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Já que estamos numa de cães, cadelas e mordeduras, deveriam aproveitar o paradigma para rever as trelas que nos guiam nesta sociedade pseudo-moderna. Antes que atire o osso para que o possam roer ou devolver, faço o seguinte aviso - sou amigo dos animais. Durante trinta anos dediquei-me a outra espécie de quatro patas (equídeos) e sempre tive (no campo) cães felizes, maioritariamente rafeiros, mas com uma digníssima excepção. Foi-nos oferecido um pastor alemão de nome Wolf que havia recebido o diploma de treino profissional da GNR. Sim, o cão sniffava droga, fazia de sentinela e guardava malas até ordem dada em contrário, e apenas comia do seu prato após escutar a password que apenas os donos sabiam. Mas adiante. O fenómeno canino de Portugal deve ser analisado à luz de considerações maiores. Na escalada e afirmação do estatuto social, o cão (de raça) tornou-se um acessório indispensável. O cão tornou-se uma divisa com visibilidade acrescida - tem mobilidade, causa alarido e instiga inveja. São tantos os terriers que por aí se passeiam para gaudio de dono show-off. Mas há raças e raças. Houve tempos em que o cocker-spaniel servia para ostentar a patente. Depois houve a mania dos boxers, e mais recentemente a estria oriental parece ser a coqueluche maior - quem tem Shar Pei é ainda mais virtuoso - tem empregada em casa que passa a ferro. Depois vieram os mauzões. Os bodybuilders e car tuners que andaram a ver muitos filmes e lá se encanitaram pelos Dobberman, Rottweiler e Pitbull. No entanto, há que reconhecer que o bóbi e o piloto, que são bons rapazes e sem linhagem, fazem companhia ao Tio Alfredo (que mija a biqueira das botas) e à Dona Aldina (que é surda da cabeça e dos ouvidos). Sim, o animal empresta o seu bafo quente, o seu carinho - venham de lá os restos para o jantar que a ração é uma sêca. Mas convém que passemos directamente ao que me irrita profundamente - a falta de civismo dos senhores proprietários de cães. Falo de dejectos abandonados na via pública, nos jardins relvados ou na bela calçada portuguesa (a mesma defendida como património da humanidade). E a Polícia Municipal entretida ao telemóvel a guardar a betoneira da obra, a arrastar uma viatura mal estacionada, mas a ignorar por completo este nojo inaceitável. Nunca ouvi falar de um dono de um cão ter sido autuado por delito cometido em flagrante - nunca. Querem dar formação aos donos e um diploma aos cães? Acho muito bem. Mas a abordagem à questão deve ser holística, integral. A mordedura fatal de um Pitbull equivale a 1000 dejectos lançados sem vergonha na rés pública. E é aqui que reside grande parte do problema da liberdade explosiva servida de bandeja por revoluções de ordem vária. O português ainda não percebeu onde termina o seu quintal e onde começa o espaço público. E depois dá as canzoadas que se conhecem. Que grande cadela: Rotweiller mal ensinado?
