouche, E o vencedor é...:
"Será talvez irónico que a televisão, responsável pelas maiores atrocidades na história do entretenimento desde a mulher barbuda (correcção: incluindo a mulher barbuda), seja hoje responsável por algumas das produções mais sofisticadas do género. Antigamente o refugo do audiovisual, a televisão desatou a exibir maravilhas como The Wire, Dexter, Arrested Development ou The Office. Em compensação, o cinema já raras vezes ultrapassa o primarismo assumido da banda desenhada ou, o que é pior, o primarismo da banda desenhada com pretensões "artísticas". Os melhores leading men da actualidade, de Hugh Laurie a Michael C. Hall, de Dominic West a Kelsey Grammer, recorrem à televisão para fazer carreira e ao cinema, onde se subjugam aos Pitt e aos Clooney desta vida, para fazer dinheiro. É inegavelmente irónico que o cinema nunca tenha facturado as fortunas actuais, e que a sua celebração anual nunca tenha sido tão épica e mentecapta.
Mesmo em épocas de fartura qualitativa, os Óscares jamais se distinguiram pelo esclarecimento (é escusado lembrar que Hawks, ou Cara Grant não ganharam um único). Em época de escassíssima qualidade, os Óscares distinguem-se pelo ridículo: na falta de filmes, não faltam fitas. Claro que nem sempre o ridículo e as fitas atingem os píncaros de 2003, em que a cerimónia foi reduzida a uma manifestação contra a guerra no Iraque. A imagem de Michael Moore a pedir a Bush que tivesse a vergonha que ele, um charlatão milionário, obviamente não possui simbolizou os abismos de hipocrisia a que a coisa desceu. Mas a coisa desce com regularidade. Não há cerimónia sem um par de vedetas a promover as "causas" a que aderiram na semana anterior (ou, no divertido caso de Sean Penn, vinte minutos antes), de resto a matéria da maioria das misérias a concurso.
No dia seguinte, os media aplaudem a coragem das vedetas. No léxico contemporâneo, "coragem" é o que leva uma pessoa a defender ou criticar o que é defendido ou criticado por quase toda a gente. É lícito louvar o ambiente, o "pacifismo" e "Che" Guevara, ou caricaturar o evangelismo cristão, Margaret Thatcher e o senador McCarthy, um monstro que, embora morto há meio século, as valentes celebridades não cessam de combater. Na verdade, as celebridades só não combatem inimigos reais e realmente perigosos. Os limites do seu activismo definem-se pelas maçadas que o activismo lhes poderá trazer. Grosso modo, os limites são o Islão.
Parece que Sacha Baron-Cohen, criador de Borat, sentiu agora as interdições da famosa "academia", cujo convite para os Óscares estaria dependente da garantia de que o actor inglês não aproveitará o evento a fim de promover O Ditador, paródia de um deposto líder de um país muçulmano. Suspeito que a palavra-chave, aqui, é "muçulmano": com o Profeta e respectivos seguidores não se brinca. À hora em que escrevo, consta que a "academia" deseja afinal integrar a personagem de Baron-Cohen no alinhamento da noite, uma tentativa de controlar danos à qual Baron-Cohen cederá ou não. Inclusive, corre por aí que tudo se resumirá a um truque publicitário combinado por ambas as partes. Pouco importa. O importante é a mera plausibilidade da cautela, uma extravagância num mundo orgulhoso de desafiar interditos excepto o interdito que mata.
Recentemente, transtornados locais promoveram pequenas chacinas a propósito da queima de exemplares do Corão numa base militar americana no Afeganistão. Em geral, as chacinas ou as ameaças não carecem de pretextos tão ofensivos (e dispensáveis). Uma palavra, um rabisco ou uma rábula cómica bastam para suscitar a fúria de quem, na última década, decide o que é admissível no nosso comportamento. Por isso o nosso comportamento se resigna ao medo, uma irrelevância quando restrito ao grotesco circo de Hollywood, um perigo quando alargado ao Ocidente. Logo veremos se o medo voltou a vencer. Ou verão os que seguem pelo televisor a homenagem a este cinema e, até certo ponto, a este Ocidente resignado. A TVI passa os Óscares. Enquanto não vir uma vedeta enxovalhar o fanatismo que conta ou um bom filme premiado, eu também passo."
Para além de um filme de culto de Terrence Malick.
Para além de um filme de culto do grande Terrence Malick.