Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Há poucos minutos atrás vi e ouvi Odete Santos, em plena RTP Informação, afirmar, com uma candura estelar, que o regresso ao escudo permitiria pagar as pensões e salários dos trabalhadores portugueses, dando, com isso, aos governantes nacionais a possibilidade de evitar as bancarrotas que têm sido a imagem de marca deste regime. Sim, Odete disse isto. Sim, Odete não habita na mesma galáxia do comum dos terráqueos. Alguém que diz que com o escudo "nunca haveria bancarrota" é alguém que é, no mínimo, intelectualmente desonesto. No caso de Odete Santos, prefiro pensar que as afirmações anteriormente mencionadas fazem parte de um ensaio para uma peça de Gil Vicente, habilmente encenada por algum amanuense carente de trabalho subsidiado pelos contribuintes. Recuso-me a acreditar que haja tanta ignorância económica junta numa só cabeça. É que, ainda que o comunismo nacional nos tenha habituado a tudo, ouvir dislates deste jaez torna-nos, de certo modo, permeáveis a todo o tipo de doenças cardíacas. Não há coração que resista, acreditem.
Ando há 10 anos a insurgir-me contra várias situações ilegais, ilícitas ou injustas. Primeiro na escola, depois na universidade, mais recentemente em relação a partidos políticos e à actuação de governos e da administração pública, várias vezes recorrendo ao instrumento da denúncia pública. Algumas destas situações até foram bastante badaladas, como a denúncia relativa à actuação do governo PS na primeira edição do PEPAC, a denúncia quanto ao funcionamento da FCT na atribuição de bolsas de doutoramento e, mais recentemente, esta que hoje o Público divulga, em relação ao teste de cultura geral para a admissão à carreira diplomática. Às vezes chego a perguntar-me se sou eu que atraio este tipo de situações, pois que já aconteceu vislumbrar, ainda à distância, o que vai acontecer e como isso vai obrigar-me a fazer algo. É certo que a procura da justiça está inscrita na minha alma, mas recuso-me a assumir qualquer papel de paladino. O mundo já está cheio destes - embora normalmente recusem olhar-se ao espelho e reconhecer os seus próprios falhanços morais. Se algum dia me perguntarem por que me dou ao trabalho, responderei apenas que estava aborrecido. Parece-me uma motivação tão boa como qualquer sentimento de revolta, além de ter mais piada e permitir aliviar o estado de espírito de quem se dê ao trabalho de me ler ou ouvir. Afinal, como assinalou Chesterton, há que manter a comicidade em face de qualquer tragédia.