Quando se trata de civismo, ou a falta do mesmo, todas as leis e respectivas sanções são mais que bem-vindas. Se não vai a bem, se o comportamento de cada um não é passível de ser auto-regulado (devido a carência ética ou a pobreza de princípios), em nome da comunidade e dos seus valores de agregação, o Estado deve intervir. O sociólogo Tonnies faz a destrinça entre as forças espontâneas que asseguram a coesão dos agrupamentos humanos (comunidades) e os vectores de dispersão que obrigam ao estabelecimento de contratos para evitar a desagregação irreversível (sociedades). Neste quadro de entendimento, que cruza a etologia (estudo do comportamento animaI) com a civilização, fruto da cultura humana, das regras adoptadas, dos costumes e tradições, os legisladores cumprem uma missão polivalente. Substituem a paternidade que não soube transmitir os valores que permitem a vida colectiva e interpretam o conceito de idealismo existencial, através do qual o respeito pelo próximo estaria salvaguardado pela acção individual. A nova lei, em vigor desde janeiro de 2015, estabelece coimas para utentes que demonstrem determinadas faltas de civismo ou incomodem outros passageiros. No meu entender, o âmbito de aplicação da lei deveria ser alargado a outros espaços públicos onde os indivíduos incomodam os seus concidadãos. Não é apenas na Carris ou nos Táxis que os fenómenos de mau comportamento se registam. Já sei que qualquer tentativa de ordenamento do território comportamental deste país choca de frente com os activistas das liberdades fundamentais, os obreiros do 25 de Abril, os pais da Democracia, aqueles que acham que a sua liberdade não pode ser condicionada por o que quer que seja, os delfins intransigentes de uma Esquerda questionável, libertários do Antigo Regime - aquele pau para toda a obra da desculpabilização política e sociológica. Enfim, um espectro alargado de gente que muito provavelmente não vê mal algum num conjunto de comportamentos primários que polvilham a paisagem deste país. A saber; os telemóveis que tocam incessantemente e que são atendidos (e a conversa que se segue em voz alta em pleno concerto de música clássica no CCB); o uso da faixa de emergência na via rápida para fugir à fila demorada ocupada por condutores que respeitam o código de estrada; as escarretas lançadas à porta da entrada do hospital; as beatas atiradas da janela de um terceiro andar para o passeio já de si manchado pelos dejectos de cão alheio (coitadinhos dos animais, criem mais uma petição) ou o cliente-amigo no balcão dos Correios que não tem senha porque apenas tem uma perguntinha a colocar e não demora nada (e passa à frente do freguês). Em suma, nos transportes públicos acontece muita coisa, mas se buscarmos a objectividade na análise do fenómeno do mau comportamento, não é preciso ir muito longe. Não sei se a lei funcionará nestes domínios de ética, porque em última instância o que impera é a tese voluntarista - ou se é educado ou se procura sê-lo.
Sem excepções, e diariamente, atravessar uma passadeira na cidade de Lisboa é um martírio. O total desrespeito pelos peões diz muito sobre o modo como o cidadão trata o seu concidadão. E pouco importa que as posições sejam revezadas - o mesmíssimo peão, que há instantes quase foi atropelado na passadeira, será o condutor seguinte a colocar em perigo a vida de outrém. Este estado de alma nacional tem muito a ver com as causas da crise, do descalabro. Tem a ver com a ideia da obtenção de vantagens sobre o semelhante. Tem a ver com atribuir maior importância à vida de uns em detrimento de outros. Tem a ver com a distorção do conceito de democracia. Tem a ver com a ditadura e a liberdade que residem no espírito de cada um. Tem a ver com a pressa de chegar a parte alguma, a um destino que pouca diferença faz. Animais. Zebra - superior no seu estado selvagem.
