Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Vivemos em Portugal. Um país democrático. De vez em quando há eleições. Existem instituições que suportam o regime livre e impedem (algumas) tiranias. E o tempo. Bom tempo até no Inverno. Tudo coisas boas, principalmente o tempo.
E depois há o resto. E esse resto faz pessoas, como eu, de quererem emigrar.
Não falo da política de austeridade ou de governantes incompetentes e corruptos. Antes de um Relvas, um Sócrates, um Jorge Coelho, que usam e abusam do poder público que lhes foi dado para benefício próprio, quer tenha sido em negócios dúbios ou em melhoramentos académicos – e negócios dúbios, ó Miguel – que um Salazar.
Antes as falhas de uma democracia à perfeição de uma ditadura. Viverei de bom grado com deputados que não me representam por manifesta incapacidade minha de tentar perceber por que raio foram eles escolhidos, a habitar num país governado pelo próximo D. Sebastião que apareça prometendo o fim da balbúrdia. Confusão democrática acima de um “arrumar da casa” que nunca deu bons resultados. Com estes e estas que fazem um mal trabalhar a governar o meu país, no máximo, só tenho que esperar para os tirar de lá com votos e não com armas.
Democracia…sei lá, fica bem com o país.
O meu problema passa, em larga escala, a classe política. O meu problema é com a sociedade civil. Essa que é vista como a salvação do país face à crise. Essa que é vista como D. Sebastião a regressar do nevoeiro. Não se pode partir do princípio que esta é infalível, como não se pode partir do princípio que o privado é qualitativamente superior ao público. Note-se que não pretendo defender o sector público – este tem falhar e são falhas de todos – mas o privado não pode, nunca, ser consideradoperfeito. Aliás, é esta a concepção de perfeição que pode atingir patamares perigosos. Veja-se o exemplo dos julgamentos em praça pública. Qualquer capa de jornal mais sensacionalista provoca nas massas um veredicto sem julgamento. É mais difícil viver com uma sociedade que se move pela pequenez de espírito que pagar impostos injustificados, tolerar Relvas e companhia ou simplesmente ser governando por quem não merece esse posto.
Portugal é um óptimo país. É fantástico ser turista em Portugal. Mas cada dia que passa torna-se mais complicado ser português e viver por cá.