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O segundo confinamento e o ensino (II)

por Nuno Resende, em 21.01.21

Se o governo toma decisões aos bochechos por causa do mau aconselhamento dos cientistas que participam nas reuniões do Infarmed, ou ao sabor da opinião pública e dos comentadores de serviço, em qualquer dos casos talvez devesse parar para avaliar da sua função, autoridade e utilidade. Um governo que, numa semana diz que não fecha o comércio todo, depois fecha o comércio todo, que não fecha as escolas, depois fecha as escolas, só pode ser um caso grave de saúde mental.

E ao ouvirmos o presidente da república dizer que se pensava que a pandemia acabava em Outubro de 2020, temos completa esta nave dos loucos.

A vacina chegou primeiro que a noção a Portugal, infelizmente continuará facultativa  e circunscrita a um grupo reduzido de indivíduos - o que significa que nada ou muito pouco adiantará numa população maioritariamente não vacinada e sujeita ao contágio e disseminação do vírus (de que adianta fechar as escolas hoje, amanhã e depois, se o vírus continuar nas salas de aula?). Não custaria menos vacinar pelo menos 80% da população do que sujeitar o país a uma crise económica sem precedentes?

O que é pena é que entre tantos cientistas, comentadores televisivos, peritos em epidemiologia e saúde pública, nenhum tenha a coragem de nos dizer que não, não vai ficar tudo bem e que este segundo confinamento há-de ser um de muitos que no futuro ainda hão-de acontecer.

  

  

publicado às 19:30

Breve apontamento sobre o caso Sócrates

por Samuel de Paiva Pires, em 27.11.14

E nem sequer é para falar sobre Sócrates e os crimes pelos quais está a ser investigado, mas sim para notar que, da generalidade dos jornalistas a comentadores como Sousa Tavares e Clara Ferreira Alves, dos indefectíveis socráticos a Mário Soares, passando pela Bastonária da Ordem dos Advogados, outros intervenientes no espaço público e até alguns populares que têm aparecido na televisão literalmente a chorar por Sócrates, boa parte do país parece ter sido acometida por um histerismo tão deplorável quanto risível, mas que me leva a retirar uma conclusão preocupante: temos demasiadas pessoas com responsabilidades políticas e públicas, demasiados comentadores e intervenientes no espaço público cuja cultura democrática deixa muito a desejar.

 

Basta atentar na visível irritação de Mário Soares à porta do Estabelecimento Prisional de Évora e na sua posterior entrevista a Constança Cunha e Sá para perceber que o conceito de democracia do ex-Presidente da República é, no mínimo, dúbio e assenta mais no amiguismo que na igualdade perante a lei e a separação de poderes (afinal, como diria Jorge Coelho, "quem se mete com o PS leva"). Ou um exemplo ainda melhor, aquele momento, há alguns dias, em que Pacheco Pereira explicava a Sousa Tavares que a igualdade perante a lei em termos abstractos não substituía a desigualdade material, já que Sócrates é uma pessoa influente e poderia tentar destruir provas e influenciar a investigação caso não fosse detido preventivamente, ao que Sousa Tavares respondeu com uma absurda afirmação de que Pacheco Pereira estava a partir do pressuposto que Sócrates era culpado, mostrando assim como lhe escapam (a Sousa Tavares) as mais elementares regras de lógica e/ou qualquer noção de democracia que não se coadune com a sua lendária falta de isenção.

 

No meio do histerismo, os líderes da coligação governamental e o líder da oposição mostram ser dos poucos a ter um mínimo de bom senso, não deixando que a amizade ou inimizade por Sócrates lhes tolde a mente. De resto, não só não entro na barricada dos que pensam que o regime está em risco - se há algo que o passado recente do nosso país nos mostra, é que, pelo menos, algumas instituições estão a funcionar como se espera num regime demoliberal -, como também não me atrevo a vaticínios sobre o futuro próximo do PS e o embate eleitoral do próximo ano. Como explicava Manuel Meirinho ontem à noite, na RTP Informação, o tempo da política é muito curto. Daqui a umas semanas a detenção de Sócrates fará parte da normalidade quotidiana e deixará de ter interesse mediático, tal como já aconteceu com Armando Vara ou Ricardo Salgado. As eleições são apenas em Outubro de 2015. Tenham calma, que até lá muita coisa pode acontecer.

publicado às 09:17

Irresponsável e "sem noção"

por Nuno Castelo-Branco, em 10.09.12

Ainda por cá flana um perigoso vaudevilleiro, criatura de várias cabeças e dentro de cada uma delas, a mesma ambição de tons rosados e à beira rio. Nos últimos tempos anda uma fera, vislumbrando a  manjedoura por um canudo, pois a outrora dinástica instituição onde se refastelou, não lhe basta para docemente esgravatar a sarna até ao fim dos seus dias. Diz o que bem lhe apetece, é parte integrante do camorrismo em que isto há muito se transformou, estando ao televisivo nível de uma Júlia Pinheiro de calças e gravata. Existe a certeza de todos sabermos não fazer parte integrante do tal "mexilhão" a quem dominicalmente dirige as charlas e bem pelo contrário, tem sido um guloso comensal sempre de martelinho abre-cascas em riste. Do futebol à moda, da festinha de aldeia à pilha de livros que nunca leu e comenta em duas frases, não vai distância alguma. É aquilo a que se chama de irresponsável. Em todos os sentidos do termo. No fundo, não critica ou rejeita as fórmulas encontradas, mas apenas o modus operandi das mesmas. Um cata-vento.