Cada vez que me faço aos passeios da bela cidade de Lisboa tenho medo de atropelar os carros estacionados sobre a calçada. Realmente é um perigo. A cada esquina podemos ferir com gravidade uma viatura. Ainda há dias cruzei-me com uma carrinha que havia sido abalroada por um carrinho de bebé. O automóvel ficou ferido na vista. De certeza que precisará de um oftalmologista. O olho esquerdo, junto ao queixo do Peugeot, ficou deficiente. Pela redacção desta peça jornalística luminosa, até parece que a questão dos atropelos tem mais a ver com o comportamento dos peões na estrada do que os condutores. O secretário de Estado afirma: "Quando verificamos que há 14 atropelamentos por dia em Portugal, percebemos que temos que dar a atenção a esta matéria, aos comportamentos que os peões adoptam nas estradas e aos comportamentos dos condutores em relação aos peões". Ou seja, segundo o responsável pela pasta, anda tudo trocado, incluindo o conceito de trânsito e circulação nas estradas - os peões andam na estrada? Não sei se andam. Só sei que cada vez que me ponho ao volante assisto à loucura nacional em forma de aceleras em total desrespeito pelo código de estrada e das normas de comportamento de uma sociedade em movimento. O salve-se quem puder reside na estrada. Os portugueses andam sempre a acelerar para o próximo semáforo fechado. Os condutores nacionais têm tanta pressa de chegar ao trabalho, mas não sei se têm mais vontade de se pôr a caminho, de largar o serviço se ainda tiverem a sorte de ter carro e emprego. Também não sei se trabalham rapidamente e mal nos empregos. Também não me interessa. Não é disso que aqui falo. Cada vez que não saio de carro (na maior parte dos casos) tenho um medo que me arrepio de utilizar uma passadeira. Não interessa quem vem ao volante do carro em leasing, se uma jovem mãe com o recém-nascido no lugar do morto, ou um taxista a quem deveriam trucidar a carta de condução - o perigo é constante, o inimigo é público. Não interessa qual a faixa de rodagem em questão - o comportamento é idêntico. Os peões também são uns artistas. Querem lá saber se está vermelho ou não, toca a atravessar a rua movimentada. Tudo isto somado ou subtraído, pode não parecer grande coisa, mas reflecte o profundo desprezo pelo valor da vida. Todos os dias vejo cenas com Sennas de terceira categoria a procurar a pole-position, a competir de igual para igual com um outro desgraçado e pergunto porquê? Querem demonstrar o quê? Que o meu pode ser mais barato que o teu, mas é mais rápido? Não sei a resposta para este flagelo. Talvez possamos perguntar a alguém no cemitério mais próximo.
Se as palavras ainda valem o que valem, as frases que resultam delas devem servir para revelar uma determinada intenção. Nesse caso, resta-nos interpretar cuidadosamente a mensagem que nos mandam para tentar extrair significados profundos. Quando Cavaco afirma que a única relação que manteve com o BPN foi na qualidade de depositante, soa a Bill Clinton quando jurou a pés juntos que não se enrolou com a Monica Lewinsky. "I did not have checks with that bank" - seria mais ou menos assim se fosse traduzido para linguagem de depósito a prazo -, mais juro menos juro. Mas prestem atenção. Há aqui palavras-brinde metidas na conversa como quem não quer a coisa. Como se fosse um fait-divers - en passant. O presidente da república parece se servir da condição de professor para atenuar as agravantes. "Estão a ver. Eu até era um desgraçado professor que foi a esse... como se chama o banco? Isso - BPN -, guardar os meus trocos, as minhas pequenas poupanças" - a miséria ganha por um docente. Cavaco Silva, ao afirmar que estava ocupado academicamente, parece que o faz para poder dizer que "tinha lá tempo para andar metido em esquemas de dinheiros". Depois, ao não responder à letra a Mário Soares, que o intimida a comparecer em tribunal, provavelmente fá-lo para ver se a coisa acalma. Se Cavaco irrita Soares, está o caldo entornado - este ainda vai buscar umas pastas que devem andar por aí perdidas em arquivos e fundações convenientes. Mas regressemos ao espírito e à letra da troca de galhardetes. Cavaco, que estará no mesmo estado avançado em que se encontra Soares, dentro de muito pouco tempo (reformado, pensionista e mais ou menos gágá), ainda lança umas indirectas que podem ser resgatadas por entendedores de meias-palavras. Quando Cavaco vem com aquele floreado que o povo de Portugal deve estar reconhecido pelo papel de Soares no processo conducente à adesão às Comunidades Europeias, no fundo, e trocado por miúdos, está a dizer que quem nos meteu nesta alhada há muitos muitos anos foi o amigo Soares. É subtilmente cínico, mas não passa despercebido. No meio disto tudo, só acho desonesto que a troca de galhardetes envolva a casa civil. De civil resta muito pouco. Parece que Soares tem enviado as reclamações por correio azul para essa casa em Belém. Claro está que a resposta que os portugueses exigem nunca chegará à barra do rio Tejo, quanto mais à barra do tribunal.