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Deixando de parte as cíclicas cretinices arrotadas em campanha eleitoral, o assunto das escadarias da Universidade de Coimbra, parece poder despoletar um caso. Segundo informações que já circulam pela net, existem projectos que visam a "modernização" de todo aquele espaço, com intervenções dos santarrões de regra e esquadro do regime. Geralmente chancelados com a benção de progressismo, servem o mesmíssimo fim daqueles que ingloriamente, vão de auto-estradas asfaltando Portugal de norte a sul.
"Diz-se que" em Coimbra existem estudos para uma radical transformação do espaço histórico já abusivamente alterado durante a 2ª República. Provavelmente, a via crucis que é a escadaria monumental, desaparecerá, tal como desapareceu aquela outra que a precedeu. Já se invocam nomes como Byrne, Souto Moura ou Siza. Enfim, o costume, está-se mesmo a adivinhar o que dali sairá. Uma quantidade de caixas de sabão de estreitinhas janelas rasgadas, tectos baixos, miserável minimalismo, toneladas de Pladur e muitos alumínios de vários tons. Nada que vá contra o politicamente correcto e aceite. Infalivelmente, já consta a construção de um "parque de estacionamento" no alto, bem no coração da velha Universidade. Era de prever, a obra de "remodelação" visará tão só, o empochar de dinheiro fácil, previsivelmente saído dos bolsos dos pais de uma geração que estando "à rasca", para a Universidade viaja a bordo da sua viatura.
Num país arruinado, Coimbra sofre dos mesmos males das outras cidades portuguesas. O centro histórico encontra-se pontilhado por uma grande quantidade de belos edifícios semi-arruinados, vazios e à espera de demolição. À beira rio e perto do renovado "jardim da ponte", idem. Casarões oitocentistas a caírem aos pedaços, lojas com correntes à porta e aqui ou ali, um imundo "edifício moderno", erguido com mais betão, mais Pladur e mais alumínio para a especulação.
Alguns alegam com a clara mensagem política que a escadaria monumental representa. É uma verdade, mas hoje apenas perceptível a quem tenha um mínimo conhecimento da história ou que se interesse pelos actos simbólicos de um regime já passado. A escadaria coimbrã, tem precisamente o mesmo significado que aquelas outras construídas em todo o planeta, desde a Mesopotâmia, ao Egipto dos faraós e impérios da América Central. A escadaria "de Eisenstein", em Odessa, foi construída durante o período czarista, mas sendo maravilhoso o aspecto cénico, logo foi copiada pelos adventícios soviéticos que a fizeram replicar por toda a URSS. Existem também no Memorial a Vítor Manuel II - a famosa e injustamente chamada "máquina de dactilografar" -, em Estalinegrado, na Berlim de Hitler e dos seus sucessores do SED, na Roménia pós-Miguel I, na China, em Piong-Iang, na democratíssima Paris do Trocadero ao estilo Speer e até, pasme-se, na Federal Reserve USA. Foi um estilo, uma época. Há uns anos, João Soares quis construir um a espécie de teleférico que arrasaria uma boa parte da encosta do Castelo de S. Jorge. Era a sua "escadaria" das novas tecnologias.
Não valerá a pena perdermos muito tempo com explicações acerca do porquê desta mania das escadarias, impróprias para o conforto de quem queira atingir um ponto situado num dado local. Vencer a natureza cheia de difuldades topográficas, o atestar da força da vontade de um sistema, o querer estar mais perto do céu? Tudo isto é possível e até adaptável aos pontos de vista das gerações que se vão sucedendo na ocupação do espaço.
De uma coisa estaremos bem cientes. A menos que este empobrecido país cometa mais loucuras, as escadarias lá continuarão por muito tempo. O mesmo não poderemos dizer da CDU ou de qualquer um dos Partidos que preenchem a nossa actual paisagem política.