 

Ora, isto não significa andarmos todos masoquistamente encantados com o constante esmifrar atribiliariamente decidido pelo poder do Estado. Do Estado, sublinhe-se. Poder do Estado que esmalta impostos, esquematiza mais taxas, corta nos parcos proventos do supracitado "mexilhão". O mesmíssimo Estado que tudo quer e de nada prescinde.

 

Já sem muita paciência, aguardamos as urgentes medidas que Pedro Passos Coelho tarda em anunciar. Essas mesmo que compreendem as PPP, as fundações, gabinetes de estudos de e para comparsas, cartões de crédito e ajudas de custo em benefício da nomenklatura, motoristas, viaturas, telemóveis, assessorias ad-hoc, escusadas rendas de prédios onde funcionam serviços públicos, reforma autárquica e do Parlamento - que co-responsabilize o PS, ficando todos cientes da sinceridade dos discursos de ocasião -, radical limitação sumptuária da Belém presente e passada, dos seus palatinos 500 assistentes, etc. Além disto, o primeiro-ministro deverá moderar alguns dos ímpetos de colaboradores que sem cessar demonstram a sua escandalosa imcompetência. Faça-o agora, o tempo urge.

publicado às 14:58

Do comentarismo de Constança Cunha e Sá

por Samuel de Paiva Pires, em 18.06.12

Há coisas que simplesmente acontecem sem que tenhamos percepção ou noção da sua causa. Os palcos dados a certos comentadeiros indígenas incluem-se neste lote. Nunca percebi, talvez porque nunca me tenha dado ao trabalho de investigar, de quem é que Constança Cunha e Sá é filha, aparentada ou amiga - para além do óbvio, que é do conhecimento público. Porque, verdade seja dita, no país dos fidalgos e fidalgas, o ser filho de algo e a Dona Maria da Cunha continuam a ser as melhores formas e os mais rápidos atalhos para singrar no espaço público, onde a valorização do mérito é, não bastas vezes, relegada para as calendas gregas – embora seja propagandeada por quem não se coíbe de vociferar em nome do mérito, ao mesmo tempo que pratica o nepotismo e o amiguismo.

 

Não gosto nem nunca gostei do estilo de Constança Cunha e Sá. Aquela quantidade de tiques e tremeliques, a voz irritante e a exasperante mania de interromper e condicionar constantemente os seus entrevistados e convidados não a tornam, de todo, recomendável a quem aprecie bons comentários políticos. Mas o que faz com que não lhe dê crédito algum é mesmo a sua confrangedora capacidade intelectual. Tudo ali é achismo sem substância, ao sabor do vento e dos tempos que passam.

 

Vem isto a propósito da afirmação que a ilustre comentadora proferiu ontem: «Nunca vi um primeiro-ministro tão mal preparado.» Sou insuspeito nesta matéria, pois frequentemente critico o governo e Passos Coelho. E embora também creia que há assuntos nos quais o Primeiro-Ministro poderia ser/estar melhor preparado, é preciso ser muito desonesto intelectualmente para proferir uma afirmação destas depois do país ter sido politicamente abalroado, financeiramente arruinado e moralmente esmagado pela arrogância, falta de educação e incompetência gritante de José Sócrates. Passos Coelho não é, certamente, um intelectual ou um académico. Mas é inegavelmente superior a José Sócrates, desde logo porque parece ser um homem minimamente sério, e dados os constrangimentos a que estamos sujeitos, isso é de suprema importância para o processo de recuperação da credibilidade externa do país. Como escreveu há tempos o Miguel Castelo-Branco, «Passos Coelho, pelo menos, não está indiciado em terríveis casos de roubo organizado, não fugiu para o estrangeiro e tenta, talvez tolamente, ser fiel ao seu fardo.»

publicado às 12:57

Do primarismo de certos politiqueiros e comentadeiros

por Samuel de Paiva Pires, em 12.06.12

O primarismo futebolítico de certo comentadorismo politiqueiro blogueiro-facebookeiro-twitteiro é revelador quanto baste de como os mentecaptos não têm noção do ridículo. E contribui, também, para confirmar aquela primeira lei fundamental da estupidez humana enunciada por Cipolla: "Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que há no mundo."

 

Estou cada vez mais como o João Gonçalves: "Por razões de economia estética e afectiva, decidi andar mais acompanhado por livros do que por pessoas."

publicado às 21:27

Manual para paineleiros e comentadeiros dos tempos que correm

por Samuel de Paiva Pires, em 29.03.11

 

Moderador/entrevistador (M/E): Qual é que acha que é o principal problema dos nossos tempos?

Paineleiro/comentadeiro (P/C): A crise de valores.

 

(M/E): Que valores?

(P/C): Os valores de uma sociedade justa, igualitária e fraterna.

 

(M/E): E o que provocou essa crise? 

(P/C): O neo-liberalismo e o capitalismo selvagem.

 

(M/E): Mas como é que resolvemos essa crise?

(P/C): Através de uma mudança de mentalidades.

 

(M/E): Mas precisamos de mudar para o quê?

(P/C): Para um novo paradigma económico, político e social.

 

(M/E): E como é que vamos conseguir chegar a esse novo paradigma?

(P/C): Através de uma mudança de mentalidades.

 

(M/E): Mas mudar em relação ao quê? 

(P/C): Ao neo-liberalismo e ao capitalismo selvagem.

 

(M/E): E mudar em direcção ao quê? 

(P/C): A uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

 

(M/E): Mas porque é que precisamos de mudar? 

(P/C): Porque há uma crise de valores. 

 

E aí por diante, é fazer as combinações que se quiser. Panem et circenses para pseudo-intelectuais, tautologia style.

publicado às 22:41






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