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa pode apresentar-se "durante cerca de duas horas e perante uma plateia cheia de caras conhecidas da política à cultura" para fazer o balanço de quatro anos de mandato, e vangloriar-se deste e daquele feito, mas em abono da verdade, quem deve proferir palavras de congratulação ou de crítica são os residentes da capital. Teria sido mais imparcial se fosse um colégio de moradores a fazer o relatório; a expressar se a vida na capital melhorou ou não. Se apenas ouvimos a parte "orgulhosa" da obra feita, e descuramos os destinatários finais da execução camarária, nunca saberemos objectivamente o que pensam os contribuintes IMIdiatos. As caras conhecidas da política e da cultura não vivem na cidade. Residem num espectro que faz parte do imaginário dos outros que vivem na grande Lisboa, muito perto da fronteira da indignidade. Os ilustres, identificados nessa plateia de notáveis, não se servem dos transportes públicos, não fazem uso de uma bicicleta, do magnífico corredor verde recentemente inaugurado, e provavelmente não recolhem os dejectos dos seus cães que os seus empregados levam a passear. A casa cheia que o escuta, não é o povo da sardinha em riste. Aqueles que o aplaudem não são os almeidas e os calceteiros que sustentam as pisadelas e o lixo dispensável. O que constato, nestes anos de mandato de António Costa, é uma certa pompa e circunstância na inauguração, uma certa vontade de querer transformar Lisboa numa metrópole moderna, mas as obras parecem não obedecer a um plano conceptual de longa duração, a uma ideia sociologicamente relevante. Vejo muitos equipamentos a reluzir no dia de abertura, para, volvidos poucos meses, a sua manutenção ser abandonada. Vejo muita coisa que soa a falso alarme; eventos que criam um efeito de dinâmica até à seguinte vernissage, até ao seguinte radar avariado. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa apenas fala do hardware, das viaturas que dispensou, dos muros que levantou e dos dinheiros por vencer. Mas não consegue mexer no mais complexo - o cultivar de uma mentalidade cosmopolita, civilizada. Como se trata do estacionamento de carros sobre os passeios ou em segunda fila? Como se trata o péssimo hábito de cuspir sobre a calçada? Como se ensina a não fazer ruído? Como se sugere eventos interiores, geradores de calma, da alma, quando a maior parte dos eventos in acontecem out. Sei que existe aquele programa através do qual os residentes na capital podem sugerir soluções, mas no meu entender parece ser um canal aberto de sentido único - um eco-ponto para a recolha das ideias dos outros. Naquele palco de apresentações o que deveria ser partilhado com a elite seriam as verdades inconvenientes. Se nos basearmos apenas no testemunho de uma das partes envolvidas seremos levados a pensar que Lisboa não tem problemas graves. E sabemos que isso não é verdade. Conveniente, não é?
Ontem cansei-me de prazer, do meio da tarde até ao começo da noite, caminhando pelas ruas do meu Porto. De comboio até São Bento, depois subindo a 31 de Janeiro, com uma cena de 'civismo' a empatar o percurso do eléctrico, Santa Catarina, Aliados, Mousinho, Ribeira, e, para findar, travessia da Luíz I para o lado de lá, Gaia, que, na verdade é o meu lado de cá, onde um autocarro veio mesmo a jeito. Éramos seis. Filhas, esposa, irmã mais nova, sobrinho. Especámos a olhar para as montras das lojas mais tradicionais no Bolhão, os queijos, os Barca Velha, os frutos secos, os enchidos, um olhar à Charles Dickens. Não me foi pago o subsídio de desemprego, não há Natal.
O post de João Quaresma no "Regabophe", coloca-nos perante a questão fundamental quanto ao (in)sucesso das sucessivas delegações portuguesas aos Jogos Olímpicos. Se procedermos a um sucinto trabalho de pesquisa, não tardaremos em concluir que os países mais medalhados em termos mais abrangentes de todas as modalidades - ou das mais importantes -, são exactamente aqueles que têm uma longa tradição no campo da educação física. Assim, não é estranho que a Alemanha, a Inglaterra e a generalidade dos países do norte da Europa consigam grandes feitos nas mais prestigiadas provas, desde a natação á ginástica, esgrima e atletismo. É um trabalho de formação cultural de gerações e neste domínio, o nosso país ainda está ainda na infância. Todos os recursos disponíveis são aparentemente dedicados ao futebol, actividade que se tornou numa indústria onde os interesses políticos e económicos são dificilmente destrinçáveis do desporto. A alienação é por demais conhecida para procedermos a mais comentários, mas nesta matéria, apenas desejo deixar algumas questões para os especialistas.
1. Porque razão, sendo Portugal um país com escassos recursos financeiros, foi permitida a construção de uma enorme quantidade de novos estádios de futebol, onde não existe qualquer possibilidade da sua utilização e aproveitamento para outros desportos? Assim, não seria possível reconverter alguns dos menos utilizados - o Estádio do Algarve, por exemplo - para a prática ou estágio de outro tipo de competições? Seria então possível propiciar melhores condições de treino, isolamento e concentração dos atletas, racionalizando-se recursos, entre os quais o tempo não é factor menosprezável.
2. As provas olímpicas deixaram há muito, de ser fruto da "carolice" deste ou daquele fulano, ou do amadorismo de uns quantos obcecados por medalhas. Tornaram-se num vital assunto de prestígio para as nações, de promoção de países e da sua clara visibilidade em termos globais. Desta forma e adequando os recursos financeiros às especificidades/capacidades físicas das gentes, não nos surpreende observar como a Etiópia - país com mutíssimas mais dificuldades financeiras que Portugal -, arrecadar uma honrosa colecção de medalhas de ouro olimpíada após olimpíada. O mesmo se poderá dizer do Quénia, Zimbabué (!), Jamaica, Trinidad e Tobago, Eritreia, Cuba,, etc. Esta lista torna-se demasiadamente embaraçosa e quanto a isto, o C.O.P. deverá ser chamado às suas responsabilidades. Na verdade, estas modalidades obedecem a critérios muito rígidos de profissionalismo e total concentração, não sendo estranha a presença constante de instrutores/psicólogos que acompanham os atletas caso a caso. Tem sido investido muito dinheiro público na preparação de atletas, mas tal não é suficiente para o êxito nas grandes competições, porque salta à vista a falta de preparação psicológica da nossa gente, alastrando este problema ao próprio "menino de ouro" do desporto nacional, o futebol: nos momentos cruciais, verifica-se o curto-circuito e um súbito e incompreensível desmoronar da vontade. A propósito desta última palavra, lembremos o título que Riefenstahl deu ao seu filme dos Jogos de Berlim, ou seja, "O Triunfo da Vontade". É disto mesmo que se trata.
3. A educação física. É certo que os portugueses de 2008 são bastante mais altos e robustos que os seus antepassados do início do século XX, mas muito há para fazer. Sem querer iniciar qualquer polémica acerca das características ou aptidões físicas dos indivíduos, temos de reconhecer que a constante e habitual prática de desporto inevitavelmente trará sensíveis transformações - e aptidões físicas - ás gerações vindouras. As aulas de Educação Física nas escolas sempre foram o "parente pobre" de todas as outras disciplinas e pecam sobretudo, por falta de tempo. Uma ou duas horas semanais são totalmente insuficientes para a formação do espírito de equipa e de vontades para a competição com outrem. Assim, percebemos o porquê da atenção dos regimes totalitários às organizações de juventude. No entanto, creio que em democracia poderíamos colher ainda mais benefícios de um melhor enquadramento das camadas mais jovens, pois a obrigatoriedade inseparável daquele tipo de regimes, seria na escola democrática, substituída pela negregada disciplina. A disciplina não pode ser encarada como repressão, fonte de abuso de poder e outras falácias dos agentes do politicamente correcto. Sem disciplina, não existe aproveitamento em qualquer matéria a leccionar e infelizmente, os senhores da Situação ainda não ousaram passar o Rubicão. A escola deve ser revista de forma global, desde a primária ou até mais cedo, instaurando-se de vez com a normalidade. Não existe no mundo país mais democrático que a Inglaterra, onde os alunos são identificáveis pelo uniforme, onde existem actividades extra-curriculares amplamente participadas e sobretudo, onde é possível incutir aquilo que foi e é o grande falhanço da república: o civismo. Reveja-se o que foi feito na África Portuguesa dos anos 50, 60 e 70 e poderão ter uma ideia do enorme progresso aí alcançado.